o acaso e o Bem

Há dias, num almoço em Seixas, mencionei que o Bem, na minha opinião, era fruto do acaso. O PA discordou afirmando que se o Bem ocorre com mais frequência do que o Mal, o acaso está demasiado enviesado a favor do Bem.

Talvez seja agora oportuno concretizar melhor o meu pensamento. Toda a evolução humana é fruto de mutações genéticas que ocorrem aleatoriamente, desde a cor da pele, à perda do pelo ou ao crescimento do cérebro. Por cada mutação boa, isto é, que teve sucesso e se expandiu, ocorreram, porém, milhares, ou milhões, de mutações más, que se extinguiram.

Os genótipos sobreviventes são, portanto, apenas os bons, e daí o enviesamento para o Bem. Dos povos que migraram para o Norte, por exemplo, sobreviveram apenas os que perderam a melanina, essencial para o metabolismo do cálcio na presença de escassa exposição solar. Daí os nórdicos terem a pele tão clara. Um bem para quem vive na Finlândia, mas um mal para quem vive em Angola.

O mesmo se passou com os comportamentos humanos. As mães que abandonavam os filhos à nascença não deixaram descendentes. Nós que por cá andamos somos os filhos das outras, das que se sacrificaram pelas crias. O especial cuidado que hoje quase todas as mães dedicam aos filhos é um Bem, um Bem inestimável, mas um Bem que é fruto do acaso.

Todos os dias eu me maravilho com os seres humanos, tenho a sorte da minha profissão me propiciar muitos “milagres” que observo diretamente. Não os atribuo, porém,  a qualquer intervenção divina. Os “milagres” valem o mesmo para crentes e ateus.

Deus, para mim, tal como para o PA, também surgiu de forma racional, mas apenas como resposta à tal pergunta: porquê algo? Porque não, nada?

Confesso, contudo, que nada sei acerca de Deus. Apenas procuro conhecer a realidade que me rodeia e que, por necessidade racional, emana Dele. Tem Leis e tem uma Ordem.

Ordem e Leis que não permitem exceções. Aqui... estou com o Espinosa.