08 novembro 2013

A mulher é igual ao homem

Eu gostaria de voltar ao ensaio sobre a tolerância do John Locke, que citei num post anterior.

O John Locke é considerado o pai do liberalismo moderno que eu próprio, às vezes, tenho designado também por liberalismo anglo-saxónico.

O liberalismo que o John Locke defende - no ensaio sobre a tolerância ele trata de defender a liberdade religiosa - é um liberalismo que exclui - exclui os católicos. Trata-se, portanto, de uma liberdade só para alguns. E é também uma liberdade instrumental e destrutiva, uma liberdade religiosa que é reconhecida como meio para atacar o catolicismo. É uma liberdade anti-católica.

Desde o tempo do John Locke que os católicos passaram a ter os seus direitos civis restringidos na Grã-Bretanha, uma situação que ainda hoje se mantém (católicos não podem aceder aos altos cargos da governação, como o de primeiro-ministro, nem ao trono britânico).

A questão que eu gostaria de colocar neste post é a de saber se eu posso defender, coerentemente, este tipo de liberalismo. Eu imagino sempre um dia um neto a perguntar-me: "Oh avô, mas tu andas a defender ideias que são contra nós?" Porque, evidentemente, o liberalismo do John Locke e dos seus sucessores (David Hume, Adam Smith, etc.) é um liberalismo contra os portugueses, os quais são esmagadoramente católicos.

Eu só poderia responder sim ao meu neto, e dar-lhe uma explicação coerente, se o liberalismo do John Locke representasse a liberdade verdadeira. Mas ele não representa, é uma liberdade só para alguns e destrutiva, é uma liberdade que nos deixa a nós próprios portugueses - ao meu neto e a mim próprio - discriminados e de fora. Como é que eu poderei defender uma coisa destas? Só se  não estiver no perfeito uso da minha razão.

Ao excluir a Igreja Católica, o John Locke e o liberalismo moderno estão a excluir o quê? Estão  a excluir em primeiro lugar a mulher (a Igreja é uma figura de mulher, Maria), estão a excluir a comunidade (não há comunidade sem mulher) e estão a excluir a tradição (a tradição é a voz da comunidade).

Estão a excluir a verdade porque não existe verdade sem mulher e, portanto, sem comunidade e sem tradição.

Não existe verdade sem mulher?

Não, não existe.  Procure saber quem é o seu pai e vai ver que para chegar à verdade tem de passar por uma mulher. Procure saber se é o pai das crianças que assim o chamam e vai ver que para chegar à verdade também tem de passar por uma mulher. E isto é assim em todas as coisas? Em todas, excepto nas exteriores, e portanto superficiais, em que eu não preciso de mulher (portanto, de comunidade e de tradição) para saber que a parede que está à minha frente é branca.

Mas quanto às questões essenciais da existência humana, as questões de saber quem sou, donde venho e para onde vou, qual é o significado e o sentido da minha vida, o que é importante e o que não é importante na vida - o que é a liberdade, a justiça, a igualdade, etc. -, sem mulher (isto é, sem comunidade e tradição) eu nunca lá chegarei.

Aquilo que o John Locke fez, ao defender a proibição do catolicismo, foi o mesmo que o Kant viria a fazer -  excluir a mulher. Na realidade, o Kant foi  influenciado pelo Locke através do David Hume. E a melhor maneira de anular a mulher, de a tirar do pedestal em que ela se encontra no catolicismo, para a colocar em situação inferior à do homem,  é declarar que a mulher é igual ao homem, no sentido de ter os mesmos direitos do homem. O primeiro a fazê-lo foi, naturalmente,  Martinho Lutero. E o John Locke fez igual.

A moderna escravatura é uma escravatura predominantemente feminina e tem esse lema: "A mulher é igual ao homem". É, em segundo lugar, a escravatura das mulheres com filhos pequenos e que trabalham fora de casa e, em primeiro lugar, das mulheres que abdicam de ter filhos para poderem trabalhar fora de casa.

