Durante muito tempo, e até à queda do regime soviético em 1989, ouvi e li muitas declarações da Igreja Católica que, numa tonalidade ou outra, explicavam a brutalidade do regime pelo seu carácter ateísta. Essas explicações numa me impressionaram.
Hoje penso que elas constituem a verdadeira e única explicação.
Alexandre Soljenitsin, que viveu o regime, sofreu-o na pele e durante cinquenta anos procurou compreendê-lo, no final da vida chegou à mesma conclusão: "Os homens esqueceram-se de Deus".
Tire-se Deus da vida pública e a vida transforma-se num inferno.
O aspecto mais interessante do depoimento acima é que a tradição (veiculada pelo povo da meninice de Soljenitsin) tinha a explicação verdadeira para a situação que o autor demorou uma vida a tentar explicar. Até se render à evidência. A resposta verdadeira à questão que ele procurava já cá estava antes dele nascer, e era o povo que a guardava, e não um qualquer intelectual (como ele próprio era): "Meta-se Deus no armário, e o resultado é este".
34 comentários:
Tire-se Deus da vida pública e a vida transforma-se num inferno.
Vida pública é diferente de vida poltica! Aliás numa sociedade saudavel, a poltica é apenas uma parte da vida pública. E nessa parte da vida publica que não está incluida na politica inclui-se claramente a religião.
Já agora o Soljenitsin é um mau exemplo.
Senão vajamos, a primeira coisa que o Alexandre Soljenitsin fez quando chegou ao Ocidente foi "descobrir" o carácter materialista da sociedade ocidental querendo com isto dizer que havia aspectos da vida publica (e privada) que saiam do ambito espiritual (eufemismo para dizer que a religião não está em todo o lado).
Depois da queda do comunismo, Soljenitsin revelou-se um conservador russoem que a tal espirtualidade na sociedade se revelaria numa especie de teocracia ortodoxa que rejeitaria tanto os valores ocidentais como os comunistas.
Ora uma teocracia é uma sociedade em que a vida publica é dominada pela politica e que a politica é dominada pela religião.
Ora isto na minha opinião é talibanismo... Será uma sociedade destas que o PA deseja? Desconfio que não... mas ele é que sabe.
Rui Silva
ATENÇÃO: não quero diminuir de forma alguma a justeza da sua posição anti-comunista nem os horrores que ele passou às mãos dos comunistas (antes que a zazie venha para aí a chamar-em jacobino)
E sim, a sociedade ocidental vive de um equilibrio muito instavel entre a religião e a sociedade laica ("A Cesar o que é de Cesar, a Deus o que é de Deus"). às vezes cai para um lado, outras vezes para o outro.
além disso a sociedade ocidental, é confusa, anarquica e desordenada. Tem grupos sociais todos à mistura: catolicos, prots, muçulmanos, altos, baixos, gordos, magros, mulheres que gostam de homens, mulheres que gostam de mulheres, homens que gostam de mulheres, homens que gostam de mulheres, tipos do Benfica, do Porto, do Sporting, tipos brancos, pretos, indios, monhes, suecos de olhos azuis e portugueses de olhos negors. Empresario, patroes, sindicatos, mulheres a dias e assalariados rurais, consultores e banqueiros.
E sim e esta malta anda toda à procura de se desnrascar: à procura de dinheros, conforto, saude, deixar alguma aos filhos e ver se consegue fazer alguma coisa pelo proximo.
É confuso, não é? É. E é ainda mais confuso para intlectuais como o PA, o Soljenitsin, o Robespierre (já que falamos de jacobinos...) que querem reduzir a isto tudo a meia duzia de leis universais.
Rui Silva
Claro,PA... Esqueceram-se de matar em nome de Deus...
o problema pode bem ser termos tirado Cristo da vida pública e termos escancarado as portas àqueles que o mataram... ganância , dinheiro fácil , inveja , bancos , grandes corporações , ao fim e ao cabo , a vida pública está resumida a estas pencudices do diabo.
É verdade. è uma gigantesca verdade e tem a Revolução Francesa como antecedente.
O ateísmo materialista é a coisa mais perigosa à solta.
Divinizam gurus no lugar de Deus e depois ganham aquele utilitarismo sem prestar contas a ninguém que é satãnico.
Ah, e não é o dinheiro o culpado do pavor da auto-divinização e da idolaltria fora do lugar.
é outra coisa que começou nas Luzes- a puta da Ciência divinizada.
O Nietzsche sabia o bem.
Estou completamente de acordo com a ideia de que a divinização de gurus é a causa do esquecimento de Deus e da imoralidade satânica reinante. Afirmo isto porque tive de lidar com um caso semelhante de um tipo blasfemo que dizia que era o Filho de Deus e que rejeitou determinadas leis morais do judaísmo, sendo posteriormente divinizado por uma seita religiosa herética, que com Constantino passou a ser a religião oficial do Império. O Deus único e misterioso foi substituído por um triunvirato politeísta e pela idolatria de um guru que eu condenei à morte.
