03 fevereiro 2009

não pela inteligência


A cultura de um povo pode alterar-se. Mas o processo de alteração é lento e imperceptível. A razão é que a cultura se exprime pelos instintos e pelos hábitos, não pela inteligência.
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A alteração de um sistema político - por exemplo, aquela que se deu em Portugal em 1974 -, não muda a cultura do povo. A cultura do povo é que vai agora exprimir-se segundo regras do jogo diferentes, e não necessariamente para melhor.
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Um sistema político pode mudar-se. A cultura de um povo não pode (excepto no sentido restrito referido acima). É, por isso, um erro procurar ajustar a cultura do povo a um sistema político. Aquilo que pode, e deve, fazer-se é ajustar o sistema político à cultura do povo. O melhor sistema político é aquele que permite exprimir de forma mais eficaz, criadora e produtiva a cultura do povo.
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Segue-se que a tarefa mais importante para os intelectuais que queiram bem ao seu país, e não meramente servir-se dele, é o de estudarem a cultura do povo, desenvolverem aquela ciência ou arte a que Pascoaes chamava Ser Português, e depois conceberem o sistema político que melhor se ajusta a ela.
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Isto é exactamente o contrário daquilo que, na generalidade, os intelectuais têm feito no país, que é, primeiro, o de conceberem o sistema político - geralmente importado do estrangeiro num pacote chamado ideologia - e, depois, quererem mudar a cultura do povo por forma a ajustar-se a ele. É como comprar um fato pequeno e depois querer meter lá um homem grande - e atribuir a culpa do desajustamento, não ao fato, mas ao homem.

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