Eu tenho estado a assistir às peripécias recentes envolvendo os bancos e o sistema financeiro português com o seguinte sentimento: "É o falhanço simultâneo e conjunto do Mercado, enquanto sistema de afectação dos recursos, e do Estado, enquanto actor e regulador desse sistema".
Ao mesmo tempo que reflicto sobre as múltiplas dimensões da mensagem de S. Francisco de Assis, o Alter Christus, o Santo acerca de quem Dante, ele próprio um franciscano, escreveu na Divina Comédia: "Nasceu um sol para o mundo".
Há uns anos passei acidentalmente por uma escola primária perto de Entre-os-Rios, nos arredores do Porto, que tinha a seguinte mensagem gravada a pedra na frontaria (cito de memória): "Esta escola foi contruída em 1932 com a ajuda do Estado".
Fiquei a pensar a quem pertenceria aquela escola na altura em que foi construída. Certamente que não a algum capitalista que nela tivesse investido o seu dinheiro para depois o recuperar em propinas cobradas aos pais dos alunos, numa localidade que era visivelmente pobre. Certamente que não também ao Estado, que tinha ajudado, mas não tinha feito a escola.
A quem pertenceria aquela escola, então?
À comunidade local.
O momento decisivo na vida de S. Francisco aconteceu quando Cristo lhe apareceu e pediu para ele restaurar a Igreja de S. Damião, em Assis, que estava ao abandono e em ruínas. Francisco começou por vender à socapa e a baixo preço tecidos que eram o negócio do pai, e que acabaram por o levar à ruptura com ele; depois, andou pelas ruas a pedir materiais e dinheiro e a congregar pessoas (pedreiros, carpinteiros, pintores, etc.) e, todos juntos - a comunidade de Assis -, sob a liderança de Francisco, acabaram por reconstruir a Igreja.
Convém acrescentar que Francisco, e a sua comunidade, não reconstruiu apenas a casa de Cristo. Construiu também ao lado uma casa para Clara - o Convento de S. Damião - que foi a primeira sede das Clarissas.
Entre as muitas mensagens da vida do Santo há pelo menos uma que possui um profundo significado económico ainda hoje - e, talvez, até, sobretudo hoje. Refere-se ao espírito de iniciativa económica que caracteriza o catolicismo e que Francisco tão bem interpretou.
É um espírito de iniciativa económica que se distingue daqueles que evoluíram das duas grandes heresias modernas - o calvinismo e o luteranismo - e que se exprimem no capitalismo e no socialismo. No capitalismo, o espírito de iniciativa é individual e centrado no indivíduo. No socialismo é colectivo e centrado no Estado.
No catolicismo, é comunitário.
6 comentários:
mas olhe aqui , PA , uma das esganiçadas é uma grande proprietária e empresária :) pagará tudo o que é imposto? será que defende legislação que a favoreça? o jornal de regime não estará interessado em investigar se tudo é rigurosamente cumprido? Belo turismo rural , o da Catarina Martins.
esqueci o link do latifundio :) é este :
http://logradouro.pt/palheirosdocastelo/pt/
Como se fez a escola primária mais bonita de Portugal.
http://www.vortexmag.net/a-escola-primaria-mais-bonita-de-portugal/
PA...acha mesmo que faz sentido esse comunitarismo inerentemente castrador?
Como assim, castrador?
“O Senhor Doutor Pedro Arroja foi visitar uma aldeia”, assim se podia chamar uma redação da segunda classe. Vamos lá.
O Senhor Doutor Pedro Arroja. Viu uma escola numa aldeia e uma placa, e não sabe que a imensa maioria das escolas do país, seja primárias ou secundárias, foi mesmo paga pelo Estado e que aquela era só uma excepção, e que os professores do país e funcionários das escolas são pagos pelo Estado. Curiosamente, ainda ninguém na sua caixa de comentários deu conta disto. Concluo que estudaram todos na tal escola comunitária.
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