06 outubro 2014

o escreva contigo

A capacidade de escolha é um atributo sobretudo feminino, muito mais que masculino. A esmagadora maioria das escolhas que são necessárias na vida corrente de um homem, não são feitas por ele, mas por uma mulher em lugar dele.

Mesmo naquelas escolhas em que ele aparece de modo mais visível - como é por exemplo, a escolha da casa de família, e sobretudo nesta escolha -, não é ele que escolhe, é ela. Ele apenas está lá para validar a escolha, que, neste caso, implica sérios compromissos financeiros pelos quais ele se sente responsável.

Como é que eu sei que é assim?

Experimente escolher a casa de família contra a vontade da sua mulher e vai ver como a sua vida se transforma num inferno a partir desse preciso momento. Um inferno que só vai terminar quando você mudar para uma casa escolhida por ela, ainda que validada por si.

A escolha é um atributo sobretudo feminino, são as mulheres muito mais que os homens que (por tradição) sabem escolher. Os homens normalmente escolhem em assuntos marginais, assuntos que não são essenciais para a vida.

Por isso, ver um homem a reclamar a liberdade de escolha é um assunto que  hoje me faz sorrir. É uma pretensão de adolescente, é o homem a querer entrar no terreno da mulher, um terreno onde ele é, em comparação com ela, notoriamente incompetente.

Aconteceu assim com o economista Milton Friedman. Ele é o autor do famoso "A Liberdade de Escolher". Curiosamente, é o único livro da sua autoria co-autorado pela mulher, a também economista Rose Friedman. Em algumas edições do livro, ela aparece na capa junto a ele.

Eu estou agora a imaginar o diálogo entre o casal quando Friedman anunciou à mulher o projecto do livro:

-Rose, vou escrever um livro sobre "A Liberdade de Escolher"...

-O quê ... sobre a liberdade de escolher?... mas tu sabes lá escolher... É melhor que eu o escreva contigo para que tu não digas  asneiras...


7 comentários:

zazie disse...

Se for casa para viverem, sim.

Se for para negócio, não.

zazie disse...

E achei piada à questão porque tivemos esta conversa familiar há bem pouco tempo.

Rui Alves disse...

Então e a Igreja Católica? As paróquias? Supostamente governam os tais homens que não sabem decidir.

Os homens normalmente escolhem em assuntos marginais, assuntos que não são essenciais para a vida

Admitindo a validade deste afirmação, ela encerra em si um paradoxo:

Os homens não escolhem nas decisões importantes da vida, no entanto escolhem a mulher que vai tomar por eles tais decisões. Ora, mas isso não é uma escolha importante, fundamental até?

Pedro Sá disse...

Lá que o PA seja um completo pau-mandado da mulher e tenha os seus complexos de inferioridade...

Agora a sua mulher é que escolhe por si o restaurante e qual a comida? O seu guarda-chuva etc etc.?????

Anónimo disse...

Se o Rui Alves fosse às paróquias por esse país fora, veria que quem as governa de facto são as mulheres. Os homens, padres, estão lá para a difícil gestão de sensibilidades contraditórias, para tomar decisões (finais), para as assumir e, nas correctas palavras de PA, para validar as escolhas.
Pedro Cruz

Rui Alves disse...

Caro Pedro Cruz

Não posso contradizê-lo, pois não sei a que paróquias se refere. Mas numa paróquia que conheço bem e onde inclusive colaboro, o sacerdote é quem manda. Ponto.

Nenhuma mulher escolhe os ministros ou ministras da comunhão para ele validar. Ele é quem nomeia tais pessoas, exclusivamente de seu critério.

Nenhuma mulher lhe calendariza os domingos destinados a baptizados. É ele que gere essa agenda.

Agora, claro que há decisões em que ele apenas intervém para validar. Por exemplo, ele valida as datas de eventos da catequese propostas pelas catequistas, ou as músicas litúrgicas propostas pelo organista para determinado domingo festivo. Mas isso nada tem a ver com ser homem ou mulher, trata-se de delegação de competências.

Anónimo disse...

Caro Rui Alves,
Evidentemente, o meu comentário supra tb não tem base científica. Mas nas paróquias que conheço - de forma mais ou menos distanciada, em ambiente urbano e em ambiente rural -, do que me apercebo é que são na sua maioria mulheres que se encarregam dos mais variados assuntos: Organizam a catequese, o coro, a escala dos leitores, a decoração da igreja, as festas, o apoio social, o acolhimento de casais, a preparação dos baptismos, etc. Quando os há, estão em maioria nos Conselhos Pastorais e, por vezes, no Conselhos Económicos. E levam quase sempre, mais cedo ou mais tarde, a água ao seu moinho. O prior é que manda? Sim. Cumprindo as regras e gerindo sensibilidades. O poder formal é sempre dele e eu nada disse em contrário. Mas experimente ele decidir demasiadas vezes contra a opinião das mulheres que com ele colaboram..., mesmo no agendamento das festas móveis e na escolha dos ministros. O que lhe vale é que elas muitas vezes têm as suas rivalidades.
Pedro Cruz