11 novembro 2014

austeridade boa e austeridade má


Há austeridade boa e austeridade má? Com certeza. A austeridade que liberta recursos para o crescimento económico é boa e a que destrói estes recursos é má.
Gostaria de me limitar a um exemplo para demonstrar esta diferença. Uma família gasta acima das suas possibilidades porque um dos filhos é estoura-vergas. É necessário equilibrar as contas, “eliminar o défice e equilibrar a dívida”. A austeridade boa é a que corta e limita a despesa do gastador. A austeridade má é a que vai ao bolso dos bem-comportados para continuar a pagar o despautério do valdevinos.
Em Portugal, o estoura-vergas é o Estado e os bem-comportados são a grande maioria dos portugueses que vivem do seu trabalho.
A coligação PSD/CDS foi forçada a implementar um vasto programa de austeridade. Mas em vez de recorrer à austeridade boa (cortar na despesa, como a Troika recomendou), recorreu à austeridade má (aumentou a carga fiscal).
O estoura-vergas (o Estado) persistiu no desconchavo e os bem-comportados (a grande maioria dos cidadãos) entraram num sufoco insustentável.

12 comentários:

Ricciardi disse...

É demasiado básica essa dualidade.
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Imagine o caro Joachim que o estoura-vergas não é o que parece.
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Imagine que o rapaz é um gajo porreiro pá, e que usa a massa do bebedolas do pai para pagar as explicações da irmã mais nova que é má aluna, mas tambem do irmão do meio que precisa de uns oculos e ainda fazer um pé de meia para a mãezinha que nunca descontou para coisa alguma.
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Está a imaginar?
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Pronto. Gastar na Educação da irmã, na Saúde do irmão e na Velhice da mãe é coisa acertada. O pai é que o considera estoura-vergas.
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A alternativa, o estoura-vergas sabe-o, é o pai derreter a massa nos copos ou nas mulheres ou no jogo. Exotismos vá.
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No país, derreteu-se o dinheiro em coisas exoticas tambem, como quem diz:
- submarinos
- estradas
- subsidios energeticos e sociais
- parques escolares de luxo
- Euro Futebol
- Parques das Nações
- Etc
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Estas cenisses todas exoticas totalizam praticamente a divida pública toda.
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Dir-me-à, ah mas não se pode gastar mais do que aquilo que se ganha.
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E tem alguma razão. Menos de metade da razão. Vá, 10% de razão. Praticamente nenhuma, pensando melhor.
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O pessoal gasta sempre hoje aquilo que ganha no presente e que vai ganhar no futuro porque acredita sempre que não morre no próprio dia. Caso contrário não haviam juros, nem se emprestava dinheiro. É o principio do Investimentoe da Confiança.
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Não há empresa que financie os seus activos com 100% de Capitais Próprios. Nem empresa, nem particular. A média anda nos 20%, note bem.
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Porque se precisasse de 100% o Investimento cairia pelo cano de esgoto abaixo e, junto com ele, os empregos e as receitas fiscais. Em suma o futuro eclipsava-se.
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E o caro Joachim afirma: a austeridade boa é aquela que corta na despesa. Mas não tem em consideração que nem toda a despesa é má.
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Os excessos são maus. E só esses.
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Por outro lado ele há um conceito que custa aos liberais perceber. Mesmo que na realidade se vos demonstre a validade do conceito.
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Refiro-me à Oportunidade. A Despesa corta-se quando há crescimento. Precisamente, devido ao facto de que cortar despesa à maluca pode implicar, olha que giro, mais despesa.
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Se vc sabe que se cortar na despesa com o estoura-vergas de supetão vai fazer com que a irmã perca o ano, o irmão tenha um acidente e a mãe fique desprotegida, vc vai pensar na Oportunidade dos cortes.
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A não ser que tambem beba e nessa altura apenas pensa em si próprio e no seu santo vicio.
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Por outro lado, já sabemos, estamos mesmo calejados de saber que, cortando certos tipos de despesa, outras vêm por simpatia e com mais força. Olhe, Portugal gasta cerca de 3 mil milhões em Subs. Desemprego. Porquê? porque se cortou na despesa errada e no tempo errado e os empresário despediram-nas.
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É a tal designada Austeridade Desexpansionista onde, por cada euro 'poupado', mais de meio se esvanesse. É como encher chouriços em recipientes furados. Enche, enche, enche e nem se apercebe que a matéria sai pelos fundos.
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E são precisamente os fundos que me preocupam. Os de Investimentos, claro. Quer dizer, eu gosto deles e aprecio-os (às vezes até durmo com eles), mas não gosto que o meu banco use o meu dinheiro para especular. Se querem especular, e eu acho bem que sim, então que o façam em Sociedades Financeiras especificas.
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A este proposito devemos todos agradecer ao saudoso Ronaldo, mr president of the united states of amaerica e ao tambem memoravel presidente da Reserva Gringa que pensou que a desregulação financeira era o máximo. Pareciam actores.
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Rb

Cfe disse...

Rb,


Se cortarem os proveitos sociais, a indignação da turba irá ser tanta que dinheiro para "estádios" tão cedo não vai haver. É preciso ir ao bolso de todos para que as pessoas vejam as alternativas plausíveis. Há gente que só pensa quando vive a tragédia.

O Brasil no tempo de FHC saneou os bancos através do Proer, o resultado foi o evitar a "especulação" sim senhor mas a custa de um brutal aumento de juros. O básico é o seguinte - e por isso minha introdução: fora desse sistema de piramide financeira atual só há uma maneira de rentabilizar os bancos e é com juros muito mais altos do que os atuais.

Anónimo disse...

