05 setembro 2014

haverá desinteresse pela História?





Há uns dois meses emprestei um livro a uma colega da minha filha mais nova, a L., que tem 14 anos.
O livro é uma curta biografia do George Washington, do Paul Johnson. Está escrito num inglês simples e directo (as miúdas são bilingues), recheado de factos, curiosidades e reflexões do autor sobre o primeiro presidente dos EUA.
Quem conhece o Paul Johnson sabe como ele faz da História a disciplina mais interessante do mundo. Já leram a sua biografia de Jesus? Não percam.
Entretanto, ontem tive oportunidade de perguntar à L. o que tinha achado do livro.
-       Sinceramente não gostei – disse-me.
-       Sim? Porquê?
-       Tem muita história e o texto não se percebe bem... tem frases muito compridas.
-       Interessante ouvir a tua opinião – comentei. Eu sou um grande admirador do Paul Johnson e gosto de tudo o que ele escreve.
-       Eu não gostei, é um bocado maçador. Mas eu até tentei gostar...
-       Claro – sorri. Obrigado pela tua opinião.
A minha filha já tinha mostrado o maior desinteresse pelo livro e agora a L. confirmava. Esta geração tem pouco interesse neste tipo de leituras.
É uma surpresa para mim que já lia tudo o que me vinha parar às mãos com essa idade. E então uma biografia, a história da vida de uma das pessoas que mais contribuiu para moldar o mundo em que vivemos, ainda por cima contada pelo génio do Paul Johnson, não era suposto ser uma maravilha?
Auguro que o Paul Johnson nunca vai ter muitos leitores na geração Z e que o estudo da história lhes vai parecer cada vez mais desinteressante. Por que será?

19 comentários:

Anónimo disse...

O Paul Johnson pode continuar a ter sucesso na geração Z se começar a fazer biagrafias da Kim Kardashian.
.
Rb

Anónimo disse...

É o mercado...
.
Rb

zazie disse...

Para uma miúda portuguesa, que nunca leu biografias, dar-lhe a do Washington é parvoeira.

Comece pelos portugueses.

Anónimo disse...

Olhe, uma biografia de Dom João II seria excelente. Um rei com aquela qualidade não tem par no mundo.
.
Rb

Anónimo disse...

Joaquim,
Simples.
O principal traço da cultura moderna, iniciada pelo Descartes, e o seu desinteresse (na realidade, rejeição) do passado.
PA

zazie disse...

Ou de D. Manuel; ou de D. Dinis. Ou de Salazar.

zazie disse...

A rejeição do passado é mais recente.

É até demasiado recente. Por cá começou com a geração abrilista que tratou logo de apagar os "heróis" da História e macaquear a velha e fossilizada tradição dos Annales franceses.

A História passou a ser economia e leis.

E isso é tradição marxista-liberal.

zazie disse...

Só por coisas- gramava saber quantos espanhóis leram a biografia do Washinghton.


A mim nunca me passaria pela cabeça.

Anónimo disse...

Caro PA,

Obrigado.

ABÇ
Joaquim

Anónimo disse...

"Esta geração tem pouco interesse neste tipo de leituras."

Joaquim, não se esqueça que existem diferenças notórias entre os gostos de leitura das mulheres e dos homens.
Alargue a sua amostra aos amigos delas e talvez se surpreenda.

Filipe

Anónimo disse...

Caro Filipe,

Obrigado. Foi uma excelente sugestão. Embora eu ache k as raparigas gostam de bios

Joaquim

zazie disse...

"As raparigas gostam de bios".

Essa é cá uma tirada.

Se há coisa em que não se pode fazer mera demarcaç~ºão por sexo é no gosto teórico.

Olhe, eu conheço muito licenciado e até professor e professora que nem gosta de ler.

Ponto final.

e ler teoria, acho que ainda menos.

Há até uma frase que oiço muitas vezes "literatura light para férias".

