01 outubro 2014

Pela malícia

A propósito de um comentário que troquei com o D. Costa num post em baixo, ocorreu-me a questão: E como é que se identifica a populaça?

Pela malícia.

Existe mal naquilo que escrevem - dirigido a uma pessoa ou a uma coisa. Vê-se logo pelo tom.

13 comentários:

Anónimo disse...


Gostaria de saber é como o PA, ou os católicos (na sua versão), respondem à questão:
E como lidar com a malícia?

D. Costa




Anónimo disse...


Se bem entendo o PA para os católicos a resposta deve ser teológico (= não há justiça, há apenas verdade).

Para os protestantes a resposta só pode ser política (= a verdade não existe em termos teológicos, podemos responder apenas através da lei e da justiça humanas).

Kant afirmava que o problema de instaurar um estado justo é solúvel até mesmo para uma nação de demónios.
Um estado justo não requer, tal como as pessoas costumam dizer, uma nação de anjos: “por mais estranho que isso possa soar, o problema de instaurar um estado [i.e., o estado justo] é solúvel até mesmo para uma nação de demónios, desde que eles sejam razoáveis” (Kant).

Por outras palavras: Se o nosso egoísmo e brutalidade forem iluminados poderemos ser “razoavelmente” justos.

D. Costa

Diogo disse...

Caro Pedro Arroja,

A Igreja católica e outras definem Deus como «o criador de todas as coisas», «omnipotente», «omnisciente» e «infinitamente bom».

Como é que um Deus infinitamente bom, que já sabia tudo o que ia acontecer, cria um mundo tão execrável como este?

Eu, que não sou infinitamente bom, nunca o faria. Você tem alguma explicação razoável?

zazie disse...

É um execrável, principalmente por causa dos efeitos do sol na moleirinha dos comunas.

Anónimo disse...


"Como é que um Deus infinitamente bom, que já sabia tudo o que ia acontecer, cria um mundo tão execrável como este?"
- Diogo

Caro Diogo,
Não sei nem imagino a resposta do PA.
Mas a sua questão sempre foi discutida desde Epicuro até Spinoza.

A resposta é simples: não podemos utilizar os nossos (necessariamente limitados) critérios morais para julgar o desígnio divino.

Para o judaísmo, uma religião racional ao contrário do catolicismo, não devemos ter uma percepção e um conceito moral sobre Deus.
Caso contrário enlouquecemos.

Martin Bubber dizia: " He who loves God only as a moral ideial, can easily arrive at despairing of the guidance of a world the appearance of which contradicts, hour after hour, all principles of his moral ideality"

D. Costa



Anónimo disse...


Mas para Martin Buber, como para mim, a solidão é um lugar de purificação.
Sabemos que o PA discorda destes conceitos (são coisas que vem do estrangeiro...).

Diante da populaça Savonarola gritava: Penitenza, Penitenza!

O Papa não teve dúvidas, teológicas ou não teológicas.
Mandou enforcar Savonarola.

D. Costa


Anónimo disse...

Não é com malícia que o Dr. Arroja é classificado como: «monte de esterco», «velho amaricado», «papagaio de laca», «choninhas», «Trimalcião», «analfabeto», «iletrado», «inculto» ou, mais coloquialmente, «filho duma grande puta». É assim descrito, simplesmente, por amor à verdade.

Francisco disse...

Ainda na senda da resposta do D. Costa ao Diogo, para Kierkegaard (protestante, suis generis, mas ainda assim protestante), existe uma distinção entre moral humana e moral divina. Segue daí que Deus pode exigir de nós coisas que sentimos ser completamente imorais. Caso contrário, não era preciso Deus para justificar a moral, bastava o instinto moral humano para nos guiar. A moral ateísta seria igual à religiosa. Assim não faria sentido em dar exemplos de coisas más como provas de que Deus não é bom ou omnipotente

Não digo isto para tentar convencer alguém das ideias do Kierkegaard, ou mesmo para justificar Deus. Apenas para ilustrar que a questão que o Diogo põe não é nada em que a religião já não se tenha debruçado, e que em segundo inúmeras interpretações, como o Kierkegaard é só mais um exemplo amalucadamente interessante, esse problema não se coloca de todo.

Rui Alves disse...

Como é que um Deus infinitamente bom, que já sabia tudo o que ia acontecer, cria um mundo tão execrável como este?

Caro Diogo

Deus não criou um mundo execrável, nós é que usamos erradamente a sabedoria e a liberdade de escolha que nos foi por Ele concedida. É isso que está representado na história de Adão e Eva. A famosa metáfora de terem sido expulsos do Paraíso significa isso mesmo.

Alguns detractores da religião em geral, e da Igreja Católica em particular, tipo Carl Sagan, perguntavam porquê que Deus na Sua sabedoria não nos fez dóceis e obedientes. Bem, para dóceis e obedientes, Deus criou os carneiros. A nós, ofereceu-nos sabedoria para distinguir entre o Bem e o Mal, mais a liberdade de decidir entre os dois.

E admitindo a existência de um Criador, há que reconhecer a insignificância do nosso raciocínio e do nosso entendimento perante os de um Ser tão supremo. Por isso é que aquilo que na nossa limitada visão parece contraditório e sem sentido, pode ter uma lógica que ultrapassa o nosso alcance, e envolver realidades que nós não conhecemos.

