22 junho 2015

ver-se grego

«O grego foi sempre tomado na romanidade como coisa difícil.
«Na Idade Média era até frequentíssimo este dito, muito usado pelos que faziam transcrições ou traduções: "Graecum est, non legitur" – "É grego, não se entende". Inda hoje se diz – "isto para mim é grego", ou seja, "não percebo nada disto".
«O ver-se grego não deve provir de se tornar grego no sentido de se ver como natural ou habitante da Grécia. No entanto, o mistério em que sempre se tem envolvido o que é grego, por menos acessível ao comum das gentes, decerto influiu no facto de a palavra grego se haver aplicado aos ciganos, cuja origem tanto mistério encobre, mas que se julgaram oriundos do antigo impériogrego.
«Escrevi, por isso, no Glossário Crítico de Dificuldades que ver-se grego deve relacionar-se com os ciganos: "Supostos estes oriundos do antigo império grego, aos ciganos se chamou gregos. A sua vida cheia de dificuldades, perigos, aventuras, perseguições, deu lugar a que se veja grego quem sofra percalços ou se veja neles.
«Por um lado, a linguagem dos ciganos, o protótipo do ininteligível, por outro lado, a confusão de ciganos com gregos da Ásia Menor e a sua vida cheia de peripécias, de dificuldades do ciganear, tudo isto misturado é o que dará a origem do ver-se grego 

Vasco Botelho de Amaral, em Mistérios e Maravilhas da Língua Portuguesa (Livraria Simões Lopes, Porto, 1950)

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