safaram-se

É isto que não é aceitável em democracia.

Se um cidadão ou empresa se atrasa nos pagamentos ao Estado, é logo ameaçado com multas e penhoras. Mas aos decisores públicos, a esses ninguém lhes chega. São uma casta à parte.

Repare-se como o artigo é todo desculpabilizante (os orçamentos são curtos - mas qual é o caloteiro que tem orçamentos largos?).

A jornalista ainda fez uma tentativa para contactar o Ministério da Saúde, mas como ninguém respondeu, ela ficou-se por ali...os jornalistas, na sua maior parte, não gostam de afrontar o poder.

Os caloteiros safaram-se mais uma vez.

Imagine que era uma pessoa ou uma empresa conhecida a dever dinheiro ao Estado. Nada seria tratado jornalisticamente da mesma maneira.

A maior parte dos jornalistas são cúmplices dos abusos que o Estado comete sobre os cidadãos. Falta-lhes cultura democrática, de que um dos elementos principais é a coragem para afrontar o poder.

Agora uma consideração de ordem económica. O Estado, que pesa 50% na economia do país, é uma grande caloteiro. O que espera que se tornem os outros agentes económicos que compõem a outra metade da economia do país?

Um amigo meu em idade avançada, mas economicamente activo e vítima do Estado caloteiro, confidenciava-me há dias: "Isto só acontece porque o Estado tem metralhadoras que disparam 100 balas por minuto, enquanto que nós só podemos atirar com fisga. Porque se nós também pudéssemos pegar em metralhadoras, eles não faziam isto - ai não faziam, não".

Isto é o contrário da democracia, é o poder bruto do Estado contra o povo. A democracia é, se necessário,  o poder bruto do povo contra o Estado.

No dia das cerimónias fúnebres do Dr. Mário Soares, a quem chamam o pai da democracia, é caso para perguntar se foi esta a democracia que ele nos legou. Para mim não serve. É uma democracia em que o Estado dispõe do povo, quando a verdadeira democracia é aquela em que o povo dispõe do Estado.