26 fevereiro 2016

um conservador

Cristo não se pronunciou acerca de todas as questões da existência humana (v.g., eutanásia). Depois da sua morte, passou a competir à Igreja interpretar e exprimir o julgamento de Cristo acerca de cada nova ou velha questão que se põe à humanidade.

A Igreja fá-lo segundo o critério que Cristo teria usado - o do bem comum. E fá-lo, não segundo critérios de racionalidade abstracta, mas partilhando e observando a existência da humanidade em cada um dos recantos do mundo, através de seus representantes - os padres. (A Igreja não é nenhum Kant que se fecha em casa para apreender a realidade e que, sempre de casa, emite sentenças acerca de  como a humanidade deveria viver).

Quando a Igreja chega a um novo lugar - e hoje já não deve existir algum onde ela não tenha chegado - ela vai levar uma mensagem, mas ela vai também, curiosa, acerca daquilo que vai encontrar, e das tradições locais que possam ser integráveis e desejáveis ao bem-comum da humanidade. No seu contacto com as diferentes tradições do mundo, a Igreja sempre deu, ao mesmo tempo, recebeu.

Deus está, em primeiro lugar, nas pessoas (e só mais remotamente na Lei, como crêem os judeus e os protestantes). Sendo assim, Deus revela-se também no bem que as pessoas fizeram ao longo de toda a história da humanidade e é isso a Tradição. É na Tradição que se revela o Deus vivo de que fala a Igreja, sempre presente e pronto a indicar o caminho nas encruzilhadas da vida presente, por oposição ao Deus morto das Escrituras.

Compete à Igreja discernir o que é o bem-comum da humanidade, e não existe instituição mais qualificada para o fazer do que ela. Quando a Igreja declara que a eutanásia é assassínio (Cat: 2277; o Catecismo mais adiante fala também da eutanásia como homicídio) esse é o julgamento que Cristo teria tido sobre o assunto se estivesse aqui presente de carne e osso entre nós e lhe fosse perguntado o que pensa sobre a questão.

A Tradição é guardada pela Igreja, que é a figura de uma Mãe, mas exprime-se, em última instância, pela voz do Papa, que é a figura de um homem (Cristo-Deus: "Eu e o Pai somos um só"). Aquilo que se pode dizer é que uma pessoa, ou uma nação, que viva segundo a Tradição, vai ter uma boa vida, uma vida que lhe dá acesso a todos os bens que há no mundo.

A Tradição está principalmente contida no Catecismo da Igreja Católica.

Mas nada impede uma pessoa, ou um grupo de pessoas, até uma nação, de se revoltar contra a Tradição, e procurar inventar a  vida de novo. A Tradição, tal como Deus, tal como o pai ou uma mãe de filhos adultos, não se impõe. Está lá para quando eles necessitarem dela. O episódio do filho pródigo não é mais do que a história de um filho que decidiu voltar as costas à tradição. Saiu-lhe mal a aventura, mas podia ter saído bem. Decidiu voltar à tradição, e a tradição recebeu-o.

Aquilo para que o episódio alerta é para os riscos de voltar as costas à Tradição (que é também voltar as costas a Deus). O Papa Bento XVI escreveu que a Tradição contém as raízes da sua própria destruição, e o próprio Cristo, em parte, destruiu a tradição judaica.

Quando Cristo afirma que não veio trazer a paz, mas a espada, que veio pôr a filha contra a mãe, o filho contra o pai e a nora contra a sogra, ele está a dizer que a geração mais nova (filho, filha, nora) não vai querer viver exactamente como a geração mais velha (mãe, pai, sogra), isto é, segundo os moldes da Tradição, mas que vai contestá-la e que o conflito é inevitável.

O ponto importante da doutrina para  Portugal no presente é que o país se está a desfazer nas suas instituições e vive uma grave crise. Não é altura apropriada para contestar a Tradição. Pelo contrário, é altura é para voltar à Tradição, que é o caminho seguro, já que o outro tem vindo a conduzir ao abismo. A destruição que se tem produzido em Portugal nos últimos anos é enorme e a questão da eutanásia vem propor mais uma - a da vida.

Eu nunca esperava vir a tornar-me um conservador como estou - e estou é a palavra certa, em lugar de sou. Estou assim porque o momento e as circunstâncias são estas. Se fossem diferentes, eu também estaria diferente. Cristo era momento e circunstância.

28 comentários:

Anónimo disse...

“Cristo era momento e circunstância.”

WHAT? Hehe, é o que faz um prot tornar-se “católico novo” ;).

RS disse...