Daí afirmamos que os desígnios de Deus são insondáveis. A Bíblia tem pelo menos duas passagens, uma no Antigo Testamento (Isaías 55,8-9) e outra no Novo Testamento (Mateus 20,1-15) onde trata disso mesmo, e nos explica que Deus define as regras, e ao invés, não nos compete a nós ajuizar, com a nossa limitada percepção da realidade, as regras que Deus deve seguir.

Termino com um elogio. Oxalá houvesse mais gente como você a colocar este tipo de questões e a levantar estas inquietações. Até ao ponto em que se discutissem livremente estes temas nos bancos da escola e nas salas de aula com o desassombro com que você o faz. Porque isso, ao invés de enfraquecer a religião, fortalecê-la-ia muito mais.

zazie disse...

Se ele dissesse que fez pessoas com alguma coisas execráveis, ainda vá.

Agora o mundo?
O mundo é execrável e o palerma fazia melhor?

Está a mal com a Natureza e com tudo o que existe, só pode.

O problema é dele- se até a Vida considera execrável.

mm disse...

Em privado, Pedro Arroja, em privado.

Nao venha tecer as suas querelas com a populaca aqui em público

Unknown disse...

O Diogo quando morrer vai querer um funeral? OLhe que isso é muito espiritual e aparentado com religião...

Ou vai ser arrastado logo para uma incineradora para que o seu corpo não seja fonte de doenças e a sua memória e emoções esquecidas?

Se está morto está morto e siga em frente!

Anónimo disse...

A populaça. Ver The Holy See: Radiomensaje «Benignitas et Humanitas» de su Santidad Pío XII en la víspera de Navidad. 24 de diciembre de 1944 — Sexta Navidad de guerra
«Benignitas et humanitas apparuit Salvatoris nostri Dei» (Tt3,4).

Pueblo y «masa»
De esto se deduce una primera conclusión necesaria con su consecuencia practica. El Estado no contiene en sí ni reúne mecánicamente en determinado territorio una aglomeración amorfa de individuos. Es y debe ser en realidad la unidad orgánica y organizadora de un verdadero pueblo.
Pueblo y multitud amorfa o, como se suele decir, «masa» son dos conceptos diversos. El pueblo vive y se mueve con vida propia; la masa es por sí misma inerte, y no puede recibir movimiento sino de fuera. El pueblo vive de la plenitud de la vida de los hombres que la componen, cada uno de los cuales — en su propio puesto y a su manera — es persona consciente de sus propias responsabilidades y de sus convicciones propias. La masa, por el contrario, espera el impulso de fuera, juguete fácil en las manos de un cualquiera que explota sus instintos o impresiones, dispuesta a seguir, cada vez una, hoy esta, mañana aquella otra bandera. De la exuberancia de vida de un pueblo verdadero, la vida se difunde abundante y rica en el Estado y en todos sus órganos, infundiendo en ellos con vigor, que se renueva incesantemente, la conciencia de la propia responsabilidad, el verdadero sentimiento del bien común. De la fuerza elemental de la masa, hábilmente manejada y usada, puede también servirse el Estado: en las manos ambiciosas de uno solo o de muchos agrupados artificialmente por tendencias egoístas, puede el mismo Estado, con el apoyo de la masa reducida a no ser más que una simple maquina, imponer su arbitrio a la parte mejor del verdadero pueblo: así el interés común queda gravemente herido y por mucho tiempo, y la herida es muchas veces difícilmente curable.
Con lo dicho aparece clara otra conclusión: la masa — como Nos la acabamos de definir — es la enemiga capital de la verdadera democracia y de su ideal de libertad y de igualdad.
En un pueblo digno de tal nombre, el ciudadano siente en sí mismo la conciencia de su personalidad, de sus deberes y de sus derechos, de su libertad unida al respeto de la libertad y de la dignidad de los demás. En un pueblo digno de tal nombre, todas las desigualdades que proceden no del arbitrio sino de la naturaleza misma de las cosas, desigualdades de cultura, de bienes, de posición social — sin menoscabo, por supuesto, de la justicia y de la caridad mutua — no son de ninguna manera obstáculo a la existencia y al predominio de un auténtico espíritu de comunidad y de fraternidad. Más aún, esas desigualdades, lejos de lesionar en manera alguna la igualdad civil, le dan su significado legítimo, es decir, que ante el Estado cada uno tiene el derecho de vivir honradamente su existencia personal, en el puesto y en las condiciones en que los designios y la disposición de la Providencia lo han colocado.
Como antítesis de este cuadro del ideal democrático de libertad y de igualdad en un pueblo gobernado por manos honestas y próvidas, que espectáculo presenta un Estado democrático dejado al arbitrio de la masa! La libertad, de deber moral de la persona se transforma en pretensión tiránica de desahogar libremente los impulsos y apetitos humanos con daño de los demás. La igualdad degenera en nivelación mecánica, en uniformidad monocroma: sentimiento del verdadero honor, actividad personal, respeto de la tradición, dignidad, en una palabra, todo lo que da a la vida su valor, poco a poco se hunde y desaparece. Y únicamente sobreviven, por una parte, las victimas engañadas por la fascinación aparatosa de la democracia, fascinación que se confunde ingenuamente con el espíritu mismo de la democracia, con la libertad e igualdad, y por otra, los explotadores más o menos numerosos que han sabido, mediante la fuerza del dinero o de la organización, asegurarse sobre los demás una posición privilegiada y aun el mismo poder.