Por que é que em Portugal não emergem figuras com a dimensão de um David Bowie?
Porque temos uma cultura castrativa, que é alérgica ao individualismo e ao risco. E qual é o problema? Já ouço perguntarem.
O problema é que admiramos e precisamos de personagens que só podemos ir buscar ao estrangeiro porque aqui no jardim não as deixamos florescer.
90 comentários:
Confere.
É engraçado que fiz essa pergunta ontem ao almoço.
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E a resposta que encontrei é que deixou de existir aquela prática dos cafés e bares terem bandas a tocar ao vivo para a clientela. É nesses locais que emergem novas bandas que depois crescem.
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Eu lembro-me nos anos 80 que existiam muitos bares na cidade onde podíamos contar com a presença duma banda qualquer local. Hoje isso desapareceu. Ou melhor existem bandecas para turista ver.
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O mundo londrino teve e continua a ter um mundo noturno de bandas a actuar incessantemente nos bares.
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Um primo meu mora em londres (nasceu lá), dentista, e canta numa banda aos fins de semana. Já produziu um disco.
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Uma sobrinha minha portuguesa, com cara de anjo, também canta, numa banda de heavy metal, e não produziu disco algum. Há poucos locais onde ela possa emergir e dar nas vistas.
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Portanto eu acho que é muita falta de contexto. Contexto que existiu nos anos 80 e desapareceu sem se perceber bem a razao. Não será por acaso que os anos 80 produziram uma quantidade de bandas portuguesas incrível.
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Quer dizer, se a minha sobrinha quiser ir mais longe tem de ir viver para Londres.
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Rb
Por que é que em Portugal não emergem figuras com a dimensão de um David Bowie?
Tens o António Variações, se quiseres...
Este post é completamente idiota.
Em Portugal também há individuos criativos apenas em menor quantidade (Portugal tem 10 milhoes de habitantes, UK tem 60) e com menor notoriedade (Londres é uma das capitais culturais do Mundo, Lisboa é uma cidade bonita um pouco afastada dos grandes centros).
Rui Silva
E já agora, Jaquim, não tentes fazer do Bowie um dos "teus".
O Bowie tinha um desprezo olimpico pela ideologia que defende. Não tentes agora fazer dele um simbolo da tua "liberdade".
O Bowie foi o que foi e fez o que fez precisamente porque rejeitou os valores que tu defendes, entendido?
Rui Silva
eu cá acho que é pela mesma razão que não há na frança , na itália , na china , na austrália , na espanha , na patagonia , no japao , na india e no méxico . acho que na holanda e na suecia também nao há . nem na finlandia . nem na grécia. .na suiça parece que também nao. o mesmo para a rússia. em israel ainda menos :) capisce?
Aliás, acho inacreditavel ver pessoal "conservador" a falar bem de um tipo que fez carreira à custa duma imagem de ambiguidade sexual e fazendo musica muitas vezes esquisita inspirada em musica de pretos e maricas.
Pergunto-me se o Jaquim diria a mesma coisa se tivesse ouvido o último disco do Bowie há uma semana atrás... Calculo que teria qualificado a sua estética como "decadente" e representativa duma "sociedade sem valores". Estarei errado?
Eis o video do Blackstar retirado do ultimo album do homem:
https://www.youtube.com/watch?v=kszLwBaC4Sw
Bastante decadente, hem?
Rui Silva
Na Suiça tens os Yello liderados pelo Dieter Meier (https://en.wikipedia.org/wiki/Dieter_Meier)
https://www.youtube.com/watch?v=Y4QbJRAWvRU
Bastante socialistas e decadentes, suponho...
Quando o Dieter Meier morrer também hei-de ver o Jaquim falar da sua "liberdade" e da abertura da sociedade suiça.
Rui Silva
Já agora para relembrar o óbvio: eis um video do António Variações.
https://www.youtube.com/watch?v=R8DrXK8WS4k
Como se vê foi muito inspirado pela estetica glam (maricas? socialista? decadente?) criada nos anos 70... por, entre outros, David Bowie.
