22 agosto 2014

sobre o capitalismo e o socialismo em Portugal


O capitalismo é o sistema social e económico que emerge naturalmente numa sociedade livre. O socialismo, pelo contrário, é um sistema político que usa o poder coercivo do Estado para distorcer a ordem espontânea, em benefício de determinados grupos sociais.
Por isso, só há verdadeiro capitalismo em liberdade e o socialismo só é possível quando se cerceia essa liberdade. Normalmente através da violência, seja a que decorre do monopólio de violência do Estado, seja a que decorre da violência perpetrada por organizações sociais que servem desígnios políticos.
A titularidade da propriedade (e dos respectivos meios de produção) não determina se uma sociedade é capitalista ou socialista. No chamado nacional-socialismo, o sector privado foi colocado ao serviço do Estado, sem que tenham tido lugar nacionalizações. Pelo contrário, nos EUA, há uma tradição de instituições públicas que se regem pelo direito privado e que funcionam segundo as regras de mercado.
O ponto fulcral a reter é que a liberdade é o único parâmetro que serve para caracterizar adequadamente o sistema social de um país. Quando é total (em minarquismo) o sistema é sempre capitalista porque é o que emerge espontaneamente. Quando está limitada, chamem-lhe o que quiserem mas capitalista é que não é.
O socialismo, em Portugal, é fruto do desprezo que os portugueses têm pela liberdade. Daí termos passado, sem incidentes, do Estado Novo para “a construção do socialismo”.
Quando falo aqui de liberdade refiro-me à que resulta de respeitarmos os direitos dos outros. Os portugueses prezam a sua liberdade pessoal, estão-se é nas tintas para a dos outros. É por isso que a democracia entre nós funciona mal e é por isso também que o capitalismo não se coaduna com a cultura portuguesa.
Os países do capitalismo, especialmente os anglo-saxónicos, têm uma verdadeira paixão pela “Liberdade”, sentimento totalmente ausente entre nós.
O libertarianismo, ou até o liberalismo, tem poucas possibilidades de ter sucesso em Portugal, pelos motivos que expus. Os liberais serão sempre considerados uns chalados que não percebem o caos em que cairíamos se a sociedade portuguesa fosse verdadeiramente livre. Neste aspecto continuamos salazaristas até à medula.
Tendo vivido nos EUA, habituei-me a que me deem um certo desconto quando me confesso libertário. ‹‹Coitado, está estrangeirado, não conhece a cultura portuguesa››. É como se fosse portador de uma psicose delirante.
Os anos foram passando e eu não mudei de ideias, mas compreendi que ‹‹os portugueses, coitados, querem ser socialistas››.
É por isso, caros amigos da liberdade, que todos os partidos em Portugal são socialistas. Quem compreende o funcionamento dos mercados deve tirar daqui as devidas elações: o liberalismo não vende.

16 comentários:

tric disse...

"Os países do capitalismo, especialmente os anglo-saxónicos, têm uma verdadeira paixão pela “Liberdade”, sentimento totalmente ausente entre nós."
.
deve ser por isso que apoiam a destruição da Cristandade no Levante...em nome da Liberdade!

Euro2cent disse...

> O capitalismo é o sistema social e económico que emerge naturalmente numa sociedade livre.

E a cuja dita "sociedade livre" é o que emerge naturalmente quando os membros da elite proprietária - os donos daquilo tudo - encontram um modo de coexistência mais ou menos pacífica entre si.

É claro que, como disse o Tucídides da justiça, a liberdade é uma coisa entre iguais - os fortes fazem o que querem, os fracos aguentam o que podem.

Funcionou na Grécia e em Roma, e voltou a funcionar quando das revoluções francesas e americanas. Com as fábricas de máquinas a vapor e de sabões, ligaram também a fábrica de consentimento dos governados, e as coisas lá vão indo.

O socialismo, seja em versão Lenine ou Júlio César, é coisa de aristocratas desapossados, que vão buscar aos "capite censi" a força que lhes falta para substituir os donos reinantes.

E o "amor à liberdade" é injectado - sem olhar a custos, sai bem barato - pelos fabricantes de sabão. Os devotos dessa santa nem percebem como são embarretados. Discorrem apaixonadamente sobre as virtudes da coisa de modo completamente irracional, e não admitem que a questionem - são uns autênticos talibans.

Tem graça que os devotos da santa não sabem explicar para que querem a liberdade. Nem entendem que liberdade não é um fim, é um meio de atingir outros fins. Mas os devotos não tem outros fins, não pensaram nisso.

Mas os donos daquilo tudo pensaram. E não contam.

Vivendi disse...

E se houvesse...

Um governo forte, experiente e altamente qualificado, apoiado por um serviço especializado civil e um sistema de educação com ênfase na realização e na meritocracia mas visto por alguns eleitores, críticos da oposição e observadores internacionais como sendo autoritário e demasiado restritivo quanto a liberdade individual.

Será que pode haver capitalismo???