Pró Ricciardi,

Nem vou começar por me referir ao facto de andar a contrair dívidas para o que quer que seja, não é sustentável por muito tempo. Isso também estava implícito no post.

Quando à desregulação financeira, deixo-lhe uma leiturazinha: http://mercatus.org/publication/did-deregulation-cause-financial-crisis-examining-common-justification-dodd-frank

Ricciardi disse...

Bem, olhe, anónimo, imagine que o seu filho gosta muito de Gin's e quer muito sair todas as noites até às tantas da madrugada.
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Vc aumenta-lhe então o numero de restrições. Proibi-o de namorar, de ir ao futebol, de usar a internet, mas permite-lhe sair de casa à noite madrugada adentro.
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Como pode ver, vc aumentou a quantidade de regulações. 3 proibições e uma permissão.
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O seu filho apanha um coma alcoolico. Vc fica apreensivo e não percebe como é que tendo aumentado a quantidade de proibições, o rapaz tenha continuado a beber e sair à noite.
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Quer saber porquê?
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Porque o pau nada tem a ver com a bordoada.
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Nos bancos é a mesma coisa. Aumentam as regras e regrinhas (sonsices) e permitem que usem o dinheiro dos depositantes em produtos derivados de altissimo risco.
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Rb

Anónimo disse...

Quanto a mim, os bancos não deviam ser regulados. Quando fossem mal geridos iam á falência.
Mas o que temos é: forte regulação que custa dinheiro (do contribuinte). E quando são mal geridos e vão á falência o contribuinte é que paga.

Rui Silva

Ricciardi disse...

Rui Silva, o problema nunca esteve nem está na má gestão. Isso existirá sempre, graças a Deus nosso Senhor.
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O problema está no uso que os deixam fazer do nosso dinheiro depositado. Os bancos deixaram de ser bancos (que emprestavam e recebiam depositos). Portanto, quando o Rui fala que é a favor da desregulação bancária precisamos de ser concretos acerca do quê. Se se permitir que os bancos deixem de obedecer a rácios de capital ou mesmo na qualidade do crédito concedido eu não jogo por essa equipa. Até lhes atiro garrafas da bancada.
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Em suma, regulação tem de haver sempre. Podemos é não estar de acordo com algumas normas regulamentares.
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Rb

Anónimo disse...

Não sei...
Quando fazemos um deposito a prazo, esse dinheiro está "seguro", ou seja, em virtude da regulação esse dinheiro está " segurado" ou se quiser "mutualizado". Isso produz no depositante ( pelo menos a mim) uma despreocupação, o que leva a que o depositante não se mantenha vigilante sobre o banco onde tem as poupanças depositadas. Isto até, de certo modo afeta a concorrência pois um banco bem gerido não usufrui desse estatuto tanto como devida .
Ou seja o que quero dizer é que se o deposito estivesse sujeito a perda, o depositante teria a tendência a depositar as suas poupanças no banco "melhor". Com a regulação é indiferente, com a agravante de se alguns depositantes perderem as suas poupanças todos perdemos ( socializamos as perdas).

Rui Silva

Anónimo disse...

A Europa pode estar à beira de uma nova guerra, mas haverá sempre um cretino a dizer que gastar dinheiro em submarinos é desperdício.

atocadolobo

Ricciardi disse...

Rui, vc acha mesmo que os depositantes tem 'savoir fair' suficiente para perceber em que banco podem estar descansados?
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Eu acho que os bancos não são cafés, onde uma má experiencia não passa de um trago mais desagradavel no café da manha.
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São instituições onde temos de depositar confiança; onde temos e e podemos confiar o produto eventual de uma vida inteira.
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Na lógica liberal a escolha de um banco far-se-ia pela análise de cada banco individualmente considerado. Ora, isso não é sério. Ninguém tem capacidade para perceber isso. Até os Bancos Centrais e as auditoras tem dificuldades...
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Rb

Ricciardi disse...

Anyway, isto é semelhante ao que o o Joachim dizia, que as Universidades deviam poder vender cursos. Em vez de dar diploma por mérito acaddémico, ele defendia que pudessem vender a quem pudesse pagar. Eu na altura questionei-o acerca dos acordos inter-países de homologação e equiparação de cursos. Ele não respondeu.
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Quando li esse post imaginei imediatamente como teria sido diferente a minha vida. Se os empresários não têm confiança na educação de um país, começam a selecionar o pessoal com base em obscuridades, tendencialmente a construir monopolios produzidos pelo melhor diretor de marketing de escolas.
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Quando eu disse que era formado em certa instituição ninguém questionou a idoneidade da mesma. Ninguém me perguntou se comprei o curso ou se as notas que tive foram mesmo por estudo árduo.
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Rb

zazie disse...

ehehe

O bacano do Rui veio liberal do mba inglês

":O))))

Anónimo disse...

Concordo que nem toda a gente tem elementos que lhes permita avaliar o banco onde depositam as poupanças. No entanto com algumas estratégias simples as pessoas "comuns" poderiam mitigar os riscos. Podiam por exemplo distribuir o seu dinheiro por vários bancos, investir em bens duradouros ( propriedades ou metais preciosos etc). Mas com a regulação não necessitam de fazer esse esforço.
Gostava também de comentar o conceito que normalmente é exprimido em relação á ignorância sobre os assuntos económicos. Este conceito é usado muitas vezes para se introduzir algum tipo de regulação, mas quanto a mim esse problema é um problema da democracia. Ou seja o que quero dizer é que julgamos as pessoas incompetentes para gerirem as suas poupanças mas já são competentes para votarem e escolherem os "gestores" do Pais.

cumps

Rui Silva