11 comentários:

Luís Lavoura disse...

Ao excluir a Igreja Católica, o John Locke e o liberalismo moderno

Que disparate. John Locke excluiu a IC, certo. Mas o liberalismo moderno não o faz! O liberalismo moderno não exclui a Igreja Católica.

zazie disse...

Que ideia. O Hobbes a primeira coisa que fez foi excluir o cristianismo como modelo de Estado.

Não houve liberalismo em parte alguma do mundo que não tivesse sido jacobino e não perseguisse a Igreja Católica.

Por cá, o Marquês começou logo por importar protestantes e judeus para ajudarem a dividir.

Os liberais fizeram o mesmo e os republicanos, idem.

Foi graças aos liberais que se extinguiram as Ordens Religosas por toda a parte.

Isso e a maior destruição de património religioso que nem talibãs fizeram.

Amélia Saavedra disse...

"E a melhor maneira de anular a mulher, de a tirar do pedestal em que ela se encontra no catolicismo, para a colocar em situação inferior à do homem, é declarar que a mulher é igual ao homem, no sentido de ter os mesmos direitos do homem."
Será que podemos fazer a mesma leitura em relação à defesa dos direitos das minorias e até mesmo na própria defesa dos direitos humanos?
É que com o tempo constato que o conceito de ser humano tem-se tornado cada vez mais limitado´(por exemplo só é considerado humano a partir de uma determinada semana de gestação) e que os direitos apelam a essa mesma limitação...

Anónimo disse...

Hmmm... Concordo, excepto na questão da tradição... Primeiro a tradição de amanhã está a ser construída hoje (boa sorte a todos no futuro);... Segundo, se há coisa que a GB tem é tradição, aliás basta ter conseguido manter a monarquia... A menos que a tradição católica seja a única que conta... -- JRF

Anónimo disse...

Acho curiosa a tese da figura de mulher... A Igreja ao longo dos séculos fartou-se de interpretar as escrituras em desfavor da mulher... As mulheres chegaram a ser muito mal tratadas... Ainda hoje é assim... São umas cabras umas para as outras... É só corte e costura... :) ... -- JRF

Anónimo disse...

Já que aqui estou, tenho uma tese sobre o bem e só o facto de aqui estarmos é a prova que o bem está a ganhar... Nada disso. -- JRF

Anónimo disse...

"evidentemente, o liberalismo do John Locke (...) é um liberalismo contra os portugueses" - PA

It goes without saying (em estrangeiro fica melhor...) that the conclusion which PA draws from his sketch depends intirely on the truth of the assumption that patriotism is a value by itself.
In fact patriotism seems to be the paramount or absolute value upon which all other values must be judged.

(...)

D. Costa

Anónimo disse...

Em bom português, que grande treta caro D. Costa... -- JRF

Anónimo disse...


Antes de atacar a questão da tolerância em Locke julgo que há aqui uma dúvida legitima dos leitores mais atentos.
Se bem entendo o Professor Arroja, e seguindo a sua lógica, devemos distinguir o regime político (figura masculina) do conceito de Pátria (figura feminina).

A distinção é importante. Senão vejamos:
Imaginemos que o neto do PA, já na idade adulta, se converte ao comunismo e, diante de toda a família, dispara com a pergunta:
"Oh avô, mas tu andas a defender a ideia de Pátria contra à verdade da doutrina socialista?"

A única resposta plausível e lógica do PA seria: "sim, claro. A Pátria está acima de qualquer regime"

(...)

D. Costa

Chesterton Portugal disse...


A propósito do seu post, Chesterton tinha uma ideia de mulher semelhante; a de uma dignidade superior.

http://sociedadechestertonportugal.blogspot.pt/2013/01/chesterton-e-alegria.html

Cumprimentos,

António Campos

Pedro Sá disse...

Pela mesma lógica seria possível dizer que anteriormente era a escravatura das mulheres que não podiam trabalhar por estarem obrigadas a procriar, ora.