Rui Silva
Os excêntricos são estimados e acalentados pela cultura britânica. É uma idiossicrasia muito própria do Reino Unido, visto que a generalidade das sociedades estimula e favorece o conformismo com as normas sociais. É tal e qual como a Marina disse.
Os excêntricos são estimados e acalentados pela cultura britânica. É uma idiossicrasia muito própria do Reino Unido, visto que a generalidade das sociedades estimula e favorece o conformismo com as normas sociais. É tal e qual como a Marina disse.
Isto é tanga.
O UK, tal como os EUA, tal como a França (paises com alta incidencia de excentricos) são paises com grande actividade cultural e com grande impacto global. Logo é maior a probabilidade de aparecimento de "excentricos"e é tambem maior a probabilidade destes atingirem notoriedade quer local quer global!
Não venham com tretas "culturais" de dimensões culturais aprendidas à pressa num Hofstede qualquer da vida.
Rui Silva
Quem disse tudo foi a Marina
Ainda agora conheci um rapaz inglês, que vinha sentado ao meu lado no avião, e vem para cá fazer música.
Deixou emprego em Inglaterra, deixou tudo, porque tem por cá um amigo e acredita que pode ser artista.
Eu achei piada- por cá os tordos passaram a viver de música paga pelas câmaras e depois choram e arranjam tacho no Brasil.
Tal como conheço japonesa que está cá apenas há 2 anos e já faz espectáculos de artes plásticas, marionetes e outras coisas com sombras.
Mais ninguém se atrevia. Precisamente pelo colectivismo estatista que mata tudo.
Quanto ao resto, a tradição pop e rock é inglesa. Mas na América acontecia o mesmo.
É uma tradição de entretenimento com raízes anglo saxónicas. A língua ajuda.
O António Variações era excelente. Tal como muitíssimo antes também o foi a Carmen Miranda.
Aliás, as trevas fascistas produziram mais artistas que a dita democracia.
Já agora, se querem um exemplo criativo tuga e sem encosto de espécie alguma, oiçam a menina Rita Braga.
Uma maravilha de voz; uma menina extremamente criativa que eu conheço ainda antes de se ter tornado artista.
http://superbraguita.com/
Quanto ao Bowie- não era de esquerda. Era british, coisa que implica não ser comuna e nem ser sequer ideológico ou político.
E era iconoclasta, na boa tradição british.
"O Bowie tinha um desprezo olimpico pela ideologia que defende. Não tentes agora fazer dele um simbolo da tua "liberdade".
O Bowie foi o que foi e fez o que fez precisamente porque rejeitou os valores que tu defendes, entendido? "
Achei interessante este comentário, porque creio que lhe está subjacente uma interpretação errada (posso ter lido mal entre as linhas).
Se há coisa em que Bowie é incassificável é na política e se o Harry Lime quer fazer dele um estandarte do progressismo xuxa, bem pode continuar a tentar. Desde as posições em Berlim (veja-se a homenagem do governo de Merkel) até ao flirt dos anos 70 com o nazismo, houve de tudo para todos os gostos. Creio que a razão tem a ver com o facto de de Bowie ser, acima de tudo, um grande esteta.
Miguel D
Pois era inclassificável. Mas o Silva é xuxa e tudo o que é bom tem de ser de esquerda.
É palerma.
E sim, o Miguel disse uma coisa importante- o Bowie era um esteta multifacetado.
Mas de um modo unicamente inglês. Nunca poderia ser americano.
E essa estética que é corrosiva e provocatória não é gay nem é de esquerda. Vem na linha dandy britânica.
Zazie,
É claro.
Não faz muito sentido arrumar o Bowie em categorias que não representam nada na cultura londrina, como se fosse um Zeca Afonso com lipstick e fato de astronauta...
Miguel D
Pois era inclassificável. Mas o Silva é xuxa e tudo o que é bom tem de ser de esquerda.
zazie,
Não se trata de ser xuxa ou deixar de ser xuxa. Nem se trata de dizer que tudo o que é bom é de esquerda (hey, eu adoro o Clint Eastwood!!!).