Eu, nesta matéria sou mais libertário. O problema não foi propriamente terem tirado Deus do estado (Deus mora nas pessoas). O problema foi terem tirado a liberdade às pessoas de O exprimirem ou não.
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Rb
sorte tive eu por a tribo de Satanás ter escolhido para morrer um tipo que ressuscitou e não a mim , Barrabás , ladrão convicto :) deve ter sido por afinidades culturais que me salvaram..
eheheh
Há tanta gente a falar em nome do "povo" e da "tradição"...
Porque é que não deixam o povo falar por sí próprio?
E continuo a achar que o Soljetsin como uma espécie de taliban ortodoxo. Ele defende uma espécie de retorno a uma pureza da Fé residente num Povo mitico e genuino que é uma completa idealização (típica do intelectual puro).
Esta idealização é um pecado ao qual o PA (como bom intelectual) tambem não foge. Da mesma forma, os comunistas tinham uma determinada idealização da classe operária, e os fascistas tinham uma determinada idealização do Povo e da Nação. Todos intelectuais, todos inteligentes, todos errados.
O problema com estas idealizações é que acabam mais tarde ou mais cedo por chocar frontalmente com a realidade. Ou alguem tem ilusões de que a utopia ortodoxa do Soljietsine ou a utopia catolica do PA não resvalariam para a tirania?
Rui Silva
PS. E mais uma vez pergunto-me se o PA ou qualquer um dos conservadores aqui presentes estariam preparados para viver num Mundo sem os confortos e as liberdades dadas pelo "materialismo"...
E depois temos um problema de "path dependency": o Soljetsin e o PA até podem ter razão na causa das nossas desgraças (não têm).
Mas será que neste ponto da evolução do Mundo é exequível (ou desejável) um tal retorno a essa pureza virginal?
Caimos mais uma vez na questão dos frutos do "materialismo" dos quais o "povo" parece ter alguma reticência em abrir mão.
Estará alguém disposto a trocar um T1 em Massama e um Opel Corsa pela felicidade eterna como servo da gleba numa sociedade catolica ou ortodoxa pura (como defendem o PA e o Soljetsnie)?
No fim do dia, esta é a questão essencial. O "povo" gosta do materialismo (e eu também). Vivam com isto.
Rui Silva
materialismo, em sentido filosófico, nada tem a ver com gostar do que é bom e material.
Materialismo é negar-se a transcendência e defender-se que apenas existe matéria.
Materialismo dialéctico é o que está na base do marxismo e todos os seus derivados.
O conhecimento está ao alcance de qualquer um, inclusivé dos que têm T1 em Massamá e serve para evitar que digam tanta asneira em tão pouco tempo.
Materialismo é negar-se a transcendência e defender-se que apenas existe matéria.
Materialismo no sentido que eu lhe dou tem a ver com o que é bom e material. :):):)
Mas concordo com a tua definição (muito mais rigosrosa que a minha) e respeito-a. :-)
O problema do anti-materialismo é o mesmo do do materialismo dialectico (que no fundo defende uma especie de transcedencia de sinal contrario): quando posta em pratica não produz muitos resultados no campo material. E isto é uma chatice.
Aliás, quantos de nós é que estariamos dispostos a trocar o nosso conforto material e espiritualmente vazio por uma sociedade "transcendente"? Não muitos, suspeito...
Rui Silva
O conhecimento está ao alcance de qualquer um, inclusivé dos que têm T1 em Massamá e serve para evitar que digam tanta asneira em tão pouco tempo.
Concordo.
O que eu discordo é o T1 em Massama esteja ao alcance duma sociedade baseada no "conhecimento" (como tu o defines). Essas sociedades baseadas exclusivamente numa qualquer espécie de transcendencia normalmente resvalam para a tirania, para a guerra e para miseria.
Aqui entendo que o nazismo, o fascismo e o comunismo se baseiam numa qualquer especie de transcendencia (trasncendencia da raça, da Nação ou da classe social). Isto já para não falar na democracia organica, o mais transcendente regime politico alguma vez criado :-) :-)
Rui Silva
Não há propriedade nas definições.
Existe o sentido do senso comum e o da linguagem filosófica.
Como é mais que óbvio o PA e o Soljetsin, tal como o Marx, referiam-se á filosófica.
Nada disto é à escolha do freguês.
Aprende-se isto na escola (aprendia-se) mesmo para quem vive em T1 em Massamá com MBA no Reino Unido.
zazie,
Eu não neguei a tua definição de materialismo. Eu até acho que é correcta.
