A família
Zequinha tinha um problema dos diabos, a casa estava infestada por ratos.
Tantos que era difícil controlar tal peste.
O pai Zecão e a
mãe Zecona lamentavam-se amarguradamente
do dinheiro que gastavam em ratoeiras e pesticidas, que bem fazia falta para
outra coisas. O menino Zequinha ouvia estas lamúrias e pensava em soluções
mirabolantes, “a better mousetrap” – por assim dizer. Tudo hiperbolizado por aquela
esperteza tuga das anedotas :-).
A brincar, a
brincar, o menino Zequinha encontrou, porém, uma solução. Tão simples que era
um verdadeiro ovo de Colombo. A família só tinha de comprar uma jiboia, como
pet, e deixá-la jiboiar pela casa, a fazer o que as jiboias adoram fazer que é
caçar e comer roedores.
O Zecão e Zecona não estavam muito de acordo
porque depositavam pouca confiança nos répteis, mas perante a capacidade
persuasiva do Zequinha, alinharam. Compraram uma jiboia ainda pequerrucha, logo
batizada de Zecoia, e largaram-na pela casa.
O menino Zequinha
tinha convencido os pais de que a parceria com a jiboia traria beneficio mútuo
para a família e para o animal. Era uma espécie de troca de serviços num
mercado livre interespécies. A caça aos ratos era uma especialização laboral da
jibóia que, por troca, libertava recursos da família Zequinha para outras
actividades. Em vez de gastar em ratoeiras e pesticidas, a família passaria a
investir no pomar e os dividendos daí obtidos mais do que dariam para os gastos
com a Zecoia.
Fantástico,
pensaram todos. O menino Zequinha é um génio, pese embora ter-se inspirado nas
ideias de outro génio do passado chamado Zicardo. O mercado não é um jogo de
soma zero!
Os anos passaram
e tu do corria de feição. Os ratos desapareceram, a família prosperou com a
exploração do pomar e a jibóia engordou, e engordou, e engordou. Até atingir os
100 quilos de peso. Minha nossa, era um luxo aquela jibóia e o olhar agradecido
do bichano derretia o coração de todos.
Um dia, porém,
uma calamidade aconteceu. Quando chegaram a casa, o Zecão e a Zecona aperceberam-se
do pior, a Zicoia tinha esmagado e engolido o menino Zequinha. Como tinha sido possível?
A jiboia
aproveitou-se dos benefícios da vantagem competitiva que lhe advinha da sua especialização
laboral, cresceu, engordou, e, por assim dizer, comeu o menino que a trouxe
para a família. Triste sina a do Zequinha, uma ideia que parecia tão boa.
4 comentários:
Falácia da composição.
um problema de natalidade :) não deviam ter deixado os ratos acabaram-se se não estavam a pensar matar, esfolar , aproveitando a pele, e comer a jiboia às postas assadas.
Ps) nada como um céebro feminino para aproveitar tudo de forma prática ãh , Joaquim?
assinado: dona de casa do medina carreira :)
O mercado livre é um conceito, logo não ameaça. Só existe enquanto os homens quiserem que exista.
O mercado livre é sem regras. Mas para existir e funcionar correctamente (entre os homens) tem de ter regras, só que os homens que o controlam, fazem com que as regras sejam a seu favor para puderem beneficiar o mais possível.
Penso que não devemos culpar um conceito “o mercado livre” que de “livre” não tem nada, nem nunca pôde ter, nem nunca poderá ter, pelos actos que os homens cometem.
A
Jibóia será sempre Jibóia. Esquerdalhada será sempre Esquerdalhada.
Alguém há-de fechar a porta. Ou será hádem?
Eu não escrevi que os programadores das caixas de comentários são um pouco menos que bestas?
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