14 fevereiro 2016

continuásia

O debate sobre a eutanásia está inquinado pelo sectarismo político e, neste momento, mesmo alguns dos excelentes argumentos apresentados, como os do PA, aqui no PC, e os do Pe. Gonçalo Portocarrero, no Observador, têm pouca possibilidade de se fazerem ouvir.

‹‹Pelo ar dos tempos››, acabará também por ser aprovada em Portugal, claro está.

Neste post gostaria apenas de chamar a atenção para um problema que, na minha opinião, contribuiu bastante para inquinar este debate: a tentativa de prolongar a vida humana muito para além do que me parece razoável.

Isto é, prolongar a vida de um ser humano, através do recurso a meios médicos, mesmo quando é evidente que essa pessoa perdeu toda a autonomia e capacidade de relação com outros seres humanos. O caso do ex-primeiro-ministro Ariel Sharon, que foi mantido assim, de 2006 a 2014, é um bom exemplo.

Ora neste casos, a interrupção dos tratamentos é imediatamente interpretada como eutanásia. Passiva se consistir apenas nessa interrupção e activa se abreviar o fim previsível. Mas o problema nunca se colocaria se não se tivesse cometido o pecado original de "brincar ao deuses", insuflando artificialmente vida onde já só existe morte.

Se chamarmos "continuásia" a este esforço inútil, eu resumiria o meu argumento da seguinte maneira: a continuásia levou-nos à eutanásia. Se não protestarmos contra a continuásia, teremos de aceitar a eutanásia, nas suas múltiplas formas.

24 comentários:

Ricciardi disse...

Parece-me sempre útil tentar. Não tentar é cruzar os braços (des)existir.. É abdicar da ideia de que existe uma possibilidade. Um milagre, uma excepção, chame-se-lhe o quiser. I do believe in faries.
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Na verdade sem dar corda a essa possibilidade nunca saberemos se se materializa ou não. Ariel não acordou, mas há casos em que acordam.
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Schumacher vive. A ciência retardou a morte e salvou-o.
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O sofrimento intolerável, na minha opinião, é o ponto central.
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Rb

zazie disse...

Não existem cuidados paliativos.

Há velhos deixados a morrer e mandados para casa por médicos nos hospitais.

Já contei aqui casos e até deixei nome e morada.

Esta treta é mais perniciosa para quem avalia e julga do que para quem está nessas situações extremas.

Porque em nome das extremas já se vai apenas na dita liberdade dos médicos despacharem quem acha que sim ou quem acha que sim em nome de doentes com alzheimer que nem sabem o que querem.

Aliás, a ideia da eutanázia para alzheimarados anda no ar e já tem defensores em vários países e é a maior nojeira que se pode fazer.

Como lido diariamente com uma familiar com 96 anos que está alzheirada e totalmente dependente, posso garantir que tudo tem a ver com a forma como são tratados.

Temos um país com um clima excelente.

Já o disse num lar, não faz sentido como não existem solários nos lares e não se põe os velhos a apanhar sol em jardins, mesmo quando acamados.

Quando foi o terramoto no Tibete, uma cena que me impressionou pela positiva foi isso mesmo. Uma mulher a levar a mãe na cama com rodinhas, até ao jardim, para apanhar sol e sentir a natureza.

Bastava haver isto para o instinto de vida falar mais alto e ficarem felizes.

Depois era poupar nos remédios e tirarem toda a trampa de sedativos com que os tornam zombies.

zazie disse...

E é mentira que a opinião geral seja do "sofrimento intolerável".

O que se diz no abaixo assinado de todos aqueles assassinos VIP é a qualidade de vida ou qualidade de morte.

E isso já eu vi ser dito a quem está sentado e só se pode movimentar por cadeira de rodas.

Dizem que não está cá a fazer nada e faz-lhes muita impressão haver velhos com fraldas ou acamados. Por serem inúteis e acharem que é "degradante".

Um que disse isso e estava todo activo com 70 anos, foi-se primeiro com avc. Também lhe fazia muita impressão estas pessoas.

zazie disse...

Tenho amigo na Suécia que me contou como morreu a tia- Eutanizou-se porque também "já estava farta". Conhecia. Fez-me impressão. A mãe dele foi para um lar e durou apenas uns meses, apesar de ter entrado com saúde.

Dizem que é em nome da "qualidade de vida".

zazie disse...

Errata: conheci-a.

zazie disse...

Felizmente que por cá temos brasileiras e negras a cuidarem de muitos velhos.

Ainda sabem o que é o temor a Deus.

zazie disse...

E até concordo com o texto do Joaquim.

Também acho uma anormalidade prolongar-se a vida ad infinitum de modo artificial.

Isso não é eutanázia e parece que existem cuidados paliativos noutros países que não no nosso.

No nossos existiam religiosos a ajudar. Como tudo se laicizou muitos passaram a ser proibidos.

Diziam que eram gastos inúteis com a Igreja.

zazie disse...

Mas até isso nada tem a ver com a trampa do Testamento Vital.

Ora na associação dos médicos que vendem remédios a alzheimarados- a que existe e que é uma vigarice de clã. já andam com a treta do Testamento Vital a impingir a todos.

Ricciardi disse...

