04 outubro 2007

genuína


Provavelmente, a principal característica do intelectual aspirante da política é a desnecessidade que ele sente de referir as sua teorias à realidade. A característica é particularmente acentuada quando ele vem da área - como é geralmente o caso -, das chamadas ciências sociais e humanas, como a economia, o direito, a sociologia, a psicologia e a história.

A teoria é construída, ou meramente repetida, sem qualquer referência à realidade, como um mero sistema de argumentos gerais e abstractos encadeados de forma mais ou menos lógica e onde a realidade, se alguma vez aparece, é invariavelmente sob a forma daquilo que o seu autor gostaria que ela fosse, e não daquilo que, na verdade, ela é.
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O mundo das ideias e o mundo da realidade tornam-se então dois mundos distintos e independentes um do outro, a teoria ganha uma vida própria, menos preocupada em descrever este mundo do que em transformá-lo no mundo imaginário e ideal que ela própria contém. As proposições desta teoria tornam-se, assim, não descrições hipotéticas da realidade, sujeitas aos testes da factualidade empírica, mas puras aspirações ou desejos intelectuais que o seu autor partilha com todos os aderentes da teoria - uma genuína ideologia.

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