Perdeu-se um bom economista e ganhou-se um mau místico (desculpem a redondância)

cps

Rui Silva

Anónimo disse...

Alguém que é/está conservador e que, ao mesmo tempo, é/está conforme as circunstâncias (ou seja, que é/está relativista) é alguém que está um "pouco" esquizofrénico.

Harry Lime disse...

O ponto importante da doutrina para Portugal no presente é que o país se está a desfazer nas suas instituições e vive uma grave crise. Não é altura apropriada para contestar a Tradição. Pelo contrário, é altura é para voltar à Tradição, que é o caminho seguro, já que o outro tem vindo a conduzir ao abismo. A destruição que se tem produzido em Portugal nos últimos anos é enorme e a questão da eutanásia vem propor mais uma - a da vida.

Bem, não encontro nenhum momento na historia deste pais em que não tenha havido sempre alguém a apregoar a ruina iminente da Nação. Curiosamente, Portugal parece ter sempre, bem ou mal, sobrevivdo... mas pronto, mesmo um relogio avariado está certo duas vezes ao dia e pode ser que desta vez os profetas da desgraça estejam certos.

E depois há as divagações teologicas do PA que me parecem... bem... divagatórias (isto existe?). :-)

Rui Silva

Anónimo disse...


O professor Arroja e o joaquim:

https://www.youtube.com/watch?v=D8WmvMCTW_g

zazie disse...

Ou se é ou não se é. São questões de modo de ser que não se escolhem.

Eu sempre fui, mesmo quando poderia parecer o contrário. Gosto de conservar o que é bom e não me atrai essa ideia idiota de andar sempre a mudar para a primeira novidade que aparece.

Isso é para "maria-vai-com-as-outras".

zazie disse...

Ser-se iconoclasta é outra coisa.

Os maiores iconoclastas foram conservadores.

O exemplo que escolho já é o do Jonathan Swift.

Nunca um conservador gozou tanto e deixou em pantanas todas as modas dos "modernos" da altura.

Anónimo disse...

Hhmm... quem eram os “modernos” da altura que o Swift atacava? Parece-me que está a fazer um bocado de revisionismo da sua obra. Seria hilariante e irónico que os conservadores se arrogassem herdeiros do Swift ;)

zazie disse...

Se não sabe, estude. Querela dos Antigos e Modernos.

Pode também ler a Proposta Decente que se aplica que nem uma luva ao presente.

Os modernos na altura estão todos chapados no Conto de um Tonel- diziam o mesmo que agora- que tudo é matéria e não existe qualquer teleologia divina.

Também se distinguiam pelo casaco, ainda que estivessem despidos por baixo.

zazie disse...

Ah, e arranje um nome que até os animais domésticos o têm.

zazie disse...

Tem aqui a Proposta Modesta traduzida por uma ateia e publicada na esquerda.net.

http://www.esquerda.net/sites/default/files/Uma_modesta_johnatan_swift.pdf

Eles nem notam os tiros nos cascos que conseguem dar.

Ricciardi disse...

"...e estou é a palavra certa, em lugar de sou" PA
.
Ora nem mais. É tb assim que eu penso. E penso que é mesmo assim que Cristo era. E a palavra 'era' é mesmo apropriada para Ele. Porque Ele 'é', não 'está'.
.
Rb

Ricciardi disse...

"...e estou é a palavra certa, em lugar de sou" PA
.
Ora nem mais. É tb assim que eu penso. E penso que é mesmo assim que Cristo era. E a palavra 'era' é mesmo apropriada para Ele. Porque Ele 'é', não 'está'.
.
Rb

Anónimo disse...

Uma zazie a dizer para eu arranjar um nome ;) querida, eu já tenho nome. E a zazie, também tem um?
Portanto, o A Modest Proposal era uma coça nas modas dos modernos ingleses, imagine-se. Ora, pensava eu e toda a gente que era uma sátira à indiferença e brutalidade da sociedade inglesa (Politicos, grandes proprietários e os membros da sua própria Igreja protestante) para com os pobres irlandeses, que eram mantidos num regime quase medieval de exploração pelos ingleses. Mas não; é um ataque à moda dos modernos ingleses da altura…. Se aqueles que ele atacava eram os modernos, quem eram na altura os conservadores?
O Gulliver não chegou a visitar o reino dos zazies, no qual estranhos seres andam e pensam de pernas para o ar. É pena.

zazie disse...

Mas tu queres que eu gaste latim com um mongo?

Desorelha. tenho mais que fazer. Se queres explicações, paga.

Não sabes quem eram os modernos? então lê, pascácio imbecil

http://www.gutenberg.org/files/623/623-h/623-h.htm

E vai à wiki ou vai às putas mas cala-te.

zazie disse...

