Estive a reler o livro "Depoimento" de Marcello Caetano, publicado nos finais de 1974, já exilado no Brasil. No livro, ele dá a sua versão dos seus seis anos de governação (1968-74) do país.
O que é que havia de diferente na governação de um PM da altura, como Marcello Caetano (ou, antes dele, Salazar) e um PM de hoje?
O PM de então governava para a comunidade e tendo o bem-comum no espírito. Ele olhava de frente para as necessidades da comunidade e procurava satisfazê-las, condicionado embora pelas correntes de opinião prevalecentes.
O PM de hoje governa para a opinião pública, tal como ela se exprime na comunicação social, e as suas decisões são orientadas, não pelo bem-comum, mas por aquilo que os outros partidos lhe permitem fazer. Governa a olhar para o lado, para os outros partidos e para os jornalistas.
São os jornalistas, em sentido lato de modo a incluir também os opinion makers, que fazem a opinião pública, constituindo o chamado quarto poder. A eleição de Trump nos EUA, reduzindo a influência dos jornalistas na formação da opinião pública, permite, em parte, recentrar a governação no bem-comum.
Não surpreende que seja difícil encontrar um jornalista simpático a Trump. Ele comunica directamente com a população e está a tornar o jornalismo político obsoleto.
2 comentários:
O bem comum não é politicamente correcto.
Nem mais. Hoje "governa-se" para os telejornais.
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