O Joaquim tem vindo a comparar o regime político-partidário actual com o Estado Novo do ponto de vista do número de presos sem culpa formada, e o Estado-Novo sai muito airosamente da comparação.
Na realidade, existe um texto de Salazar (mas que, neste momento, não consigo localizar) em que ele, referindo-se à situação pré-28 de Maio, dizia que um dos aspectos que a caracterizava era a existência (cito de cor) "de milhares de portugueses presos sem saberem porquê".
A situação actual não é, portanto, nova, e, tal, como então, antecede muito seguramente a emergência de um regime político mais autoritário.
É o colapso do Estado de Direito, uma instituição protestante com a qual os portugueses nunca conseguiram viver, uma instituição que põe a lei acima do homem quando a cultura católica põe o homem acima da lei (na figura paradigmática do Papa). A pessoa humana não se fez, como pretende a ideia do Estado de Direito, para servir a lei. É ao contrário, como diz o catolicismo - a lei é que se fez para servir a pessoa humana.
A ideia do Estado de Direito tem a sua origem mais remota em Kant, que afirmava que o homem nunca pode chegar à verdade (na realidade pode, pelo menos a esta - a de que não se pode chegar à verdade), e que da verdade não conhecemos senão manifestações ou indícios. Hans Kelsen, um dos expoentes do moderno positivismo jurídico foi mesmo mais longe dizendo que Cristo não veio ao mundo para dizer a Verdade, mas para fazer Justiça. (A realidade é que Cristo disse "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" e não "Eu sou o caminho, a justiça e a vida").
Daqui resulta que, nesta cultura por nós importada após o 25 ed Abril e mais acentuadamente após a nossa adesão à UE,, a Verdade não interessa para nada. A Justiça faz-se independentemente da Verdade, e com base apenas naquilo que parecem ser manifestações da Verdade - os indícios.
Nos anos 20 em Portugal a democracia partidária caiu pelo colapso da Justiça, embora a situação económica e financeira do país também tivesse contribuído.
Está a acontecer outra vez. A cultura católica dos portugueses continua a não conseguir viver com as instituições da cultura protestante.
3 comentários:
Com este camarada aprende-se sempre imenso : fiquei a saber que hoje, tal como no período que precedeu o 28 de Maio, há milhares de portugueses presos sem saberem porquê.
Vejo com este texto que o PA adoptou uma determinada (e errada) narrativa a fazer equivaler a I República a um regime democrático como o saído do 25 de Abril...
E depois do 28 de Maio, deixaram de haver "milhares de portugueses presos sem saberem porquê"?
Rui Silva
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