Não sabes quem eram os modernos no Conto de um Tonel?

Aposto que não sabes porque nem sabes o que é o Conto do tonel.

Vai à wiki, está lá em síntese. Também tenho resumos no Cocanha- procura-os.

Está lá quem eu sou para o que basta saber- para porteiras não chega mas sempre é mais que o menos que bicho anónimo que apresentas.

Anónimo disse...

zazie, deixa-te de merdas, és uma anónima que escreve coisas na internet, como outros milhões de anónimos. Podias chamar-te bóbi, que era igual. Não me interessa o teu blog. Mas diz lá quem eram os modernos que o Swift atacava no A Modest Proposal e não te esganices tanto, que te faz mal à beleza.

zazie disse...

Antes anónima com nick do que sem nome de pai colectivo. Não digo,estuda. Só debato com quem sabe do que fala para poder argumentar.

Quem não sabe, não pergunta. Informa-se e prepara-se primeiro.

zazie disse...

E até já disse quem eram esses modernos que estão bem retratados no Conto do Tonel- os mesmos materialistas de sempre.

Ele gozar com eles e com o clinamen mais os vapores que sobem à cabeça ou ao cu que é uma delícia.

zazie disse...

Está aqui retratado- só te peidas e não dizes nada

http://www.cocanha.com/a-algalia-ocidental/

Anónimo disse...

zazie, toda a gente tem nome e eu já te disse que tenho um nome. Queres um nick? Já arranjei um nick: a-zazie-é-burra. Olha, foste buscar o A Modest Proposal, pensando que o Swift estava a atacar o bloco de esquerda lá do sítio e fizeste burrada. É óbvio que o Swift publicou outras obras em que atacava os modernos da altura, mas não é essa. Não te inches tanto, que não te reconheço autoridade para isso. Conheces a fábula da rã e do boi? Pois… Tu, por detrás dessa hiperatividade esganiçada toda, deves ser boa rapariga e ter uma qualquer profissão em que sejas competente, não faço ideia. Mas tens que ter mais calma e pensares melhor antes de escrever.

zazie disse...

Ele topou-os todos- os "eolicos" os materialistas pré-socráticos, os anabaptistas e todas as seitas heréticas que vão ser adoptadas mais tarde pelo marxismo e que já estavam na moda no tempo dele; os cientoinos da academia de lagado que mais não é que a academia inglesa; os proto-jacobinos dos esquemas de teorias políticas feitas ad hoc- em ilhas desabitadas- coisa que mostra no tremendo gozo do Gulliver que não existe.

Um génio conservador, o Swift- Agora é que fazem falta e não aparecem.

zazie disse...

A escardalhada é burra e os ateus militantes de agora são uma cambada de ignaros que até devem provocar voltas na tumba aos antigos.

zazie disse...

A Proposta Modesta servem-na estes cagotos aos gays com carcanhol que agora sacam as crianças às imigrantes que não os podem sustentar.

É cópia certeira. Os ricos de agora que podiam comer as crianças que sobram para o Estado sustentar, são os rabetas de choco e flor-de-laranjeira com filhinhos sacados aos pobres.

Anónimo disse...

Já o escrevi: Zazie, voltou à sua prosa, agressiva por vezes, acutilante sempre.
Abraço

Euro2cent disse...

> Eles nem notam os tiros nos cascos que conseguem dar.

Noutro âmbito, fala-se do "uncanny valley". A generalidade dos progressistas também são assim: semi-letrados que inalaram uma cartilha, e ficam num vale entre dois altos.

Não têm nem o bom-senso dos iletrados, nem a sabedoria de quem reflecte. E estão contentes assim, debitando disparates e julgando-se superiormente esclarecidos.

Euro2cent disse...

A propósito de ser conservador, ainda esta semana tinha tropeçado, de novo, numa frase do camarada Chesterton, que como de costume, se não verdadeira, pelo menos bem esgalhada:

"The business of Progressives is to go on making mistakes. The business of Conservatives is to prevent mistakes from being corrected. Even when the revolutionist might himself repent of his revolution, the traditionalist is already defending it as part of his tradition. Thus we have two great types -- the advanced person who rushes us into ruin, and the retrospective person who admires the ruins." (mais completa aqui http://www.goodreads.com/quotes/57178-the-whole-modern-world-has-divided-itself-into-conservatives-and )

E por falar em tradição, tradicionalmente a igreja sempre desconfiou um pouco do entusiasmo dos convertidos ;-)

zazie disse...

ehehe

Maravilha de citação

E do resto... ";O)