22 outubro 2008

tudo ardia

Nesses dias era sílaba a sílaba que chegavas.
Quem conheça o Sul e a sua transparência
também sabe que no verão pelas veredas
da cal a crispação da sombra caminha devagar.
De tanta palavra que disseste algumas
se perdiam, outras duram ainda, são lume
breve arado ceia de pobre roupa remendada.
Habitavas a terra, o comum da terra, e a paixão
era morada e instrumento de alegria.
Esse eras tu: inclinação da água.
Na margem vento areias mastros lábios, tudo ardia.

EUGÉNIO DE ANDRADE, 12 Poemas para Vasco Gonçalves, 1997.

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