28 setembro 2014

Ciência da Governação

Nós temos andado a viver do debate entre duas ideologias que são falsas - o liberalismo e  o socialismo, a segunda mais falsa ainda do que a primeira. Ambas são ofensivas da nossa cultura católica - a segunda também mais do que a primeira -, que nasceram dela e contra ela.

A instituição que mais contribui para propagar e difundir estas ideologias (presentemente em Portugal, mais a segunda do que a primeira) são as universidades, e especialmente as Faculdades de Direito e de Economia.

A própria organização do ensino em ciências sociais e humanas, incluindo disciplinas como o Direito, a Economia, a Política e a Sociologia é protestante porque divide o saber necessário à governação de uma sociedade (mais certeiramente, uma comunidade) em compartimentos separados.

Dividir, separar, partir, excluir são características típicas da cultura protestante. Católicas são as características opostas: juntar, unir, compor, incluir.

A fraqueza intelectual em que o catolicismo se encontra face às ideologias saídas do luteranismo (socialismo) e do calvinismo (liberalismo) reside em o catolicismo nunca ter articulado uma  ciência social (ou várias) que servisse de contraponto às várias ciências sociais do protestantismo (Direito, Economia, Política, etc.).

A chamada Doutrina Social da Igreja foi a este respeito um grande falhanço. Desde a sua fundação com a Encíclica Rerum Novarum  do Papa Leão XIII, publicada em 1891, a Doutrina Social da Igreja foi sempre, e em primeiro lugar, uma arbitragem entre liberalismo e socialismo (isto é, entre as duas ideologias principais com génese no protestantismo) e nunca um discussão  racional e coerente acerca da organização de uma sociedade baseada na doutrina católica.

É esta ciência social que é preciso construir.

E será uma ou serão várias as ciências sociais do catolicismo, como várias são as do protestantismo (Direito, Economia, Política, etc.)?

Será uma apenas, porque, ao contrário do protestantismo, o catolicismo não separa - integra. A justiça não vive separada da economia e esta da política. Vivem todas em conjunto e interligadas.

Poderia chamar-se Ciência da Governação.

12 comentários:

Euro2cent disse...

> duas ideologias que são falsas

Uma ideologia pode ser falsa? E se tiver muito sucesso em indicadores económicos, ou adesão popular?

Pergunta sincera, a questão intriga-me. Será que uma ideologia é uma ferramenta, como um martelo? Ou uma virose, como a gripe?

zazie disse...

eheheh

Ideologia falsa é a que promete brinde e depois balda-se.

zazie disse...

Farto-me de rir com estas confusões dos economistas.

Como aquilo da economia também não é carne nem peixe e nunca acerta nas contas, lá julgam que as teorias só podem ser agit prop

zazie disse...

De todo o modo o que o PA está a dizer é que é preciso recuar a Tomás de Aquino.

Os neotontos vão já dizer que não é preciso porque existem aqueles escolásticos ibéricos e tal e coisa (mais coisa menos coisa)

menvp disse...

PARA QUE CERTOS SECTORES DE ACTIVIDADE NÃO VENHAM A «FICAR ENTREGUES À BICHARADA»


É uma actividade complementar à regulação... e faz todo o sentido
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-> No blog "'Fim-da-Cidadania-Infantil'" faz-se referência ao facto de ser necessário uma apresentação sistemática da actividade governamental... para que... quem paga (vulgo contribuinte) possa ter/exercer uma atitude crítica (nota: o seu Direito de Veto).
-> De uma forma análoga, as empresas públicas devem apresentar de forma sistemática a sua actividade (nota: a definir caso a caso... consoante o tipo de actividade da empresa pública)... para que... o consumidor/contribuinte possa ter/exercer uma atitude crítica!
Um exemplo: quiseram introduzir taxas em cada levantamento multibanco... todavia, no entanto, o consumidor/contribuinte reagiu: "o banco público C.G.D. apresentava lucros... sem ser necessário a introdução de mais uma taxa"!?!?!
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Resumindo:
1- ficar à espera de auto-regulação privada/(de mercado) é coisa de otários...
2- a Regulação Estatal é necessário... todavia, no entanto... é algo que poderá ser um tanto ou quanto contornável... (uma nota: ver casos do BPN e do BES)
3- para que certos sectores de actividade [exemplo 1: a actividade política; exemplo 2: sectores estratégicos da actividade económica] não venham a «ficar entregues à bicharada»... é necessário que exista uma apresentação sistemática da sua actividade [ex. 1: governo; ex. 2: EMPRESAS PÚBLICAS em sectores económicos estratégicos] ... para que... o consumidor/contribuinte possa exercer uma constante atitude crítica!
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P.S.
Uma opinião um tanto ou quanto semelhante à minha:
Banalidades - jornal Correio da Manhã:
- o presidente da TAP disse: "caímos numa situação que é o acompanhar do dia a dia da operação e reportar qualquer coisinha que aconteça".
- comentário do Banalidades: "é pena que, por exemplo, não tenha acontecido o mesmo no BES".

Presciente disse...

Isso das Ciências da Governação não se chama POlítica?

A ciência que agrega todas as outras?

E sendo o catolicismo algo que tudo integra(nas suas palavras "arrojadas"), ao ficar exposto numa ciência social e não A Ciência Social, não excluiria tudo o que não ficasse descrito nessa nova "ciência"?

Já agora, o regime de Salazar e Caetano não tinha inspiração na doutrina social da Igreja, por exemplo na concertação social, na relação com os sindicatos?

