27 abril 2009

a passar o tempo


O manual de História de Portugal de José Mattoso (Lisboa: Estampa) ocupa-se do período do liberalismo nos vols 5 (Luís R. Torgal e João L. Duque, orgs.) e 6 (Rui Ramos, autor). Trato deste último volume neste post.
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O volume ocupa-se do período 1890-1926, que vai deste o Ultimato Inglês até à Revolução do 28 de Maio. O tema está muito bem investigado e o volume lê-se com facilidade e até com agrado porque conta, frequentemente ao detalhe, os mais variados enredos, episódios, acontecimentos e personalidades que marcaram o período. Trata-se de um esforço de investigação extraordinário, uma preocupação extrema com os detalhes e até os pequenos factos.
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No fim, levanta-se a questão: Será que este esforço de investigação vale alguma coisa? A resposta só pode ser dada pondo a questão: Que conclusões se tiram daqui? E a resposta do autor, ao cabo de 600 páginas, é de que não se tiram conclusões nenhumas: "Em história, muita coisa é planeada, muita coisa é improvisada, mas a maior parte das coisas simplesmente acontecem, o resultado acidental dos planos e improvisações mais diversos. Talvez não devêssemos tentar arranjar-lhes demasiado sentido". No meio de tantas histórias, enredos, conspirações, revoltas, governos, partidos, e personalidades bizarras, o própruio autor ficou perdido.

E o autor conclui isto depois de redigir um volume onde fica abundantemente documentado que a democracia-liberal não funciona em Portugal, que a República teve consequências catastróficas, que o país passou o tempo à procura de um César (que acabou por encontrar), que os partidos políticos produziram divisões profundas na sociedade e acabaram sempre em federações de interesses, que a liberdade de expressão em Portugal ultrapassa facilmente os limites, que os portugueses, quando divididos, não são capazes de encontrar consensos mínimos acerca da coisa pública, que a justiça não funciona em democracia, que os portugueses nunca mais se entenderam acerca da Monarquia, que a sociedade portuguesa pode tornar-se violenta quando dividida e que a política democrática em Portugal nunca é um confronto de ideias, mas de personalidades.

Eu tiraria ainda mais conclusões. Mas o autor não tira nenhuma e ilustra a maior pecha que tenho atribuído aos historiadores portugueses - os seus livros não são livros de História, são livros de histórias. Trata-se da falta de capacidade de abstracção dos portugueses a que me tenho referido. Contam histórias e mais histórias e mais histórias, e no fim, quando lhes é perguntado: "Qual a conclusão que tira daí?", a resposta é "Nenhuma". Andaram a passar o tempo.

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