16 março 2016

crónicas de um país soviético

Num país soviético, que não vou nomear, há cantinas que servem refeições a toda a população. As cantinas são financiadas pelo OE e custam cerca de 1.000,00 €/capita/ano.

Nesse mesmo país, os empregados das cantinas têm um subsistema especial que lhes permite escolher e recorrer a restaurantes privados. Para usufruírem dessa mordomia descontam 3,5% dos seus salários. O custo deste serviço é de 700,00 €/capita/ano; contribuindo cada beneficiário com cerca de 250,00 €/ano.

Claro que os empregados das cantinas também podem comer nas ditas, mas esse custo já está incluído nos 700,00 € referidos.

Alguns pontos prévios:

  1. O soviete beneficia deste arranjo porque poupa 550,00 €/capita (1.000 – 450)
  2. Sem o subsistema o soviete ficaria onerado em mais 550 M€

O sistema é justo?

  1. O sistema é ridículo. O cidadão comum vai para a bicha de bandeja na mão e os empregados das cantinas, em muitos casos, vão ao restaurante.
  2. E a malta não pode inscrever-se numa espécie de subsistema privado idêntico?

Na realidade não porque:

Os ordenados dos empregados das cantinas são muito superiores à média, daí terem disponibilidade para “o luxo”.
Depois de pagarem as refeições a 1000,00 €/ano, aos comuns, não lhes sobra carcanhol.

E por que não alargar a liberdade de escolha a todos? Por que não? O soviete pouparia e teríamos mais liberdade de escolha.  Mas há uns maduros a dizer que o subsistema não teria sustentabilidade. 

É um argumento falso porque todos os beneficiários podem sempre recorrer às cantinas e se o subsistema não tivesse sustentabilidade então que sustentabilidade teriam as cantinas, mais dispendiosas.

Qual é então o verdadeiro obstáculo?

É muito simples: o que é que iríamos fazer à malta que “trabalha nas cantinas”. São os empregados das cantinas que não querem alterar o sistema, pudera...

1 comentário:

Ricciardi disse...

Joachim, há várias nuances nesta estória.

A primeira tem a ver com o exemplo. Observar sistemas onde o sistema saude-seguro vigora para fazer a comparação dos benefícios para o 'consumidor' e para as contas publicas. O que constatamos ao observar o sistema gringo?
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Que o consumidor americano gasta quase o triplo da riqueza que produz para obter um serviço equivalente ao sistema de saude europeu.
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Para pagar o triplo o consumidor prefere o sistema público.
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Segundo, qualquer trabalhador do privado em Portugal pode subscrever seguros saúde... e abater as despesas de saude no IRS. Seria justo, então, que esse abatimento fosse maior nos trabalhadores obrigados a descontar para a Seg. Social (privados) e simultaneamente subscrevesse seguros.
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Terceiro, os empregados do estado não ganham mais do que os do privado. Nas profissões comparáveis, excluindo portanto aquelas profissões onde não há termo de comparação (juízes, militares, Procuradores, presidentes do BP, TC, etc), dizia, excluindo esses, só nas profissões de baixo nível ganham mais. Os profissionais de maior nível ganham menos. Isso pode ser visto no estudo do BP.
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Rb