10 novembro 2013

o mais racional

Para a doutrina católica a devoção a Maria é uma devoção subordinada - uma devoção subordinada a Cristo. Maria é a intercessora, a medianeira - não a única, mas a medianeira privilegiada - entre nós e Deus, na pessoa de Cristo. Daí a popularidade de Maria  e a centralidade que no espírito popular ela assume nos países de tradição católica. Um crente que queira dirigir-se a Deus, na pessoa de Cristo, pedir-lhe alguma graça, por exemplo, dirige-se em primeiro lugar a Maria.

É diferente na tradição protestante. Maria sai do caminho (e bem assim qualquer outro medianeiro, como os santos) e o crente dirige-se directamente a Cristo. O protestante vai directo a quem decide, o católico chega lá por interposta pessoa, através de uma relação triangular. Encontra-se aqui uma diferença cultural de primeiro plano entre católicos e protestantes. Para os economistas, por exemplo, esta diferença cultural é crucial e explica muitas das diferenças de carácter económico entre os países católicos e os protestantes. Deixarei este assunto para outra altura porque aquele que me ocupa agora é outro.

Pretendo saber qual dos comportamentos é mais racional quando nos pretendemos dirigir a Cristo, seguir a via directa do protestantismo ou, pelo contrário, a via católica que passa em primeiro lugar pela mãe? Considero o caso de uma prece, mas qualquer outra comunicação com Cristo seria admissível. Medirei a racionalidade de cada um dos comportamentos pela probabilidade de que a prece venha a ser atendida.

Adiantarei já a resposta - o comportamento mais racional, no sentido de maximizar a probabilidade de Cristo atender a prece, é o católico, aquele que se dirige, em primeiro lugar, a Maria.

São duas, pelo menos,  as ordens de razões que convergem para esta resposta, ambas baseadas, não em razões abstractas do intelecto, mas em razões fundadas na realidade.

A primeira é a de que é mais fácil aproximar uma mulher do que um homem. Para qualquer pessoa, homem ou mulher, a proximidade com uma mulher é muito maior do que a proximidade com um homem - os homens são mais distantes. E a razão é que todos nós, desde o momento da concepção, começamos a nossa vida na intimidade de uma mulher e assim prosseguimos durante meses, senão mesmo anos, após o nascimento. É mais fácil aproximar uma mulher do que um homem, é mais fácil aproximar Maria do que Cristo.

A segunda, ainda mais potente, é a que deriva da relação única que existe entre a mãe e o filho. Ninguém sabe falar a um filho, ainda que já adulto, como a mãe, porque é ela quem o conhece melhor - sobretudo quando o filho adulto não tem mulher, como era o caso de Cristo.

Quem tenha observado esta relação entre mãe e filho, e a sua evolução ao longo de anos, vai reconhecer duas verdades essenciais. A primeira é que um filho adulto dificilmente diz que não à mãe (ao contrário de uma filha que o faz com a maior facilidade). E a segunda é absolutamente decisiva e refere-se à ressonância única que a voz da mãe tem no espírito do filho adulto. Esta é a voz que, ao longo da sua vida, mais ordens lhe deu: "Vai lavar os dentes", "Come com o garfo, não comas com as mãos", "Vai-te deitar que são horas", "Levanta-te que são horas de ir para a escola", "Vai estudar","Vai fazer essa barba", "Hoje não sais de casa à noite"... Um pedido feito pela mãe a um filho adulto, não soa apenas como um pedido, soa como um misto de um pedido e de uma ordem.

Ora sendo Cristo Deus, mas também um homem, ele só pode dar prioridade aos pedidos (na realidade, semi-ordens) que lhe chegam próxima e directamente através da mãe, e relegar para segundo plano aqueles que lhe chegam através de outras pessoas.

6 comentários:

Ricciardi disse...

Rezar a Maria é, digamos, meter uma cunha.
.
Rb

Carlos Faria disse...

Interessante, é que ao ler o artigo eu pensei apenas na generalização da cunha, como intermediário.

zedeportugal disse...

Good grief!

Pedro Sá disse...

Ó PA se você sempre foi um menino da mamã é lá consigo...

BLUESMILE disse...

Credo, que maluqueira pegada!

Pedro Cruz disse...

Muito bem! Cfr. João 2:1-11