E até acredito que uma sociedade anti-materialista funcionasse... se não fosse composta por pessoas com vicios, desejos, ambições. No momento em que metes pessoas de carne e osso ao barulho estás lixada. É que nem mesmo os homens de elite são imunes aos mais baixos instintos humanos.
Por isso, a resposta é construires uma sociedade baseada, não numa especie qualquer de transcedencia (há muitos sabores à escolha) mas em reconhecer e controlar na medida do possivel (e do desejavel) os naturais insitintos humanos (que podem ser bons ou maus).
E isto é dificil: muito mais dificil do que idealizar uma qualquer utopia baseada nas enciclicas papais ou num qualquer filosofo judeu alemão.
Rui Silva
PS. Não vivo em Massama. :-)
PPS. E no MBA ensinam-nos acerca da transcendencia dos mercados (pois)... lição que felizmente não aprendi. :-)
Nenhuma sociedade é construída agora ad hoc.
Já existem há milénios.
Mudar agora ad hoc é que é o problema.
O que será de Portugal sem os sinos a tocar nas nossas aldeias e vilas?
Será um nada.
Podem agitar os fantasmas que quiserem mas no tempo do Estado Novo foi sem dúvida um tempo onde Deus existiu em Portugal.
E onde está Deus agora?
Nos shoppings?
O gajo típico da cidade é infinitamente mais parolo do que qualquer parolo de aldeia.
O parolo da aldeia pelo menos compreende melhor a ordem natural e as leis da vida.
Pois é, Vivendi. Os parolos do betão são uns desenraizados mas julgam-se mais gente que o resto.
A ordem natural. É isso. A lenta sedimentação dos terrenos, como na Natureza. As mudanças vêm de dentro e são lentas.
Não se inventam por cúpula a corte abrupto em nome de tretas utópicas, cujas consequências se desconhecem.
"Tudo o que é sólidos desfaz-se no ar, tudo o que era sagrado é profanado". Pronunciava o Marx no Manifesto do Comunismo.
Boa literatura, porque ele escrevia bem.
Péssima realidade porque era outro fariseu que invertia o idealismo num falso materialismo para chegar onde já tinha planeado chegar à partida.
A dialéctica é uma patranha idealista vendida como uma lei da Natureza.
Exactamente.
O PA subestima muito as elites russas, de facto...a brutalidade soviética é a mesma de sempre perpetrada pelas elites daquele país.
O mundo edilico do estado novo não colhe opinião favorável precisamente nas camadas mais velhas da sociedade e que vivem nas aldeias.
Se perguntarem a pessoas mais velhas se viviam melhor, como eu tenho perguntado porque moro na aldeia, a resposta é um retundo não. A Maria é velhota, curadora da igreja da aldeia: Oh menino hoje é tudo mais fácil. Já não passamos fome. Se nos desse uma coisinha má morriamos ali mesmo. Não havia inem's nem havia possibilidade de nos deslocarmos ao hospital. Eu comecei a servir aos 12 anos na casa da patroa da minha mãe. Os meus irmaos emigraram e levaram depois as minhas irmãs. Eu fui a única que fiquei. As minha irmãs fizeram a 4a classe. Ir mais longe nos estudos implicava ir morar para a cidade. Não podíamos. Não havia dinheiro. O meu pai só conseguiu que mais velha fosse para a cidade.
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Mas eram felizes nao eram Maria? Não havia este stress de agora, este corre corre e...
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Oh menino, as crianças são sempre felizes.
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Os filhos da Maria são todos licenciados. Um engenheiro civil, outro engenheiro mecânico e a filha é professora. São o orgulho da Maria. E os netos da Maria estudam todos. Não são serventes da patroa.
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Rb
Rb,
Para não falar do Wi-Fi, era uma desgraça que só visto, só se apanhava no cimo das nogueiras.
Miguel D
ahahahahah
> Porque é que não deixam o povo falar por sí próprio?
Eh pá, caraças, o povo é pouco esclarecido, isso precisa de ser interpretado ...
Por exemplo, logo daquela vez com o D.Miguel, foi preciso trazer tropas estrangeiras para fazer vencer o superior interesse do povo, matando os membros do mesmo que insistiam em combater o progresso.
E tem sido assim. Precisamos de intérpretes esclarecidos da vontade do povo, é um sistema muito superior aos intérpretes esclarecidos da vontade de Deus, como é óbvio.
(Se não for óbvio, temos molhos de livros que provam isto tudo. Ou filmes e séries de TV. O que for preciso.)
Xeque-Mate aos demagogos de plantão.
Um caso prático:
Porque é que no Alentejo o suicídio é natural?
http://observador.pt/especiais/no-alentejo-suicidio-natural/
És um demagogo?
Então entra na nova sensação democrática...
http://www.negocios.com/noticias/nueva-moda-iglesias-saluda-colegas-besos-boca-18022016-1351
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