E nem sequer se trata de negar as origens da estética do Bowie.
Trata-se apenas de achar esquisitas as reacções de pessoas que há 2 semanas seraim capazes de qualificar a estética do Bowie como "decadente" e oposta aos valores tradicionais (que era!). E mais uma vez reitero: o jogo do Bowie, especialmente, nos anos 70 era "àpater le bourgeois" e desafiando os tais valores tradicionais (e tentado fazer dinheiro no processo :):):) )
E não, não falo de ti: tu és de direita mas nunca te vi usar argumentos destes. As tuas criticas aos maricas, por exemplo, nunca são estéticas nem "éticas" ("fazem coisas anti-naturais") mas sim em relação à forma como exercem a sua acção politica.
Rui Silva
PS. Não, não sou maricas. Nem o Bowie era (tirando umas cambalhotas com o Mick Jagger :):):) ).
A Zazie fala numa coisa importante, o elemento inglês. Mais até do que britânico, há ali algo de profundamente english, num misto de provocação e snobismo que só funciona ali e em Itália. Noutros lados tende para o grotesco e para a boçalidade.
Miguel D
O Birgolino também há-de ter sido decadente...
Alguma vez o leste a relatar as memórias da luta anti-fascista?
Nada. Devia estar a charrar e numa cena dessas
eheheh
O Birgolino não se leva a sério ainda hoje porque há-de ter tido esse passado que o vacinou.
E gostava do Bowie. Não lhe fica mal nada disso.
Também acertou ao dizer que o estatismo mata todo o risco criativo e todo o individualismo.
E isso aplica-se ao nosso presente estatista e a autoria é escardalha.
V. nem são comunas. Em última instância são apenas estatistas. Com uma estranha e patológica adoração pelo Estado, como se este fosse qualquer treta humanista que toma conta da vida das pessoas.
Sim. Miguel. Na tradição até de um Oscar Wilde.
Ele era british. Não era gay, era um dandy british que é outra coisa sem comparação nem tradução para mais nada.
Não faz muito sentido arrumar o Bowie em categorias que não representam nada na cultura londrina, como se fosse um Zeca Afonso com lipstick e fato de astronauta...
E qual é o mal com o Zeca Afonso? Sim era comunista mas também era um optimo musico.
Aparentemente entre os comentadores deste blog existem pessoas com o problema inverso ao meu: acham que tudo o que é bom só pode ser direita (ou "apolitico" à falta de melhor)
São assim as pessoas...
Rui Silva
Homem de Deus, viu-me dizer que o Zeca Afonso era mau?
Quem puxou logo pela política do Bowie foi o Caro Harry Lime, a minha interpelação foi no sentido de lhe dizer que a "política" neste caso tem muito mais que se lhe diga.
Fique descansado, Zeca Afonso era muito bom.
Miguel D
Também acertou ao dizer que o estatismo mata todo o risco criativo e todo o individualismo.
zazie,
Curiosamente, o Bowie conseguiu ser mais criativo nos anos 70 quando o estatismo em Inglaterra e no Mundo estava em todo o lado.
Curiosmante também, os anos 80 correspodentes à libertação "tatcheriana" produziram a fase menos criativa da carreira do Bowie. Em contrapartida foi também o periodo em que o bowie fez mais dinheiro :):):)
Há qualquer coisa de errado na tua argumentação e na do Birgolino...
Rui Silva
PS. Nada disto está escrito na pedra, como é evidente: nos anos 80 tatcherianos houve muita gente criativa (musicos, artistas, escritories) em Inglaterra. Só acho é que estas a cair na mesma armadilha ideologica em que dizes sem razão que eu caí. :):):)
O estatismo inglês foi cá uma coisa que faz favor.
Consta que até o PCP estava no governo trabalhista.
O estatismo dos anos 70 também foi famoso em todo o mundo- bolsas de criação artística para toda a gente...
Por favor. Está calado e não te enterres mais que nem tu sabes o motivo pelo qual és de esquerda e tens de defender o Estado.
