01 novembro 2013

Não sabem

Um verdadeiro democrata - um homem que respeita escrupulosamente as decisões da maioria - e que tenha em vista o bem comum, nunca votará num partido. Porquê? Porque existe um consenso democrático entre os partidos de que nenhum sabe governar o país.

Volte ao meu post anterior e, em lugar da questão "Sabe o partido X governar o país?", ponha qualquer das questões:

-Sabe o partido X fazer um Orçamento do Estado?

-Sabe o partido X construir um sistema de segurança social?

-Sabe o Partido X representar Portugal no estrangeiro?

-Sabe o partido X o que é a Verdade?

-Sabe o partido X o que é Deus?,

e, em seguida, proceda ao exercício a que eu procedi nesse post. Vai ver que a resposta democrática e consensual dos partidos a cada uma destas questões é Não.

Por outras, palavras, tudo o que seja fazer um bem para a comunidade -como é governar um país, fazer um orçamento para o pais, construir um sistema de segurança social para o país, representá-lo no estrangeiro - ou reconhecer um bem da comunidade - como é a Verdade e Deus - a resposta democrática e consensual dos partidos é a de que Não sabem. 

10 comentários:

Anónimo disse...

"tudo o que seja fazer um bem para a comunidade...a resposta democrática e consensual dos partidos é a de que Não sabem." - PA

Conheço pouco da biografia do Professor Arroja. Sei que estudou e trabalhou no Canadá e voltou para Portugal em meados dos anos 80.
Nestes últimos 30 anos Portugal sempre foi governado por um regime democrático.

Nesses mesmos 30 anos, e sempre em Portugal, o PA criou negócios (com bastante sucesso,tanto quanto sei).

Deu aulas (e foi um professor estimado e respeitado, tanto quanto sei).
Escreveu vários livros, artigos, deu palestras, sem censura nem restrições.

Criou uma família e os filhos - do pouco que sei - também são pessoas de sucesso na vida (por mérito próprio sem dúvida).

Sempre lhe foi concedido o direito de viajar livremente por todo o país e para o estrangeiro.

O Professor tem liberdade de culto religioso, em qualquer altura ou lugar no país.

Em resumo: a realidade dos factos, ao longo destes 30 anos, não nos leva à conclusão que um regime democrático é assim tão mau para Portugal.

PS - Eu sei que há uma falácia neste meu contra-argumento.
Até julgo que o PA se safa facilmente da coisa...

Vamos ver.

D. Costa

Rui Alves disse...

Caro D. Costa

O seu argumento não está a confundir os conceitos de democracia e de liberdade?

É que parece-me que as liberdades que refere não são um exclusivo de democracias partidárias e universais. Só como um exemplo, muitas monarquias da antiguidade admitiram liberdades de culto e de migração.

Anónimo disse...

Caro D. Costa,
É um verdadeiro milagre que, a despeito dos partidos, eu tenha conseguido fazer isso tudo.
Sem eles teria feito muito mais.
Não tenha dúvida nenhuma acerca disso.
Abc.
PA

Anónimo disse...

"É que parece-me que as liberdades que refere não são um exclusivo de democracias partidárias e universais. Só como um exemplo, muitas monarquias da antiguidade admitiram liberdades de culto e de migração." - R.A.

Correcto. Mas eu também não disse que a liberdade é um exclusivo de democracias partidárias.

"O seu argumento não está a confundir os conceitos de democracia e de liberdade?"

V. conhece alguma democracia onde não existe liberdade?

D. Costa




Rui Alves disse...

O que eu quis dizer é que o Professor tem legitimidade de apontar aos partidos as críticas que quiser, pois a liberdade de que beneficiou durante o seu percurso de vida é alcançável sem eles.

Quanto à sua outra pergunta, a resposta é sim, conheço democracias sem liberdade na prática embora as garantam teoricamente no papel. Democracias onde os governos protegem monopólios e oligopólios privados, onde a comunicação social dita de referência está nas mãos de escassos grandes grupos que exercem censura velada e não assumida, onde o Estado detém o monopólio "de facto" na educação e formação das mentes jovens, onde se repetem referendos enquanto não produzirem os resultados pretendidos, onde as regras eleitorais estão concertadas para proteger os partidos instalados, e a lista poderia continuar. De certeza que também conhece. Nada disto lhe soa familiar?

E isto para não falar das democracias partidárias que conduziram à perda da liberdade.

Anónimo disse...


"Sem eles teria feito muito mais" - PA


Caro PA,

Era exactamente essa a falácia do meu argumento. E, pasme-se, o Professor caiu um pouco na esparrela...

Agora a pergunta é outra e mais simples: o critério de sucesso ou insucesso pessoal é válido para julgar um regime político?

Será racionalmente válido o nosso conceito de sucesso individual, totalmente subjectivo, como critério de avaliação de uma realidade mais ampla e objectiva como um regime político?

D. Costa

Anónimo disse...

O PA sentiria a vontade da maioria por insight?

Josand

Anónimo disse...

Caro Rui Alves,

"O que eu quis dizer é que o Professor tem legitimidade de apontar aos partidos as críticas que quiser, pois a liberdade de que beneficiou durante o seu percurso de vida é alcançável sem eles." - R.A.

Sem dúvida que tem legitimidade, mas surgem outros problemas com essa premissa. Veja a minha última resposta ao PA.

"sim, conheço democracias sem liberdade na prática..." - R.A.

Há aqui duas questões diferentes.
Uma que é o momento fundador de um regime, a sua matriz por assim dizer.
Outra a degeneração, decadência desse mesmo regime.
Todo e qualquer regime pode degenerar no tipo de corrupção que o R.A. descreve tão bem. Aliás todos eles tendencialmente degeneram em fenómenos semelhantes (compadrio, corrupção, censura, etc.).

Mas a questão fundamental é a matriz do regime. Essa matriz define a natureza e essência do regime.
Na minha opinião a hipótese do Professor Arroja também esbarra nesta dificuldade teórica.
Os partidos políticos não são a causa de uma democracia, eles são o efeito desse regime.

Ou seja: no momento fundador de um regime democrático-partidário o que está em causa não são opções partidárias mas sim opções como a legitimação do poder (quem deve governar?), legislação (quais os limites do poder?), finalidade do poder político (qual a nossa liberdade?).

D. Costa

muja disse...

a realidade dos factos, ao longo destes 30 anos, não nos leva à conclusão que um regime democrático é assim tão mau para Portugal.

A realidade dos factos, D. Costa?

Olhemos para alguns factos então:

Em 30 anos de democracia, Portugal perdeu mais de 90% do seu território e metade da sua população (isto foi logo no primeiro ano de democracia).

Em 30 anos de democracia, Portugal teve três bancarrotas.

Em 30 anos de democracia foram destruídos os sectores primário e secundário da economia.

Em trinta anos de democracia temos, entre outras coisas: aborto, droga, privilégio de prácticas sexuais com benefícios fiscais, acordo ortográfico, etc.

Meu caro, qualquer análise minimamente objectiva forçosamente terá de concluir que Portugal devia fugir da democracia como o diabo foge da cruz!



Pedro Sá disse...

Ora...que coisa mais ridícula querer que os partidos se metam na religião!