20 outubro 2007

para dizer tudo aquilo

James Watson, um cientista americano galardoado com o Nobel pela descoberta da estrutura de ADN, proferiu, a semana passada, em entrevista ao Sunday Times de Londres afirmações que foram consideradas racistas. Referindo-se ao negros, disse: "Todas as nossas políticas sociais se baseiam no facto de a inteligência deles ser igual à nossa, quando todas as provas mostram que não é bem assim".

Perante os protestos de vários grupos cívicos, todas as conferências e sessões de lançamento do seu mais recente livro que tinha previstas em Inglaterra foram canceladas, e o cientista regressou imediatamente a casa - onde nada de melhor o aguardava. De facto, os seus colegas da administração do laboratório americano onde trabalha há anos, condenaram prontamente as declarações do investigador, e suspenderam-no de funções.

É assim a liberdade de expressão nos países - EUA e Inglaterra - que servem frequentemente de padrão aos liberais portugueses. Toda a expressão - mesmo que seja verdadeira - que choque as sensibilidades de algum ou alguns grupos de interesses, imeditamente desencadeia um movimento sufocante e avassalador da opinião pública que cala de pronto o seu emissor e o isola do resto da comunidade. James Watson já pediu desculpa pelas suas afirmações, embora, julgo eu, com a mesma convicção de Galileu.

Aquilo que aconteceu a Watson seria impensável na cultura católica. Esta é uma cultura pessoalizada e a opinião pública nunca se entende. As afirmações de Watson teriam causado polémica. Porém, os seus colegas da administração do instituto de investigação seriam os primeiros a defendê-lo e a protegê-lo, enquanto nos EUA foram os primeiros a demarcar-se e a isolá-lo. Quanto à opinião pública, uma parte iria atacá-lo, mas apareceria logo outra parte a fazer exactamente o contrário, isto é, a defendê-lo.

Na cultura católica, Watson teria continuado o seu programa de conferências - agora com a popularidade redobrada que a polémica lhe proporcionara - e só depois regressaria ao seu país, onde reencontraria os seus colegas com um abraço cúmplice a significar "Obrigado por me terem safado desta". Mas feliz, por ter cumprido o seu programa de conferências, comparecido a todas as sessões de autógrafos que estavam previstas, e ter tido a liberdade para dizer tudo aquilo que ele - certa ou erradamente - considerava ser a verdade.

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