Quem puxou logo pela política do Bowie foi o Caro Harry Lime
Errado. Quem puxou pela politica para falar no Bowie foi o Jaquim. :):)
E concordo que em relação ao ZEca Affonso eu possa ter atirado primeiro e perguntado depois (como os conhecidos cowboys comunas do Clint Eastwood e do Jonh Wayne)
Eu limitei-me a acrescentar que, a haver qualquer intepretação politica em relação ao Bowie, ela é de sinal contrário à que o Jaquim lhe quer associar.
Rui Silva
PS. E concordo com a zazie que é dubio que o Bowie alguma tenha querido passar alguma mensagem politica. Por isso mesmo é que qualquer associação politica/sociologica (de qualquer sinal) ao Bowie é esquisita (incluido associações feitas por mim :):) ).
Eu não estou a cair em armadilha alguma porque não explico o Bowie por inexistência de estatismo.
Apenas concordei com o Birgolino que por cá o estatismo presente mata toda a criatividade.
Sem comparar com fenómenos ingleses ou americanos. Apenas comparando entre nós por passado e presente.
E sim. A partir do momento em que os músicos vivem do financiamento camarário e para animarem festas partidárias, a música ligeira acaba ou domestica-se a um ponto de tal modo cretino que depois só temos agit pop engagé.
Até o humor por cá acabou pelo mesmíssimo motivo- porque a trampa dos fedorentos fede a frete ideológico engagé e politicamente correcto.
Sei do que falo porque trabalho na área artística e tenho discussões destas por isso mesmo.
Porque tenho colegas que vendem a militância e passam-na para as gerações mais novas que depois só sabem fazer treta de encomenda facciosa.
Phonix, zazie!
Eu não defendo o estado nem deixo de defender.
Aliás em termo de criação artisitca sou ferozmente liberal: há coisas muito mais importantes em que gastar o dinherio do contribuinte do que em financiar filmes, edificios, rotundas e pintores.
Rui Silva
Tu nem sabes o que defendes.
Um dias vais descobrir que apenas tens complexos de esquerda.
E aposto que descobres que nada disso tem a ver com a tua verdadeira personalidade.
Mas, como vem de complexos, sentes-te sempre na obrigação de repetir o mantra anti-direita e coisas assim e acabas sempre a defender trampas como o Estado.
Já repararam que os países que são ilhas produzem música de boa qualidade?
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Pois é. A Inglaterra, além disso exporta melhor a música por causa da língua. Quando o francês foi moda exportavam música. O italiano foi sempre cantado nas músicas líricas.
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O reggae da jamaica, as mornas de cabo verde, a música cubana, o rock inglês. Ilhas.
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Deve ser coisa de sentimento ilhéu.
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A produção de música nas ilhas parece ser mais contundente.
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Tirando estes aspectos mais sentimentais dos ilhéus, parece-me que que a oferta, tal como na Economia, aparece quando se gera uma procura. Se voltar a ser moda as bandas tocarem nos cafés e bares, mais músicos aparecerão. Essa moda na Inglaterra nunca deixou de existir e isso, aliado à lingua, explica a sucesso da música inglesa ligeira.
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Rb
Meter a esquerda e a direita na genealidade musical dalguem é um perfeito disparate.
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Rb
A criação, a arte portanto, é coisa que vem do interior de cada artista. Não vem do modelo político.
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O que acontece é que boa parte dos criadores são de esquerda. Ainda não percebi bem porquê.
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O meu maior músico pop rock é o Roger Waters dos pink Floyd. Claramente esquerdista.
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Rb
Por que é que em Portugal não emergem figuras com a dimensão de um David Bowie?
É da cultura católica!
David Bowwie era o Peter O'Toole da música , classy , classy , carismáticos até dizer chega :) e classy só
british ...
a maioria pareceria ridícula se aparecesse nos personagens de Bowie.
Não ia tão longe porque o O'Toole era irlandês, mas andava lá perto, sim. Por ser british.
Ser british é uma coisa sem comparação com mais nada.
Até o vocalista dos Pulp é british.
