O Governo continua a produzir gestos simbólicos. A história da gravata no Ministério da Agricultura e do Ambiente é um sintoma da juvenilidade da Ministra. Ela ainda julga que há coisas no mundo que deviam ser mudadas; e, apesar de milénios de história, como não mudaram, nasceu ela há pouco mais de trinta anos para as vir mudar. Está enganada. Porque se o código de vestuário no trabalho devesse ser outro, há séculos que alguém o tinha mudado. Ninguém ficaria à espera que a ministra nascesse para o fazer.
A nossa cultura, sendo uma cultura católica, contém de tudo e em toda a amplitude. Na base, no povo, é uma cultura muito informal - tu-cá, tu-lá -, e no topo, na elite, uma cultura muitíssimo formal, bastando para tanto invocar a extrema formalidade da liturgia católica (à qual o Papa Bento XVI atribui uma extrordinária importância, e pelas mesmas razões que eu estou a expôr no que respeita ao uso da gravata).
Quem ocupa posições no Estado, mesmo não sendo elite, tem, pelo menos, de aparentar, caso contrário o povo não acredita nele. E uma das regras de conduta é aparecer sobriamente vestido perante o povo (e, já agora, devidamente barbeado). Dê-se a esta cultura a mínima abertura para sair do código de formalidade, e aquilo que vai resultar é o abuso generalizado.
Dentro em breve no Ministério da Agricultura e do Ambiente existirão funcionários que se apresentarão ao trabalho, não apenas sem gravata, mas em calções, sandálias e T-shirts. E quanto às mulheres, nem se fala. Esta é uma cultura popular de abusadores. Não se lhes pode dar uma mão porque eles tomam logo o braço. E, em breve, o corpo todo.
Infelizmente, a Ministra não durará no Ministério o tempo suficiente para ver os efeitos completos desta sua primeira medida - e aparentemente, a única - relativa ao Ambiente e à Agricultura. A única coisa que até à data saiu do Ministério do Ambiente foi a gravata. Literalmente, coisas de meninas.
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