O risco pode ser definido como a incerteza
acerca das consequências de um determinado evento.
Em termos práticos, um evento frequente pode
apresentar o mesmo risco de um evento raro, se as consequências do primeiro
forem ligeiras e as do segundo forem catastróficas.
A construção antissísmica, por exemplo,
oferece proteção contra um evento relativamente raro, mas de consequências
catastróficas. Daí o risco elevado e a necessidade de prevenção.
A cultura portuguesa incorpora muito pouca
noção de risco e de gestão de risco, particularmente em relação a eventos
raros. O agente não receia ser condenado pela sua negligência porque a
comunidade aceita que ele não poderia ter previsto a ocorrência de um evento
tão raro como um sismo.
Acresce que um certo fatalismo branqueia
qualquer negligência. ‹‹O que tem de ser pode muito›› ou ‹‹o destino marca a
hora››. Ainda, a prevalência de um “locus externo” oferece uma desculpa
permanente: a culpa é sempre de outros ou de factores externos, nunca é nossa.
Na arena política todos estes factores
manifestam-se de forma exuberante. Não previmos o risco de uma dívida
exorbitante, nem de um défice permanente e as consequências foram catastróficas
– repetidamente. E não há responsáveis porque a culpa nunca é dos próprios.
José Sócrates e Teixeira dos Santos não podiam
ter previsto o colapso do Lehman Brothers e a culpa da bancarrota é do Durão
Barroso que nos mandou gastar à tripa-forra.
Enfim, não penso que a postura dos
portugueses, em relação ao risco, venha a mudar tão cedo. Se calhar até foi
essa postura que nos colocou na rota do Descobrimentos e portanto deve estar aí
para durar mais uns séculos e mais algumas bancarrotas.
2 comentários:
No contexto actual, “bancarrotas” não chegam ao céu. Enquanto fizerem o que está a ser pedido, o barco vai navegando até chegar o rebocador.
Se as crises fossem previsiveis deixariam de existir.
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Agora, manda o bom senso usar prudência. Nem esperar sempre o pior, nem embandeirar em arco e gastar à tripa forra como se não houvesse amanha.
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Um homem prudente faz a sua casa sobre fundações rochosas...
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... mas um inútil tem medo de arriscar aplicar os dinheiros do seu patrão preferindo guarda-lo a tentar rentabiliza-lo.
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São duas parabolas da biblia que esgalham bem a ideia de que para tudo é útil haver discernimento e equilibrio.
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O caso de Socrates nada tem que ver com isto: tem mais a ver com o sistema: corrupção, partidarismo, rentismo etc que desemboca tudo no beneficio individual ou da tribo a que pertencem.
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Rb
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