Mas eles devem explicar uma questão que até neste Natal foi motivo de conversa- os homens ingleses têm um charme especial que não o têm as inglesas (a não ser as vip ou as velhotas)
E nem sequer é o meu tipo de homem porque não me agradam lourinhos nem magros. Mas sei apreciar
eheheheheh
Do mesmo modo que as francesinhas não têm tradução nem na culinária do Porto.
Os tipos ingleses conseguem ter este dom meio lumpen meio lorde como mais ninguém.
O O'Toole era o topo de todos os topos que a Natureza criou
ehehehehe
Tal como a Audrey Hepburn que também tinha de ser british até à medula.
O Bowie era profundamente inglês (mais do que britânico), apesar de ser uma estrela internacional e de ter vivido em vários países. Uma das últimas coisas que fez enquanto a saúde permitiu (o cancro do fígado já foi a fase final, e terminal, de um período de vários anos em que esteve doente) foi levar a mulher e a filha de férias durante uma semana para Inglaterra, onde mostrou os sítios por onde passou a sua carreira em Londres, e os locais históricos do país. Recorde-se que a mulher, a Iman, é somali e sempre viveu nos EUA, e a filha também nasceu lá. Ele quis mostrar à filha, que é cidadã norte-americana, as raízes e a cultura do Pai. O filho, Duncan Jones, já quarentão, é britânico mas também está radicado nos EUA, onde é realizador de cinema.
O Bowie é o produto de uma cultura que aceita a excentricidade (há um público muito alargado que gosta desse estilo), de uma ética de trabalho protestante e de uma época em que havia curiosidade intelectual pelo estrangeiro. Ele tanto foi influenciado pelo Little Richards como por Jacques Brel, por exemplo, e por isso é tão popular em França. Fisicamente não era uma estampa, mas sempre cuidou imenso da imagem. Não era um bom músico, mas rodeou-se de excelentes músicos. Não tinha um talento inato, mas aprendeu a compor e a cantar bem. Nasceu pobre, mas tornou-se um homem de negócios espertíssimo a partir dos anos 80, depois de ter aprendido à sua custa nos anos 70. Era uma pessoa muito tímida, mas aprendeu a manipular as massas através das personagens que criava para expressar a sua música. O David Robert Jones com apenas 1,79m, magro, muito branco tinha de ter uma apresentação que pudesse captar a imaginação do público, e assim nasceu o personagem David Bowie, e depois Ziggy Stardust, Aladdin Sane, Halloween Jack, Soul Man e finalmente The Thin White Duke, até ser novamente só David Bowie.
O Bowie era acima de tudo um tipo inteligente, um fura-vidas que se fez a si próprio, tendo escolhido sempre bem as companhias para o ajudarem a chegar onde queria. De caminho cometeu todos os excessos possíveis, que lhe arruinaram a saúde a partir dos 50 anos. Pelo menos experimentou tudo, não é verdade? Ainda ontem o Toni Visconti disse que ele fez tudo o que queria, e isso é que é uma boa vida. Nós dizíamos que era um "milagre" o homem ter chegado à meia-idade e que parecia tão bem e tal. O problema é que quando elas - as doenças - começam a batê-las, nunca mais pára...
SE querem falar de alguma coisa radical, ouçam o hino da Feira do Fumeiro em Montalegre:
https://www.youtube.com/watch?v=80AQGRKEI9Y
O pessoal que hoje tem a idade que nós tínhamos quando Bowie teve muito sucesso, acham a música de Bowie uma porcaria. A minha filha, com 19 anos, não percebe como é que eu posso gostar daquelas músicas.
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O que me faz concluir que Bowie não foi um músico com um talento tal que vá marcar gerações futuras. Acho que a música dele acaba com a nossa geração.
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Pelo contrário, bifes como os Beatles, Pink Floyd, Rolling Stones, Queen etc e gringos como Doors, Elvis, BB King etc serão sempre ouvidos pelas gerações futuras.
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A intemporalidade define a verdadeira Arte.
