14 fevereiro 2016

Debate público

O debate sobre a eutanásia está inquinado pelo sectarismo político e, neste momento, mesmo alguns dos excelentes argumentos apresentados, como os do PA, aqui no PC, e os do Pe. Gonçalo Portocarrero, no Observador, têm pouca possibilidade de se fazerem ouvir.

Joaquim,

Claro que está, o que só mostra que o debate público das ideias que os liberais, pelo menos desde o John Stuart Mill, acreditam que é o meio para se chegar à verdade, afinal é o meio para se chegar à mentira.

Se a democracia actual é feita de partidos e se, no fim do debate, um partido tem de prevalecer ou ganhar sobre o outro (ou outros), então é porque a tese desse partido não é verdadeira - na melhor das hipóteses é um enrolado de verdade e mentira, na pior, a mais pura mentira.

A razão é que os elementos de verdade que existem na tese dos partidos derrotados são excluídos. A menos que o partido ganhador ou que prevalece possua a verdade absoluta. Ora, isto é uma contradição nos termos porque o sistema de partidos é criado na presunção de que a verdade absoluta não existe. Um partido não pode nunca ter a verdade absoluta.

A verdade absoluta é comunitária. Só depois de ouvir todos e não excluir ninguém é que se chega a ela. E a ela chega-se, não pelo debate público, mas pela vivência (ou experiência) e pela meditação. 

6 comentários:

zazie disse...

Neste caso a geringonça pura e simplesmente impediu qualquer debate porque recusa referendo.

Inventam as causas em nome da sociedade e depois impedem que a sociedade se pronuncie.

Totalirismo jacobino de esquerda- sempre.

zazie disse...

Mas há quem goste e adira á primeira sem pensar.

Não entendo essas pulsões.
De um modo geral, pelos que conheço directamente, fazem-no por revanche contra a religião.

Cfe disse...

"De um modo geral, pelos que conheço directamente, fazem-no por revanche contra a religião."

Concordo. São uns recalcados.

Anónimo disse...

Como é seu hábito, Pedro Arroja escreve num estilo próprio e difícil.
Causas Fracturantes e Debate Público são bons trechos mas, para mim, difíceis de papar à primeira. Sou lento a apanhar os sentidos.
Gosto da sua avaliação das gentes do Canadá.

Ricciardi disse...

Parece que ninguem conhece ainda a proposta de lei. Eu não conheço, nem encontro. Portanto discutimos o tudo e o nada.
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Por princípio sou contra qualquer tipo de antecipacao da morte. Planeada. Pena de morte, aborto não terapêutico, eutanásia. E não tem a ver com o que as religiões acham que Deus quer. What God wants, God gets.
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Não obstante há sempre excepções. No aborto e na eutanásia há casos extremos onde a opção por remover a vida doutrem é um acto de bondade e misericórdia.
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Compreendo que a Igreja nao considere as excepções. É uma questão basilar e os fundamentos da religião. O primado da vida e a vida como um Dom de Deus. Na conferência de bispos dos Vaticano eles abordam o tema do sofrimento físico dum doente terminal. E acha a igreja, portanto, que o sofrimento se não puder ser aliviado pela ciência, porque as drogas vao fazendo menos efeito, que esta deve ministrar sucessivamente doses maiores, mesmo quando essas doses sejam causa última da morte. É, digamos, uma forma de dizer que se admite a eutanásia sem o dizer para os casos de sofrimento intolerável. E a igreja só não o diz explicitamente porque a Misericórdia de por termo ao sofrimento agreste é um valor inferior à ideia da vida com Dom inviolável de Deus na hierarquia dos valores.
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Rb

Joaquim disse...

Caro PA,

Concordo plenamente :-)