09 setembro 2008

etologia política

É do conhecimento geral a fábula da rã e do escorpião que se afogaram ao atravessar um rio, quando o temível aracnídeo ferrou as costas do batráquio sobre as quais se sentara para fazer a travessia. Estupefacta com a estupidez da coisa, já que ambos morreriam à conta dela, a rã ainda perguntou ao escorpião o que o levara a fazê-lo. A resposta foi simples e desconcertante: “É a minha natureza”.

Mudemos, agora, para outra classe do reino animal, mais precisamente para os mamíferos, e, dentro dela, para a classe política. Mantendo-nos no domínio da fábula, imaginemos qual não seria hoje a posição política do Dr. Paulo Portas, se ele, ao contrário de tudo o que a sensatez recomendava, não tivesse optado por ferrar prematuramente o Dr. Ribeiro e Castro, que gentilmente se dispusera a suavizar-lhe a longa travessia política de quatro anos e meio de oposição.

Não era, ao tempo, muito difícil antever que o PSD continuaria profundamente dividido e sem uma liderança que conseguisse repor a confiança dos eleitores. O CDS, com Ribeiro e Castro, também não garantia mais do que a mediania, e não suscitaria entusiasmos que fizessem esquecer o líder anterior. Fora do circuito partidário, nos jornais, nas televisões, nos centros de decisão, a direita continuaria sem figuras de relevo, como quase sempre tem sucedido desde o 25 de Abril. Quantas figuras mediáticas lhe teriam sobrado com carisma suficiente para conter José Sócrates? Para o enfrentar num debate? Para contraditar, com legitimidade, a sua legislatura de quatro anos? Para protagonizar uma alternativa política? Com o Dr. Portas à “margem”, moderadamente silencioso e circunspecto q.b., pautando cuidadosamente as suas intervenções públicas pela moderação e pela sensatez, para quem estaria, agora, o povo da direita a olhar, incluindo largas franjas de laranjinhas desesperados com a iminência de mais uma maioria absoluta do Partido Socialista?

Paulo Portas poderia ser hoje o rosto credível duma alternativa de direita. Ainda que se mantivesse numa posição minoritária no CDS, ele estaria em condições únicas para dinamizar toda a direita, incluindo o próprio PSD, e para obrigar este partido a aproximar-se dos democratas-cristãos. Ele preferiu, contudo, fazer de modo diferente. E hoje vê o seu espaço reduzido a discutir bagatelas dentro do partido a que, por enquanto, ainda preside, com aqueles que sempre andaram politicamente às suas costas. O que nos faz retomar, pela segunda vez neste post, a fábula inicial.

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