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Rb
"O que me faz concluir que Bowie não foi um músico com um talento tal que vá marcar gerações futuras. Acho que a música dele acaba com a nossa geração."
Foda-se, este Ricciardi é um desmancha prazeres.
Deves gostar tanto do Bowie como eu dos Beatles e dos Rolling Stones. Baargh!
Gosto e tenho vários lp's. Só compro discos de quem realmente gosto.
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Porém, o que eu gosto ou deixo de gostar não define aquilo que é intemporal.
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Rb
Então o Bowie não é intemporal porque a tua filha não gosta, mas os Doors, com aquele som irritante, são?
Sim. Há bandas com musicas perfeitamente intemporais. É a vida.
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As do Bowie parece-me que ficam na memória da geração anterior à dos meus filhos. A minha. E morrem connosco.
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Rb
'ya ya o elvis é bué ouvido , o bb king tb e o carlos gardel idem , aqui pla minha avó.
Marina é natural que tu oiças Justin Biber. Mas de certeza que sabes cantarolar músicas do Elvis. Do BB King talvez não saibas porque imitar uma guitarra com a voz não é facil.
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Mas eu consigo. Oh vê: teum reum teum teuuuumvteum teum péum.
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E agora repara neste final:
Taunt tin tiiiiiiin... Uéumm.
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Rb
Eu poso explicar e na 1ª pessoa
Por acaso também concordo com o da Cubata nesta questão.
Não é intemporal porque mais que músico era um personagem que se teatralizava.
Mil vezes melhor é e foi o Paul Mc Cartney mas pelas líricas e melodias intemporais que compôs.
O Bowie era para ser visto. Mas dentro do género foi mil vezes melhor que o Michael Jacksnon e duvido que a filha dele, tal como a geração dela, não desgoste.
E a Madona, já agora que é trampa e tem mais fãs que todos juntos.
Ou a idiota da Lady Gaga.
V.s falam de música e a Marina e eu falamos de outra coisa- de personagem com carisma que se tornou vedeta à conta da música.
São coisas diferentes. Eu nem sequer aprecio particularmente a voz dele.
Até acho que gostava mais do Ian Dury. E cheguei a ir vê-lo.
Marina: gostas do Renato Carosone?
Eu adoro e é velho para a minha geração.
Mas o que ele fez é intemporal e lava a alma mais encardida e coriácea
E o Elton John? também é intemporal ou de uma geração ou uma treta que já se imortalizou?
No campo do espectáculo há lugar para tudo. Não estamos a falar exclusivamente de genialidade musical ou de grandes compositores ou cantores.
E o Lou Reed?
A geração de agora também não gosta e ele deixa de ficar na História por esse motivo.
Sei lá eu que gostos tem a geração tuga do presente. Se for pelo que produzem, bem podem limpar as mãos à parede.
Para exemplo: há uma hora atrás estava num grupo de pessoas das artes, entre a minha idade e os 20 anos.
Falei no Vinicio Capossela. Ninguém conhecia.
É normal?
Será que também já nem conhecem o Tom Waits?
Há uma mania muito parva que as pessoas tendem a ganhar depois dos 40.
A de quererem parecer mais novos a todo o custo, incluindo perderem capacidade de crítica e copiarem ou tomarem por lei o que qualquer jovem diz.
Ainda bem que tive quem me educasse o gosto. Porque o gosto educa-se e andar a reboque da falta dele por quem ainda o não tem educado é que é estupidez.
Oiço muitas professores repetirem os disparates dos alunos e depois garantirem que o futuro é esse. E tomarem até por exemplo sociológico mundial o que meia dúzia de melros de uma terrinha qualquer é capaz de afirmar.
eu penso que eles , todos , são ícones de um determinado tempo : todos eles irão aparecer nos livros de historia da música e do cinema , serão importantes para alguns melómanos , curiosidades ou modelos para determinadas "tribos" e mais nada . nenhum deles é intemporal no sentido de serem ouvidos por muiiiita gente , durante muito tempo , séculos . serão ouvidos em nichos e figurarão nas antologias e documentários , mais nada. intemporal é o folclore , a música popular , e alguns compositores clássicos.
deixem lá de ser cronocentristas :)
Sim e não. Nem o folclore é intemporal e também o que é clássico tende a ficar circunscrito a nichos.