Segundo José António Ferraz, diretor do serviço de Cuidados Paliativos do IPO-Porto, “de vez em quando há alguns pedidos (eutanásia) mas não são consistentes”. “Quando chegam com problemas mal controlados e dores intensas, uma pessoa, obviamente, não deve ter muita vontade de viver”, afirma. “Controlado esse desejo, motivado por esse sofrimento intenso, passa”.
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Faço minha a opinião do acima citado.
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E passo a relatar um caso que vivi duma amiga que agoniava com um cancro terminal nos pulmões. As dores eram tantas, mesmo com drogas, que a tiveram de isolar para não incomodar os outros doentes. Viveu nesse estado cerca de dois meses. Visita-a frequentemente e era um verdadeiro martírio para mim. Viver o sofrimento dela foi assombroso e não desejo a ninguém. Pensei muitas vezes que seria mais digno e humano para ela que alguém pusesse termo à vida dela.
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Nos breves momentos em que não tinha dores pedia-me para falar com os médicos a ver ser lhe davam uma dose maior de droga. Ela queria viver, portanto, mas não queria viver com aquela dor intolerável.
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Quanto aos doentes crónicos que não tem dor, ainda assim totalmente dependentes, como os alzaimer e outros, ninguém tem o direito nem o topete de suprimir-lhes a vida.
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Rb

zazie disse...

Têm o direito e o topete de decidirem por eles. Basta passar a vir na lei.

Já vem. É para aí que se caminha e o ingrediente utilitarista tem essa mistura entre fariseísmo misericordioso e livrar-se de encargos.

O primeiro pé nunca é o caso isolado- é o "em nome de"

E o "em nome de" é o mesmo- "a qualidade de vida"; a "dignidade de vida"; o "direito ao meu corpo".

zazie disse...

Ao corpo dos outros, porque estes imbecis que fazem abaixo assinados deviam era começar por eles para darem o exemplo.

Mas não -são sempre representantes dos outros ainda que auto-eleitos.

zazie disse...

Quanto aos cuidados paliativos é mentira e até o George que foi ministro e assinou agora esta merda, o disse.

zazie disse...

Deve é existir saque de órgãos à conta do Testamento Vital.

Agora ajuda, é mentira. Não existe nem se faz em lado algum.

Ricciardi disse...

"Basta passar a vir na lei."
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Não conheço o projecto lei. Contudo, passar a vir na lei não pode sobrepor-se à consciência dos médicos. O que tb Não é coisa sossegante, porque o que nao faltará são médicos sem problemas de consciência, mas eu acredito que a maioria não executa o que virá na lei. Porque nenhuma lei pode obrigar um médico a matar.
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Agora mesmo, daqui a um bocado, vou almoçar com a minha sobrinha que é jovem médica e vou-lhe colocar a questão. Suprimes a vida de alguém que pede para morrer se a lei to permitir?
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Eu acho que sei a resposta, mas sei lá, depois de ela lidar com a morte tanto tempo nas urgências e no inem pode ser que ela tenha opinião diferente daquela que eu esperaria dela.
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Vamos ver.
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Rb
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PS. Não encontro o projecto lei em lado algum. Se alguém o tiver que o mostre sff.

zazie disse...

O projecto ninguém o conhece.

O que se conhece há muito é o pacote.
O pacote é sempre importado de fora pelos mesmos. Aproveitam o poleiro para irem legislando.

Estupidamente quase esgotam o pacote com esta cena agora. Quando precisarem de mais causa fracturante para o voto tem de se aliar ao PAN e exigir SNS para animal doméstico.

zazie disse...

O pacote dá pelo nome de Direitos de choco e Direitos de Saída, já que entrar, é que não entra gente.

zazie disse...

Aliás, estas coisas servem de agit prop e ninguém precisa de detalhes.

Basta fazer passar a mensagem do Direito materialista porque não há Deus a mandar em nada.

zazie disse...

Os jornais fazem passar o abaixo assinado, a cena corre no facebook, meio mundo de mongos egoístas e materialistas fica logo com o grelo aos pulos e a querer assinar o que nem sabe o que é e pronto.

A seguir é lei, é ordem, é legal, é o Estado que manda e os médicos obedecem tal como foram passados a obedecer com o aborto e com o choco.

Se não obedecer há a Lei a fazer perceber o que é obrigatório e o que é proibido não ser obrigatório.

marina disse...

concordo a 200% , Joaquim. um absurdo total o que a medicina do lucro faz.

zazie disse...

Da boca para fora. Em nenhum hospital se prolonga a vida às pessoas.

Antes pelo contrário. Dão logo uma ajudinha para poupar.

Carlos Faria disse...

Já escrevi "A legalização da eutanásia sem a disponibilização a todos de serviços adequados de cuidados paliativos não garante a ninguém a dignidade necessária à liberdade de escolha e pode até ser o branqueamento de um crime e do incumprimento por parte do Estado em não prestar o serviço público de cuidados paliativos como uma obrigação constitucional."
Não sendo um opositor absoluto da eutanásia, pode ser que esta aprovação anunciada sirva ao menos para criar um movimento capaz de permitir estender os cuidados paliativos à generalidade dos portugueses que deles requeiram.

Anónimo disse...

Muito bom texto de J. Sá Couto.
Abraço

Pedro Sá disse...

Este deve ser o único argumento racional, inteligente, político e científico que li contra a eutanásia.

zazie disse...

Sim, o Birgolino escreveu um bom texto.