13 maio 2012

povo e elite

O regime político conforme à cultura portuguesa não é nem a social-democracia, de origem germânica, nem a democracia-liberal, de origem anglo-saxónica, embora esta esteja mais próxima da nossa tradição do que aquela. É um regime que assenta na dicotomia entre povo e elite, em que a elite geralmente provém do povo, mas que se distingue claramente do povo.

As principais características distintivas da elite são a sua dedicação a servir a comunidade, o seu respeito pela tradição, o seu realismo e a sua capacidade de julgamento. Pelo contrário, o homem do povo serve-se em primeiro lugar a si próprio, se possível à custa da comunidade, ignora a tradição e procurar no estrangeiro e fora da sua tradição, imitando, as soluções para os problemas da sua comunidade; é um fantasista e não tem critérios de julgamento, sendo normalmente um exagerado por excesso ou por defeito.

Nesta cultura, o processo social e político desenrola-se numa interacção constante entre o povo e a elite, é o povo que fornece os homens e mulheres destinados aos mais altos postos da governação,  mas a sua designação é feita pela elite, e não pelo próprio povo. A base desta cultura é inteiramente popular e inimaginavelmente permissiva. A cultura popular cceita tudo, não há critérios, em certo sentido da palavra liberdade, é a cultura mais livre que se pode imaginar. Para funcionar com equilíbrio necessita da elite. É a  elite que lhe fornece os critérios ou capacidade de julgamento que o povo não tem.

Este processo político é frequentemente considerado autoritário porque um dos valores que compete à elite fornecer ao povo é a autoridade. A liberdade está no povo, e é uma liberdade imensamente popular e sem limites que, se não fôr contida, descamba facilmente em anarquia, desordem e opressão.  A função principal da autoridade inerente à elite é a de definir esta fronteira e manter a liberdade popular dentro dos limites onde ela é verdadeira liberdade, e não trespassa o risco, tornando-se opressão. O povo, para se manter inteiramente livre, não tem esta capacidade. A sua liberdade é sem limites.

O chefe supremo deste processo político é, por vezes, chamado ditador, mas é um designação injusta, porque um homem que está vinculado a servir a sua comunidade e a respeitar as  tradições populares, e a exercer julgamento onde o povo o não tem, é muito mais escravo do povo, do que o povo escravo dele.

Usando a Igreja Católica como paradigma desta cultura, nenhum católico se sente escravo do Papa. Mas eu imagino que o Papa se sente escravo de todos os católicos. Na realidade, ele está lá para assegurar que cada um pode ser católico à sua maneira, e isso inclui tudo, até ser ateu.

7 comentários:

Zephyrus disse...

Jesus veio do povo. E quando Cristo designou os apóstolos, não os foi buscar aos doutores do Templo. Cristo (elite) escolheu os melhores. Há uma passagem do Novo Testamento onde Cristo diz, pelas suas palavras, que deveremos tentar ser perfeitos para sermos escolhidos, em vez de nos «candidatar-mos». É assim aliás que funciona a hierarquia da Igreja, como o Professor Pedro Arroja explica. E creio que este poderá ser o futuro da democracia. A elite escolhe os melhores. Sabendo de antemão que quando a elite se corromper, o sistema mais tarde ou mais cedo cairá.

Zephyrus disse...

*candidatarmos»

Vivendi disse...

Olhando para salazar e Getúlio Vargas percebemos como foi o entendimento desses líderes estendidos à sua comunidade.

Ricciardi disse...

Ok, a Igreja é um excelente exemplo de democracia limitada mas, vamos ver, à falta do Deus-filho para eleger os Escolhidos, quem é que o PA propõem para o fazer nos tempos actuais?
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É que as merdas tem que ter uma resposta vertida na realidade e não num exemplo cuja organização adveio do Altissimo.
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Rb

Ricciardi disse...

Quer dizer, eu era menino para chegar ali e tal e escolher os 12 melhores malotas para a governança do país, mas humildemente dúvido que a escolha fosse acertada.

Na volta escolhia uns totós impostores que à laia da retórica luciferina me iludiam. Não sou Deus, não é?

Daí que, concordando com a ideia, sofro com a minha inépcia para garantir um modelo de procura para a solução.

Quem diz a minha, diz a sua.

A não ser que a escolha dos Eleitos se processe de acordo com critérios especificos e concordantes com o mérito individual demonstrado em obras valerosas; aqueles que se libertam da lei da morte pelo exemplo.
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Portanto, caro PA, dirijo-lhe directamente este apelo, que modelo propõe para substituir Cristo na escolha dos eleitos?
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Rb

Anónimo disse...

Um erro grave neste post é a comparação de um sistema voluntário como o catolicismo com um sistema coercivo que é o Estado. Porque formas de associação há muitas. Existem sistemas "autoritários" como a igreja católica e existem sistemas "monárquicos" presente em muitos pequenos negócios e existem também sistemas socialistas (sem hierarquias e sem patrões) em empresas de software de grande sucesso (ver empresa Valve no google) assim como sistemas liberais um pouco mais espalhado. Isto é um problema.
Outro problema é o efeito anti tradicionalista da sua atitude tradicional. Sendo a tradição uma evolução espontânea que dá origem a determinados sistemas centralizados, e não o contrário, focar discursos em sistemas centralizados é um destruidor dos mecanismos naturais da tradição.

tiago

Anónimo disse...

Não é por acaso que regimes profundamente "tradicionais" acabam em tirania. O que não quer dizer que não aconteça o mesmo com a democracia. O erro é o mesmo. Simplificar a complexidade da vida humana através de desenhos mais ou menos construtivistas.

tiago