Os revivalismos demonstram precisamente o contrário do que disseste aí em cima- que determinada música era dos teus avós.
A de hoje até vai buscar aos trisavós. E estou a falar daquilo que se apelida entretenimento e "ligeira".
O mesmo em relação às artes plásticas. Não há progresso na Arte, portanto falar em coisas fora de moda é que é parvo.
Mas a qualidade é outra coisa. E o critério de qualidade não se aplica nem por modas nem sequer por distinções estanques entre o que se chama erudito e o popular.
Há é trabalho mil vezes mais difícil e elaborado numa sinfonia do que num jingle. Tal como num romance por comparação com um conto.
Esta conversa vem mais a propósito do que estava a dizer no Bic Laranja, do qual discordei.
O Roy Orbison foi mais importante que o Elvis mas o Elvis ficou mais conhecido.
Por motivos extra-musicais.
pois , é como dizes , há coisas da moda e há as outras.
o elvis foi uma estrela de cinema , promovida por holiwood , ficou na moda :)
Zazie, com essa você abaixo. O Paul McCartney é o Tony Carreira de Inglaterra! Não confundir com os Beatles. O John Lennon era muito respeitado, o outro a solo é popularucho. Só as sopeiras gostam daquilo.
Pois, está bem. Não sabes o que dizes mas julgas-te crítico musical.
O Lennon não compôs nem 1/3 do que o Mc Cartney compôs. E estou a falar de melodias. Coisa acerca da qual existem demasiados preconceitos.
Na altura até havia a dicotomia palerma de uns dizerem que eram mais pelos Roling Stones do que pelos Beatles, pelo mesmo preconceito anti-melodia.
Tenho ideia que isso nasceu com o jazz moderno (não com os blues). Faz parte da desmontagem estética da arte moderna.
Não se pode ser nem melodioso nem fazer coisas bonitas para não se ser apelidado de foleiro.
Quando o foleiro é outra coisa.
E atenção que o Tony Carreira é do mais profissional que há em Portugal. É uma "indústria". Claro que não suporto aquela música, mas não deixo de ver a máquina que tem por detrás, e por isso é que o comparo ao McCartney. As músicas do ex-Beatle cantadas em português eram de escangalhar a rir. Já o Life on Mars, por exemplo, é uma melodia lindíssima em qualquer língua, ou só em instrumental, como se vê nesta homenagem.
http://www.dailymail.co.uk/news/article-3395251/Spine-tingling-footage-shows-organists-playing-David-Bowie-s-Life-Mars-moving-tribute-star.html
O Lennon tem tretas em que toda a gente adora embandeirar, com o Imagine.
Não sabes o que dizes.
Nunca te educaram o ouvido, é o que é. Falas por preconceito e esse preconceito até tem barbas.
Eu gosto muito da Ritinha - a Rita Braga, precisamente por ser uma rapariga nova a leste de todos esses preconceitos.
E até vai buscar coisas aos anos 20, se for preciso.
Ter dom e talento musical é outra coisa e nada tem a ver com papaguear ou fazer o mesmo que o grupo faz.
E a música é um tipo de arte muito mais abrangente onde o efeito dançante ou meramente distractivo impede esses espartilhos todos.
A malta do jazz é que tem a mania.
E eu sou hiper-crítica em relação a tudo o que tenha a ver com estética.
Até dizem que sou esteticamente nazi- nos mais pequenos pormenores.
Mas gosto de leveza também e não a confundo com o que é foleiro.
Tal como não tenho os preconceitos de muito palerma em relação aos ranchos folclóricos.
Agora música pimba ou anedotas grunhas "jamé".
O meu nazismo estético deixa-me no dilema de ter de comprar ou não um Mac porque pura e simplesmente não aguento a trampa do grafismo "flat" e bimba do windows 10.
