18 agosto 2014

Vai ser assim


Entre 1991 e 2002 a Argentina adoptou uma política monetária que consistia em manter a paridade do peso em relação ao dólar. Para efeitos práticos esta política é semelhante à Argentina ter adoptado uma moeda única, o dólar, com os EUA.

O sistema ruiu em 2002. Veja a descrição do colapso do sistema. Vê semelhanças com algum país da Zona Euro em 2014? Prepare-se para viver a mesma situação. Vai ser assim o fim  do Euro em Portugal.

Haveria necessidade?

O texto é citado daqui e os bolds são meus.



Desde o início dos anos 90, a Argentina havia acumulado pesada sobre-valorização cambial, parcialmente compensada, porém, pela política cambial do Brasil entre julho de 1994 e janeiro de 1999. A partir de 1999, o panorama cambial se modificou para a Argentina em razão da supervalorização da sua moeda âncora, o dólar, em relação a diversas outras moedas, especialmente o real e o euro. Dado que a lei de conversibilidade imobilizava a taxa de câmbio bilateral com o dólar, o peso argentino foi arrastado para o alto. Um movimento de expressiva valorização cambial era, como já mencionado, exatamente o contrário do que a Argentina precisava. Agravaram-se, com isso, os crônicos problemas de competitividade da economia argentina, o desequilíbrio das contas externas e a dependência em relação a financiamento internacional.

Em 2001 o currency board da Argentina entrou em agonia. Ironicamente, coube a Domingo Cavallo administrar a fase terminal do modelo por ele introduzido dez anos antes. Em abril, já em desespero de causa, o presidente De la Rúa resolvera reconduzi-lo ao cargo de ministro da Economia. A situação beirava o inacreditável: De la Rúa, que havia sido eleito como candidato da oposição a Menem, confiava a condução da economia ao principal responsável pela estratégia econômico-financeira do seu antecessor! A missão do novo ministro, que se transformou imediatamente em uma espécie de primeiro-ministro, era tirar a economia argentina da recessão e, ao mesmo tempo, preservar o regime monetário.

Missão impossível. Os rígidos dispositivos introduzidos em 1991, com o intuito de estimular a confiança e garantir a credibilidade do peso, transformaram-se em fonte de instabilidade e incerteza. Tentativas de flexibilizar pontualmente o modelo monetário-cambial e a política econômica tendiam a despertar ainda mais desconfiança. A incapacidade de pagamento dos governos nacional e provinciais tornou-se indisfarçável. Sucessivas manobras financeiras e fiscais, incluindo empréstimos emergenciais do FMI e de outras fontes oficiais, operações onerosas de troca de títulos públicos e medidas draconianas de ajustamento fiscal, não conseguiram evitar que, no final do ano, o ministro Cavallo tivesse que reconhecer a necessidade de reestruturar as dívidas públicas interna e externa. A dívida interna chegou a ser renegociada, com redução de juros e alongamento de prazos, no apagar das luzes da sua gestão, em dezembro de 2001 (10). Contudo, essas providências não foram mais suficientes para impedir a derrocada do modelo.

Ao longo de 2001, cresceu a desconfiança em relação ao sistema financeiro argentino. Como se podia prever, a recessão prolongada gerou inadimplência dos devedores privados e queda na qualidade dos ativos bancários, abalada também pelas já referidas dificuldades de pagamento do setor público. A desconfiança levou a saques de depósitos e aplicações e à fuga de capitais para o exterior. Essa última foi facilitada, evidentemente, pela livre conversibilidade da moeda. É provável que os próprios bancos, especialmente os estrangeiros, tenham servido de conduto para a fuga de capitais e até remetido recursos próprios para o exterior. Uma corrida bancária em novembro acabou levando o governo a bloquear os depósitos do público, uma das últimas medidas do governo De la Rúa. Essa decisão não só destruiu a confiança no sistema bancário, como acabou sendo um dos principais estopins de uma crise política que levaria ao fim prematuro do governo, dois anos antes do final do mandato para o qual fora eleito.

2 comentários:

Rui Alves disse...

Para quem deseje aprofundar o tema Argentina, sugiro este trabalho:

http://www.hacer.org/pdf/carmencitabyrojas.pdf

A partir da página 118 converge precisamente para tudo o que é mencionado aqui.

Anónimo disse...

O que é que pode ser feito para mitigar esse cenário ?