16 agosto 2014

uma banqueta

A concentração na figura de Ricardo Salgado da falência do BES passa ao lado daquilo que verdadeiramente deitou o BES à falência - o Euro e a entidade que o emite, o BCE.

É uma característica da opinião pública em Portugal. Concentra-se no que é lateral e acessório, omitindo o principal.

Ricardo Salgado foi o último verdadeiro banqueiro existente em Portugal. Os outros, que estão à frente dos outros bancos, são meros gestores bancários. Com o desaparecimento do BES morre o último dos bancos privados tradicionais do país.

Um banco com um nome de família, um banco que se fôr à falência é também a família que se arruina? Isso não pode mais ser. Moderno é um banco com um nome impessoal em que os gestores invariavelmente saem ricos mesmo quando o banco vai à falência.

Seria muito interessante conhecer os argumentos que levaram o BCE a cortar o crédito ao BES.
Porque o Banco estava aflito? Mas esse é precisamente o motivo por que o BCE existe, para lhe conceder crédito de emergência (e depois impor-lhe as alterações à gestão que considerar necessárias).

A única explicação que me ocorre é que embora o BES fosse um banco muito importante para Portugal, visto de Frankfurt e da Alemanha era uma banqueta sem importância. Resta acrescentar que centrar a responsabilidade pela falência do BES onde ela está -  no BCE, muito mais do que em Ricardo Salgado -, não é politicamente correcto.

O debate público sobre o BES em Portugal é agora feito de um enrolado de verdades e mentiras acerca de Ricardo Salgado, e omite o principal - o BCE.

Quando nos envolvemos com os países do norte da Europa, disse um dia Salazar, viemos de lá sem fazenda e frequentemente sem vida. Neste caso, muitos portugueses vieram de lá sem fazenda.

5 comentários:

lusitânea disse...

Até pode ser como diz.E caso fosse e o homem não tivesse feito as trafulhices que acabaram por prejudicar 3ºs era herói.Mas olhe que desde novo ele apanhou o jeito de usar aquilo que não era dele e tinha depositado no banco...e que deu lucros até hoje aos depositantes

Anónimo disse...

Bem, RS ao que parece usou o BES para financiar empresas do grupo. O mesmo é dizer que usou a massa dos depositantes para financiar actividades da familia.
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Este procedimento é incorrecto e perigoso. É por isso que não é permitido pelas leis que regem a actividade bancária. Ele sabia disso mas contornou as leis usando instrumentos variados para enganar as autoridades de controlo.
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Não obstante, quer-me parecer que as empresas do grupo são empresas lucrativas e com capacidade de reembolsar os emprestimos obtidos pelo BES, pelo que não seria necessário obrigar o grupo a falir como o BCE acabou por fazer.
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Foi uma decisão impessoal e que não teve em devida conta a real situação e importancia do grupo para o país. A vários niveis.
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Para os burocratas da UE não existe problema algum. Eles continuarão a receber o seu salário normalmente e pretendeu ser apenas uma forma de exemplo para outros situações semelhantes que existem na europa. E existem amiúde em TODOS os países mais importantes, já que os bancos passarão a ser grupos e a deter posições importantes em diversas áreas de negócio.
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Rb

Anónimo disse...

Eu até admito que o BP não tivesse meios e lhe passasse ao lado as formas que o RS usou para financiar actividades da familia. É dificil descobrir estas coisas usando a informação que eles próprios facultam.
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Mas já não consigo compreender como é que estes movimentos podem passar pelo crivo das empresas de Auditoria. Estas existem precisamente para descobrir e colocar reservas nas contas e verificar a legalidade das mesmas. Existem com o propósito de dar confiança aos investidores, depositantes, accionistas e obrigacionistas. E tem todos os meios para o fazer. Aliás, basta a uma Auditora dizer que vai colocar reservas às contas, se as não entender, para que a gestão tenha que colaborar.
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Porém, as Auditoras são multinacionais. Inglesas e Gringas.
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Rb

Anónimo disse...

A PWc em quinze dias desmontou todos os movimentos no BES. Isto é sinal de que se quiserem fazem o seu trabalho bem feito. E se o tivessem feito nada disto teria acontecido.
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Portanto, a julgar alguém, deveriam ser as Auditoras as primeiras e os executantes em segundo. É mais importante involver as Auditoras no assunto do que julgar RS.
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Banqueiros e empresários e médicos e electricistas a distorcer as regras há, sempre houve e sempre haverá. A questão coloca-se em quem tem a obrigação de limitar as ações daquela gente.
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Rb

Luís Lavoura disse...

O BCE existe para conceder crédito de emergência a bancos solventes e que lhe possam dar colateral. Não pode dar crédito de emergência a bancos falidos e que não apresentem colateral.

Foi por isso que o BCE não deu crédito de emergência ao BES: porque este já não tinha colateral para apresentar em troca.