Não largo o 7 enquanto não voltarem ao aero.
E ainda no outro dia tive de comprar um template para um blogue morto.
O Cocanha está morto mas com template bonito que comprei para o funeral
ehehehehehe
Ora vão lá e digam se é mentira:
http://cocanha.com
(de caminho têm a playlist para poderem aferir as palermices que também gosto de ouvir para ficar bem-disposta ou dançar enquanto lavo a loiça)
ehehehehehe
Bem, as músicas intemporais são aquelas que marcam uma epoca e um estilo. Dos anos 20/30 temos músicas que os meus filhos sabem cantarolar. Músicas que criaram estilos novos como o swing e o charlston. E que serão cantaroladas pelos meus bisnetos. Armstrong é dessa altura e pode ser dado como um exemplo.
Saberão cantarolar uma Edit Piaf tambem.oh rien de rien.
Mais tarde musicas dum Bob Marley nunca deixará de ser cantarolado. Marcou um estilo, o reggie. Pela mesma altura na área rock pop uma janis joplin, jim, beatles, stones, pink, queen produziram músicas que definiram um estilo e até correntes sociais com implicações politicas. De certeza que os meus bisnetos vão saber cantarolar 'oh lord can you buy me a Mercedes benz' ou cantarolar o bohemian rapsody ou algumas do the wall ou ainda ' some girls' dos stones.
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É desta intemporalidade de que falo. Que sobrevive para além das modas porque marcam estilos, acontecimentos.
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Na pintura e escultura tb é um bocado assim. Quem marcou o cubismo, o impressionismo, são aqueles que perduram e jamais serão esquecidos.
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Rb
Sim. Perfeitamente de acordo.
A isso até se chama ser um clássico. E concordo que por aí o Bowie não tenha os requisitos para chegar a tanto.
A arte, na minha opiniao, é a capacidade dalguem de produzir algo original e marcante. Vai para além do talento. E para definir aquilo que é arte é preciso saber. Conhecer. Estudar. Perceber. A arte nao se define pelos nossos gostos. Nem interessa muito se gostamos da obra ou não. Interessa sobretudo perceber o contexto do artista, a vida, a originalidade, aquilo que está por trás daquilo que vemos.
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Rb
A Ritinha percebe esse fenómeno e daí usar o ukelele para transformar esses clássicos numa coisa diferente inventada por ela.
Em matéria de vozes femininas só consigo gostar das que são mesmo hiper-femininas.
Nos homens é mais pelo timbre.
Sim, também é verdade.
Por isso mesmo é preciso perceber o que é bom para lá de gostarmos ou não.
E isto aplica-se a tudo.
Quando disse que o Peter O'Toole foi a mais perfeita maravilha produzida pela Natureza estava a pensar nisso. Porque até nem é esse o meu tipo de homem
ehehehehehe
No entanto, aqui para nós, aprende-se aquilo para o qual já vimos preparados à nascença para perceber.
Não se ensina tudo. Nem a fazer nem a perceber.
É por isso que se fala em gosto. Hoje em dia essa palavra foi banida mas é estupidez porque existe. Assim como existe a falta dele.
No caso das artes plásticas até é preciso perceber o que marcou uma época apesar de ser uma treta.
A minha vida é mais ou menos contar isso e depois inventar outras coisas muito mais livres.
Mas, também não acredito em quem seja calhau e papagueie e viva da arte e depois nem se saiba vestir.
":OP
E as pessoas mudam. Estranhamente o gosto também se perde.
Às vezes percebe-se isso nos mais pequenos detalhes. Nuns acrescentos que começam a "borrar a pintura toda".
Talvez haja uma espécie de sensibilidade que nasce connosco. Mas eu acho que isso define mais o artista e não a análise do artista.
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Rb
O que analisa continua a obra por outros meios.
É o dom da ekphrasis (coisa que infelizmente não tenho porque sou mais visual que palavras).
Por esse preciso motivo é que não se pode ser crítico de tudo e um par de botas, como agora é moda.
É preciso ter um dom especial e esse dom não existe para todas as artes.
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