14 setembro 2014

diferença de culturas

Vou prosseguir agora o post anterior para ilustrar a diferença de ideias prevalecentes na família (cultura católica) e no grupo de irmãos que se separaram da família (cultura protestante) que referi aqui.

Não serei exaustivo e deixarei ao leitor a tarefa de completar este exercício.

Na família existe diferença (e hierarquia) e todos se apercebem das diferenças, um é o pai, a outra é a mãe, existem depois os filhos. Pelo contrário, no grupo de irmãos aquilo que prevalece é a igualdade, eles vêem-se a si próprios como iguais. Daí o ênfase católico na diferença e o ênfase protestante na igualdade.

Há certas questões essenciais da vida às quais o grupo isolado de irmãos nunca conseguirá responder, por exemplo: "Quem é o nosso pai?". Para saberem a verdade acerca desta questão eles precisavam de estar junto da Mãe, a única pessoa que lhes pode responder com verdade absoluta a esta interrogação. Quando muito eles podem formular opiniões ou conjecturas, mas não podem nunca chegar à verdade. Daí o ênfase protestante na opinião (por exemplo, Kant, o filósofo do protestantismo luterano, é categórico acerca de que o homem não pode chegar à verdade) e o ênfase católico na verdade (os filhos que permaneceram na família e junto da Mãe podem saber a verdade acerca desta questão).

Na família a pessoa mais importante é a Mãe, e os filhos que permanecem na família vão dar-se conta disto. Entre outras coisas é a Mãe que  resolve a maior parte dos conflitos entre os filhos, sem necessidade de intervenção do Pai. Pelo contrário, no grupo isolado de irmãos os conflitos vão ser resolvidos, em última instância, pela força física e aí prevalece a dos homens. Por isso, a cultura católica é uma cultura feminina, dando prevalência à mulher, enquanto a cultura protestante é uma cultura masculina, dando prevalência ao homem.

Os problemas da família resolvem-se normalmente em privado e daí o carácter privado da cultura católica. Pelo contrário, os problemas que afectam o grupo separado de irmãos  vão-se discutir e resolver em público, e daí o carácter público da cultura protestante. Na realidade, foi trazendo a público  - e, por essa via, angariando apoios para a sua causa - problemas que deveriam ter sido tratados na privacidade da família, que eles se constituíram em grupo separado, cresceram e aumentaram o seu poder e influência. 

Na família há regras e códigos de comportamento, mas umas e outros são não-escritos. Os pais estabelecem para os filhos regras e códigos de comportamento que herdaram dos seus próprios pais e avós, com um ou outro ajustamento aos novos tempos e ao lugar. A família é governada pela Tradição e são os pais (e avós) que a passam aos mais novos. No grupo separado de irmãos, não há tradição porque eles vivem apartados da família. Como é que eles se vão então organizar para viverem em conjunto? Vão de volta aos livros (aquilo que os protestantes primeiro fizeram foi ir de volta às Escrituras e renegar a Tradição, impondo o princípio "Sola Scriptura"), estudá-los, discuti-los em público e depois, logo que haja um consenso mínimo, impor as regras e os códigos de comportamento através de Leis escritas.
Daí o ênfase católico na Tradição e o ênfase protestante na Lei.

O valor principal prevalecente na família é o amor e está lá em diferentes variantes - paternal, filial, fraternal, maternal, romântico. O mais importante, e o mais forte de todos, é o amor maternal e é ele também o mais decisivo para manter a família unida, isto é, como uma comunidade, e não meramente como uma associação ou sociedade. No grupo separado de irmãos existe o amor fraternal, mas este não é, nem de longe, a variedade mais forte do amor. Presta-se a ser facilmente desalojado por outras tendências do espírito humano, como o interesse ou o desejo de poder.
O lema da família é "Um por todos e todos por um", enquanto o lema prevalecente no grupo de irmãos facilmente se torna diferente, por exemplo, "Cada um por si" (calvinismo, liberalismo) ou "Todos por todos" (luteranismo, socialismo).
Daqui resulta o ênfase católico no amor por contraposição ao ênfase protestante no interesse-próprio ou no poder das massas.

1 comentário:

Pedro Sá disse...

Não vá ler a História da Vida Privada que não é preciso...