Só faltava a eutanásia para completar o pacote. O argumento é sempre o mesmo - o da liberdade, especialmente a liberdade de escolha - que já valeu para o aborto, para o casamento gay, para a adopção por casais do mesmo sexo, e vale agora para a eutanásia.
A primeira observação que me ocorre é a de que é preciso uma grande falta de imaginação, e fazer prova de uma grande estreiteza de espírito, para não dizer baixo nível intelectual, para justificar todas as causas sempre com o mesmo argumento - o da liberdade, no sentido de liberdade de escolha. Mas agora, a liberdade é o motor de todas as novas causas sociais em Portugal (e já velhas noutros países)?
A segunda observação é a de que eu não estou nada impressionado com a nova geração de liberais que, de repente, emergiu no país e recentemente até conquistou, em parte, o poder político. Invariavelmente parecem-me querer a liberdade só para eles e para os seus amigos, mas não para os outros. Fala quem tem sido nos últimos meses um verdadeiro "bombo da festa" dos novos liberais (embora tenha sido o bombo que deliberadamente provocou a festa).
Voltando ao tema da liberdade de escolha e da eutanásia. As principais escolhas da minha vida não fui eu que as fiz, alguém escolheu por mim. Eu não escolhi ser homem, eu não escolhi as feições, a altura, ou a personalidade que tenho. Eu não escolhi a religião em que fui baptizado e ainda hoje, se me dessem liberdade para escolher uma religião, eu não saberia escolher (não conheço o suficiente de todas as religiões para, de forma informada,, escolher uma delas).
Eu não escolhi a dieta que habitualmente é a minha nem a maneira como habitualmente me visto. O fato e a gravata já existiam antes de eu cá chegar e não estou certo que tivesse sabido escolher, ao abrigo da minha liberdade de escolha, uma indumentária própria para mim, caso não me tivessem servido uma já pronta.
Eu não escolhi os filhos que tenho, nem os pais que tive e os irmãos que ainda tenho. Eu não escolhi sequer o clube de futebol do meu coração (foi o meu pai que o escolheu por mim). O mesmo para a minha profissão.
Eu não escolhi a língua materna que falo, e as outras que falo com alguma diligência foram-me impingidas na escola, não escolhidas por mim. Eu sou casado mas, por mim, nunca me ocorreria escolher uma instituição como o casamento. Dentro de uma semana, terei o sexto neto (é uma menina, a quarta dentre os netos), mas eu nunca escolhi o número, o sexo e a personalidade dos meus netos. Eu não escolhi sequer o meu nome. Alguém escolheu por mim. Mas não estou nada insatisfeito. É um nome de tradição.
Na realidade, se não fosse a tradição, que escolheu por mim, eu não saberia viver. Estou grato a todos aqueles que escolheram por mim. Deram-me uma vida boa.
Se as principais escolhas da minha vida não foram feitas por mim, e ao abrigo da minha liberdade de escolha, que credibilidade posso eu pôr na minha liberdade de escolha para lidar com uma escolha tão importante para a minha vida como é a do momento da minha morte?
10 comentários:
Essa cena da liberdade é para proprietários.
Justificam a eutanásia com o conceito de liberdade individual e de propriedade sobre o próprio corpo e a própria vida. Ou seja, a extrema-esquerda a socorrer-se de ideias liberais. Caricato, no mínimo. Um exemplo acabado de como os liberalismos e as esquerdas são duas faces da mesma moeda.
Mas... esperem aí! Os partidos que exigem a eutanásia não são os mesmos das ideologias em que a vontade do Estado prevalece sobre a do indivíduo? Somemos dois mais dois, e o resultado só pode ser assustador. Por agora, claro que entram de mansinho com a tal liberdade individual. Isto por agora...
No "Triunfo dos Porcos", as regras escritas na parede do celeiro eram muito claras e justas no princípio. Depois foram sendo alteradas a preceito.
Para já a eutanásia vai começar em um direito mas mais tarde vai acabar num dever.
Quando a eutanásia estiver banalizada aos olhos do individuo será a vez do estado intervir e decidir a bel-prazer quem deve viver e quem deve morrer.
A democracia é a cada dia que passa mais: fascista, nazista e totalitária.
Quais são os direitos fundamentais da pessoa humana?
''Defenda o respeito e actuação prática dos seguintes direitos fundamentais da pessoa: o direito a manter e desenvolver a vida corporal, intelectual e moral e particularmente o direito a uma formação e educação religiosa; o direito ao culto de Deus, particular e público, incluindo a acção da caridade religiosa; o direito, máxime, ao matrimonio e à consecução do seu fim; o direito à sociedade conjugal e doméstica; o direito ao trabalho como meio indispensável para manter a vida familiar; o direito à livre escolha de estado, também sacerdotal e religioso; o direito ao uso dos bens materiais, consciente dos seus deveres e das limitações sociais.''
Papa Pio XII, Radiomensagem de Natal ''Con sempre nuova freschezza'', de 24 de Dezembro de 1942
"Para já a eutanásia vai começar em um direito mas mais tarde vai acabar num dever"
Certeiro !
A primeira coisa é retirarem o sinal negativo a deixar morrer.
Como nem sequer existem cuidados paliativos e os velhos são deixados sozinhos acamados, está-se mesmo a ver para que vai servir.
Não escolheu a sua profissão? :O
Acresce que por certo a sua mulher também tentou vários, não andou especada à espera que um PA aparecesse. E como ser humano que é teve certamente interesse por mais homens antes de si.
Ah. Toda esta argumentação é imediatamente reversível. E basta uma frase. "Se afinal tenho muito menos liberdade do que pensava ter, quero ter a escolha de morrer se for caso disso, é uma liberdade que devo ter".
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