31 março 2017

Clara e Francisco

É numa linha finíssima como aquela que existe entre o homem que se realiza plenamente abdicando voluntariamente de toda a propriedade privada e aquele  que pretende impor a abolição da propriedade privada a todos os outros que são traçadas as fronteiras da civilização

E é nessa linha finíssima - a de uma mundo com propriedade privada e um outro mundo sem ela -, que é a linha divisória entre a ordem e o caos, entre a paz e a violência, entre a civilização e a barbárie, que a Igreja está sempre presente.

Encontramo-la em muitas outras situações, e aquela que imediatamente me ocorre inspira-se em notícias vindas recentemente a público na comunicação social portuguesa acerca da qual a posição da Igreja é: homossexuais sim, relações homossexuais não (Catecismo: 2357-9).

A melhor descrição curta que conheço do amor entre Francisco e Clara é esta. A fonte é também credível porque o autor, Leonardo Boff, é, ele próprio, um fraticelli - um ex-frade e teólogo franciscano.

É claro que a curiosidade popular há muito que especula sobre a natureza desta relação, e eu gostaria de perder uns segundos com ela.

Não, não houve sexo. Conheceram-se ela tinha 18 anos e ele 29. Ela era de uma beleza deslumbrante. Mas é seguro que ela fugiu de casa virgem para os braços de Francisco e morreu virgem.

Porquê?

Porque, se tivesse havido sexo, ambos tinham regressado ao mundo de onde haviam decidido sair. Como não regressaram é porque não houve sexo.

E teriam tido uma excelente vida nesse mundo, ele vinha de uma família abastada, e a família dela era rica e nobre. Mas ainda assim tinha sido, para ambos,  uma vida vulgar. Ora, vulgares é que este homem e esta mulher não eram.

Pelo contrário, tratava-se de duas personalidades absolutamente fora do vulgar que tinham em comum a mesma inspiração na figura que mais encorajou, em toda a história da humanidade, um homem ou uma mulher a realizarem plenamente a sua personalidade, independentemente do que os outros pensassem acerca deles - Cristo.

A questão que pretendo aqui tratar é, porém, a seguinte:

Por que é que Clara moderou Francisco, como é que ela impediu que ele próprio se tornasse um fraticelli, um adepto de uma causa que, na altura como hoje, é uma causa extremamente fracturante - a abolição da propriedade privada?

Por causa do grande amor que ele tinha por ela.

Ela pertencia a uma família muito rica e, embora a família não estivesse  em bons termos com ela, ela nunca aceitaria que a família sofresse por causa dela. E era isso que teria acontecido se os fraticelli tivessem prevalecido.

Francisco sabia que Clara nunca aprovaria a abolição da propriedade privada. Por isso, nunca deu esse passo.


4 comentários:

Ricciardi disse...

O Comunismo alcança a sua finalidade de uma maneira puramente coerciva, não se detêm nos meios empregados, nem sequer em atingir os que não estão de acordo. A base deste comunismo não é a liberdade como nas comunidades Cristãs, mas sim a coerção, não há amor que se auto-sacrifica, mas sim a inveja e o ódio...
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O Cristianismo não aceita a luta como meio de transformar a sociedade; ao contrário, ensina a reconciliação, o diálogo entre as partes, o acordo, o perdão, a compaixão etc. Para os comunas “os fins justificam os meios”, pode-se lançar mão da violência, da corrupção, do roubo, da falsidade e da morte para se implantar o comunismo; tudo é válido… tudo o oposto do cristianismo.
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Rb

marxistas vs franciscanos disse...

Apesar de tanto os franciscanos como os marxistas defenderem a abolição da propriedade privada, há entre os dois um mundo de diferenças.
Para os franciscanos o fim da propriedade é a condição para uma vida de pobreza; para os marxistas é a condição para sair da vida miserável e sujeita à exploração.
Para os franciscanos trata-se de uma opção pessoal e voluntária, para os marxistas trata-se de uma acção colectiva e determinada pela evolução histórica e social.
Para os franciscanos trata-se de uma exigência moral, para os marxistas trata-se de uma exigência, ou determinação, histórica.
Para os espiritualistas franciscanos a propriedade em geral é um mal, enquanto para os materialistas marxistas é o resultado da alienação do trabalho, sendo que o comunismo consiste na abolição da propriedade privada dos meios de produção (e não da propriedade em geral, ou da propriedade em abstracto).

Anónimo disse...

O brasileiro Leonardo Boff é um dos ponta-de-lança de teologia de libertação justamente condenada por dois Papas por advogarem a ideologia comunista e darem loas a países de ditadura comunista, como Cuba.

Pedro Sá disse...

Está a desqualificar FA...basicamente a dizer duas coisas:

1. Que o caminho necessário do seu raciocínio seria abolir a propriedade privada. O que sabemos não ser verdade.

2. Que FA não avançou no sentido necessário das suas conclusões por pura desonestidade intelectual tendo em conta lógicas pessoais.