Only in your dreans Mr.Joaquim (o Libertário)

http://viriatosdaeconomia.blogspot.pt/2014/08/um-lugar-onde-democracia-pouco-conta.html


Já no outro dia o CN deu aqui uma achega com um exemplo de Monarquia Absoluta mas o Joaquim continua de olhos bem fechados.

Vivendi disse...

Vai-me dizer que não encontra nestas fotos dos anos 60 e 70 na cidade onde nasceu um espírito empreendedor e capitalista?

http://viriatosdaeconomia.blogspot.pt/2014/08/o-mito-do-pais-pobre-e-subdesenvolvido.html

Only in your dreams, Mr.Joaquim (o Libertário)

Vivendi disse...

Já houve um tempo onde os portugueses não eram parvos e esse tempo foi muito antes ainda do aparecimento do liberalismo. Por isso não venha para aqui armado em "iluminado".

"A dinastia Ming proibiu o comércio entre a China e o Japão. Os chineses viam os japoneses como seres boçais e reles. Porém, os portugueses estabeleceram-se em Macau (1557) - acto sancionado pelo Imperador de Pequim vinte anos mais tarde - e, a partir daí, criaram o comércio entre Nagasáqui, Macau e Goa."

Era o tempo onde se construiu um imenso império praticando o mercado livre.

http://viriatosdaeconomia.blogspot.pt/2014/06/houve-um-tempo-onde-os-portugueses-nao.html

José Lopes da Silva disse...

http://www.publico.es/internacional/468678/un-hombre-recibe-un-disparo-durante-una-discusion-sobre-kant a notícia é antiga, mas o tema é actual.

zazie disse...

Os comentários do Eur2cent valem o blogue.

Já no Joãozinho dos pequeninos era igual, Havia por lá uma "Besta" qualquer que deixava comentários de tal modo pertinentes nas caixinhas que só ia lá par os ler.

Anónimo disse...

Mas o verdadeiro capitalismo não é aquele sistema que rejeita a ideia de que existam interesses colectivos ou gerais, e em que a realização dos interesses individuais e egoístas de cada um é o que deve determinar o funciomamento da economia e da sociedade como um todo?
Se o capitalismo é este tal sistema, então o mais "natural" é, realmente, cada indivíduo prezar a sua liberdade e interesses pessoais e estar nas tintas para a liberdade dos outros. Até porque, como já dizia a Thatcher, "a sociedade é coisa que não existe, o que há e sempre haverá são indivíduos".
É que estar preocupado com a liberdade dos outros implica estar preocupado com "a coisa que não existe", com as relações sociais e com a forma de organização da sociedade e da vida em comunidade, o que é contraditório com o ideal capitalista e individualista que rejeita a subordinação dos interesses individuais a qualquer projecto ou sentimento colectivo.
Numa "coisa que não existe" livre os ideais do Joaquim estão condenados ao fracasso, pois esses ideais nunca podem ser colectivos ou comuns mas apenas individuais. Portanto, a taradice dos libertários como o Joaquim não está no desconhecimento da cultura socialista portuguesa, mas sim no desconhecimento da sua próprio cultura individualista, ao pretender que ela deixe de ser individualista para se tornar colectiva.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...

Lesse

Anónimo disse...

Caro anónimo,

O libertarianismo não corresponde à sua descrição.
Sugiro-lhe que leia Ayn Rand sobre este assunto.
Libertarianismo não é anarquismo.

Joaquim

Anónimo disse...

Ó Joaquim, eu sugiro-lhe que volte a ler o meu comentário, pois eu não fiz qualquer confusão entre o anarquismo e os seus ideais randianos, seja lá o que isso (essa irrelevância "filosófica") for...
Que eu saiba a Thatcher era uma conservadora adepta do capitalismo desregulado. Que eu saiba os únicos valores e interesses que um individualista defende são os seus próprios. Que eu saiba foi o Adam Smith quem afirmou que o motor da economia consiste na busca e na satisfação dos interesses individuais. Que eu saiba nada disto se confunde com o anarquismo.
O Joaquim é que anda confuso e pelos vistos quer que os seus interesses e ideais individuais se tornem em interesses e ideais colectivos, o que é a negação do próprio individualismo.

Vivendi disse...

Veja se abre os olhos de uma vez...