Não faço a menor ideia como se pode perder tempo a ler coisas só para entreter.

A sério. A minha literatura de férias é sempre teórica. Filosofia e História.

Acho que até me sentia besta se não aproveitasse o tempo livre para ler o que é mais teórico.

Pois conheço também muita mulher que diz que precisa de "zerar".

E ainda se queixam de outra coisa que também nem sei o que é. terem "a cabeça cansada" por não terem apenas trabalhos braçais.

A dita "cabeça cansada" pode ser efeito de dar aulas.

Acham até que muita coisa teórica pode cansar o cérebro e daí precisarem de "zerar".

Conclusão- cada um é para o que nasce.

zazie disse...

Eu gosto sempre de alternar teoria com boa literatura.

Talvez deixe para o fim a poesia. Mas o ideal até é misturar tudo de acordo com um sentido histórico.

Se a juventude não lê, há-de ser por efeito geral da massificação e da mediatização em que se vive.

zazie disse...

Mas admito que nem por curiosidade alguma vez me deu para ler o MST ou Paulo Coelho ou a do "Sei lá".

zazie disse...

E a vida do Washington nem me lembraria se v. não falasse dele.

E v. fala porque é um estrangeirado e depois acha que isso de estrangeirado é coisa que se pega por hereditariedade ou contágio.

":OP

Unknown disse...

Eu acho isso tão sintomático como natural. E digo natural porque levo com naturalidade o facto de uma certa geração olhar para as seguintes e não se reconhecer na sua visão do mundo. Isso e acharmos que são todos uns mimados, vaidosos, malandros e narcisistas. O que é curioso, porque nada mais são que o produto de quem os criou.

Mas acho que a mesma L. o surpreenderá dentro de uns anos. Se as ferramentas que lhes estão a ser dadas derem bom resultado, daqui a uns anos ela lerá Washington e até saberá que o segundo e terceiro presidentes do EUA - que, de resto, e por esta ordem, foram também os primeiro e o segundo vice-presidentes dos EUA - John Adams e Thomas Jefferson morreram exactamente no mesmo dia e que nesse dia se comemoravam 50 anos sobre a assinatura da declaração de independência das então treze coloónias, em 4 de julho de 1776.

Talvez ela venha mesmo a saber o que quer dizer a expressão «Jefferson lives», e por quanto John Adams, no leito de morte, e por umas horas, se enganou...

Dê tempo ao tempo: esta geração tem muitos defeitos. Mas se lhe derem um objectivo e a deixarem voar, sem o ultraproteccionismo que lhe devotam, talvez o futuro não seja tão tristonho como parece.

No entanto, desejo-o mais do que o espero.

http://pensamentoliberalelibertario.blogspot.pt

Vivendi disse...

O QI das gerações novas está a diminuir em relação às das gerações passadas.

Hoje temos pessoas mais distraídas e menos concentradas na realidade.

Os canais de informação e comunicação nunca foram tão acessíveis como são agora.

Nota-se que as pessoas são cada vez menos esclarecidas mas todas se dão ao direito de ter uma opinião própria.

Anónimo disse...

Depois de ler a última crónica de Gabriel Mithá Ribeiro no Observador,
http://observador.pt/opiniao/indisciplina-nas-escolas-os-sete-pecados-mortais/
fiquei estarrecido com a quantidade de pessoas a queixarem-se da escrita alegadamente «hermética» do autor. E são leitores do Observador, imagine-se se o fossem apenas de tablóides ou de jornais desportivos jornais...
Pedro Cruz

Anónimo disse...

Depois de ler a última crónica de Gabriel Mithá Ribeiro no Observador,
http://observador.pt/opiniao/indisciplina-nas-escolas-os-sete-pecados-mortais/
fiquei estarrecido com a quantidade de pessoas a queixarem-se da escrita alegadamente «hermética» do autor. E são leitores do Observador, imagine-se se o fossem apenas de tablóides ou de jornais desportivos jornais...
Pedro Cruz