02 janeiro 2017

pós-verdade

Tomás de Aquino definiu a verdade como a adequação do intelecto à realidade.

Se a parede é branca, o intelecto está vinculado - de facto, obrigado - a declarar que a parede é branca.

A pós-verdade não contém este vínculo ou obrigação.

O intelecto é desligado da realidade e passa a ser livre de declarar o que quer que seja, independentemente da realidade.

A parede é azul, cor-de-rosa, amarela, preta, ou esbranquiçada, consoante ocorra ao sujeito.

A pós-verdade é a liberdade de escolha em relação à realidade.

Tanto pode ser uma aproximação à verdade como uma rotunda mentira.

No caso de reunir um número suficiente de pessoas num grupo de pressão  com influência legislativa, pode ser decretada em lei.

A parede é azul, diz a lei (embora, na verdade, a parede seja branca).

Dizer que a parede é branca passa a ser crime.




1 comentário:

Euro2cent disse...

> passa a ser crime

Punível com uma taça de cicuta.

E esses se calhar já tinham ido buscar a ideia ao Gilgamesh, que por sua vez ...

(Francamente, quando é que mandar verdades cá para fora foi ocupação segura? O tougo do Adão bufou tudo, em vez de negar a pé firme, e cá estamos nós nisto ...)