Então como se atreve a dizer que falhou se em Portugal, até funcionou razoavelmente bem. Não se pode dizer que funcionou muito bem porque Salazar, como pragmático que era, foi um excelente governante mas não criou doutrina, dado que o regime estava já corrompido quando Caetano assumiu o poder(se calhar sempre esteve mas a figura de Salazar afastava os abutres).


Se calhar a maior lição que Salazar nos poderia dar é o pragmatismo de não ter vivido agarrado a nenhuma ideologia, regida por um sistema interno coerente e normativo, impraticável no seu estado puro, numa sociedade humana, "humanidade" essa tão descrita pelo PA e que se traduz também na "liberdade" que os portugueses em geral, assim como espanhóis e italianos, dentro dos seus países têm. Nós, indisciplinados como somos, precisamos de pragmatismo, não de ideologias. A única ciência portanto é mesmo a Política, tão elástica que é mesmo uma arte!

Anónimo disse...

Essas ideologias, com maior ou menor intensidade ou radicalidade, para um lado ou para o outro, funcionam bem para os países de cultura protestante. Parece que quase todos eles ganham concursos de felicidade, e riqueza, e bem estar etc.
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Portanto não são falsas em si mesmo.
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O que tenho vindo a perceber pelos pots do PA é que essas ideologias são prejudiciais se aplicadas em países de cultura católica, devido à tal caracteristica personalista das pessoas dessa cultura.
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As ideologias são, pois, falsas, na sua aplicação a países de tradição católica.
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Para não se confundir, as duas ideologias que o PA refere, que são aplicadas em parte nos países protestantes, chama-se de social-democracia, que é uma forma de dizer que, quer o socialismo, quer o liberalismo não existem nesses países, mas tão somente um meio termo entre as duas, assumindo caracter de regime.
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Esse meio termo, a social-democracia, não é um regime de tradição católica. A tradição católica é a união das gentes em torno de um líder natural. Na Igreja em torno de um Papa, nos países de cultura católica em torno de um Rei (que reine).
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Parece-me dificil vir a existir um Rei no futuro em Portugal, pelo que replicar a forma como a Igreja elege o seu líder parece-me bem. Muito bem, aliás. Porque não deixa de ser um processo democratico a que as pessoas exigem na modernidade e ao mesmo tempo uma democracia assente nos votos exclusivamente dum conselho de gentes mais experientes e cultas - os cardeais.
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Os cardeais são eleitos pelas suas regiões de onde provêm.
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Em Portugal tambem podia ser assim. As regiões podiam eleger procuradores de conselhos que se tenham destacado em obras e saber e estes juntos podiam fazer eleger um lider. O sôr presidente. O Cardeal Máximus vá, e só exonerado de funções por decisão de maioria qualificada dos Procuradores.
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Rb

Anónimo disse...

«procuradores de conselhos»
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rectificação: de concelhos.
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Rb

Anónimo disse...

Rb,

A social-democracia (ou socialismo democrático - está nas palavras) é uma corrente do socialismo, cuja fundação é atribuída ao sindicalista alemão August Bebel.
Procura realizar o socialismo, não pela via revolucionária como faz o comunismo, mas pela via democrática e reformista.
PA

Anónimo disse...

Rb,

A social-democracia (ou socialismo democrático - está nas palavras) é uma corrente do socialismo, cuja fundação é atribuída ao sindicalista alemão August Bebel.
Procura realizar o socialismo, não pela via revolucionária como faz o comunismo, mas pela via democrática e reformista.
PA

Anónimo disse...

Rb,

A social-democracia (ou socialismo democrático - está nas palavras) é uma corrente do socialismo, cuja fundação é atribuída ao sindicalista alemão August Bebel.
Procura realizar o socialismo, não pela via revolucionária como faz o comunismo, mas pela via democrática e reformista.
PA

Unknown disse...

O Estado Novo de Salazar e Caetano foi uma aplicação aproximada da Doutrina Social da Igreja.

Ciências da Governação = Política, portanto já está inventado.

Deixo algumas citações de Ética a Nicómaco, há cerca de 2300 anos sensivelmente, atribuída ao Aristóteles, embora o conceito de ciência não fosse exactamente semelhante ao de Hoje, dá para perceber bem a "coisa".


"Visto que a ciência política utiliza as demais ciências e, ainda, legisla sobre o que devemos fazer e sobre o que
devemos nos abster, a finalidade dessa ciência deve necessariamente abranger a finalidade das outras, de maneira que essa finalidade deverá ser o bem humano."


PA, aprecio muito do que escreve e diz, mas dada a sua recente conversão ao cristianismo e relembrar que ainda há 10 anos discutia a possibilidade de existir um mercado de órgãos, se assim as pessoas o desejassem, pode assumir-se que é um homem jovem e ainda discute muito estas coisas com paixão.

Talvez seja essa propensão para a paixão e emoção que faça de nós mais humanos mas menos inclinados para sistemas políticos estáveis que não sob uma autoridade forte e que eu não me revejo propriamente nisso e preferia que fossemos mais capazes de disutir problemas sem extremação de posições, constato que tal é muito problemático em Portugal, nos dias de Hoje.



"um homem jovem não é bom ouvinte de aulas de ciência política"

"E não faz diferença alguma que seja jovem na idade ou no caráter; o defeito não é questão de idade, e sim do modo de viver e de perseguir os objetivos ao sabor da paixão."

Portanto não entendo aonde o PA quer chegar e se se dignar a responder-me eu agradecia-lhe a gentileza.

Entendo que está a tentar reinventar a roda e que está a ser anacrónico(pretende implantar algo que vai contra a generalidade de tudo o que os Portugueses de hoje acreditam) além de aparentar ter aprendido pouco com a mensagem do Cristianismo, focando tudo na vertente mariana.

Cumprimentos