Ensaio sobre o anarco-capitalismo

É o anarco-capitalismo viável?
A proposta dos anarco-capitalistas é a ausência total de participação do estado em suas vidas e são contra qualquer forma de coletivização coerciva.
Assim de repente podemos enquadrar este modelo de vida nas formas primitivas tribais do passado e em algumas poucas tribos que ainda hoje existem mas que se encontram distantes dos modelos civilizacionais que foram sendo construídos ao longo da história que através de organizações sociais deram origem às várias nações e países existentes no mundo.
Onde encontramos o anarco-capitalismo em território Português? Talvez no exemplo dos povos tribais que pouco ou nada deixaram de estruturante no atual território nacional e por contra-ponto ao império romano (uma das primeiras formas organizadas de estado na península ibérica) ainda hoje é possível encontrarmos bastante elementos e marcas desse passado romano e até muitas das edificações romanas ainda hoje são utilizadas (pontes, estradas..) mas também é uma evidência histórica que a civilização romana entrou em decadência pelo peso da sua burocracia, inflação e gestão centralizadora ao ponto de provocar a fúria e a raça de pequenas tribos locais como os Viriatos para combater o domínio romano.
Sobre uma perspectiva histórica mais global, a civilização europeia, que foi o modelo civilizacional que se impôs de forma mais relevante no mundo foi fortemente marcada pela matriz cultural helénica- cristã e após milhares de anos de avanço civilizacional ainda hoje perduram como catalisador principal no desenvolvimento da organização espontânea da sociedade não obstante o surgimento moderno de elementos opositores (iluminismo, revolução francesa, marxismo cultural).
Fazendo agora uma conclusão sucinta da história é facilmente compreensível que os pequenos grupos tribais se organizaram (num trabalho digno de formiguinhas) em modelos sociais que mais tarde deram origem às nações com o objectivo principal de se protegerem de povos invasores para assim poderem desenvolver pacificamente as suas atividades agrícolas e comerciais e por incrível que pareça ainda hoje assistimos a este mesmo filme.

Vivendi disse...

Ainda existem grupos invasores a tentar intervir nos mais diversos locais e regiões do mundo restando aos autóctones procurar alguma forma de defesa e a sua resistência torna-se mais eficaz quanto maior é o peso da tradição e da história.
A manipulação em volta da Ucrânia é um exemplo da loucura que permanece nos dias de hoje (onde o problema está longe de se resumir a um simples conflito entre vizinhos).
E muito mais acontece por essa Europa, um continente que se encontra ainda com uma série de fronteiras artificiais construídas no tempo da revolução napoleónica (maçônica) onde temos uma série de povos e regiões que desde séculos passados permanecem até aos dias de hoje com uma forte ambição e desejo na secessão.
No reverso e em simultâneo temos a utopia da Europa Federal (UE) que é bastante semelhante com o pior dos tempos da civilização romana (burocrata, centralizadora e parece querer ser inflacionária) e, pior ainda, também é parecida com a Europa do início do Séc XX (desconfiada e invejosa entre as várias nações que compõe o continente europeu).
E onde entra o papel do anarco-capitalista moderno no meio disto tudo?
Para além da sua intransigente defesa na propriedade privada, o anarco-capitalista, pouco mais consegue na tentativa de promoção de um modelo de vida desorganizado e descomplexado pois está condenado a bater de frente perante uma ordem social que foi construída de forma espontânea e ou manipulada ao longo dos vários séculos e torna-se assim uma imensa utopia a tentativa de qualquer imposição radical (já bastou o comunismo internacionalista).
A realidade é a de uma sociedade que se depara com os mesmos problemas de sempre e como tal não se encontra preparada para evoluir espontaneamente para outras formas de organização social.

Vivendi disse...

Já a defesa do papel do individual contra o colectivo (principalmente quando falamos de coerção) é muito importante e é claramente um direito natural legítimo.
Considero pois utópica uma sociedade de cariz totalmente anarco-capitalista mas já não considero uma utopia o indivíduo anarco-capitalista e acho que seria bastante interessante termos os estados a permitirem a liberdade de opção para quem quiser seguir um modelo de vida individual anarco-capitalista.
E o seu envolvimento com o estado? Como ficaria? Sempre que um anarco-capitalista tivesse que recorrer ao estado seria através de uma abordagem de troca comercial invés de uma troca que hoje é feita pela via dos impostos. Os custos dos serviços estatais que hoje passam praticamente despercebidos pelas comunidades bem como a proveniência dos recursos passariam a estar enquadrados em uma formação de preços conforme a lei do mercado.
E para o pessoal da esquerda, os anarco-comunistas, também considero que deveriam ser permitidas a criação de comunas (com a ressalva que o território tenha sido comprado ou voluntariamente cedido) para que os camaradas possam desenvolver o seu projeto de vida conforme os seus ideais sem interferir na liberdade dos outros.
E como conceber esta lógica? Toda esta lógica só é possível se tivermos um afastamento do estado central para o estado local. No modelo privado só com um estado local é possível haver uma quantificação de valor para uma série de serviços ( estradas, saneamento, etc…) e no modo socialista estes passariam também a depender exclusivamente dos recursos da comunidade onde estariam inseridos. Tal avanço só é possível com uma verdadeira concepção descentralizadora. Assim o aparecimento de cidades-estados e regiões-estados com elevada autonomia são a forma mais correta para que as comunidades se encontrem com o estilo de vida mais desejado.
(haveria muito mais a desenvolver mas o texto já vai longo…)

Conservador disse...

Existem algum partido português que adopte o capitalismo?
Eu andei a procurar e não encontrei nenhum..