15 agosto 2014

Mais uma vítima: da moeda elástica

Claro que o problema estrutural do sistema monetário é colocar os depósitos à ordem a servir de financiamento aos bancos, quando devem constituir aquilo que a percepção do povo julga que é: moeda imediatamente disponível, segura, e não dependente de mecanismos inflacionistas para assegurar que não desaparecem. Essa simples transubstanciação fornece aos bancos a capacidade de oferecer crédito por pura criação de mais depósitos à ordem, baixando artificialmente a taxa de juro a ser paga ao aforro, beneficiando os grandes colectores de crédito e quem tem a capacidade de beneficiar do aumento de preços que induz (activos reais, como imobiliário, financeiros, etc.), criando um circulo de poder (no fundo, o poder de criar) que há muito é visto com desconfiança pela cultura popular, gerando anticorpos contra o capitalismo financeiro, e que depois vem beneficiar, com a crise - que constitui a cura - de suporte pelo mesmo mecanismo. Let them fail.

26 comentários:

Luís Lavoura disse...

o problema estrutural do sistema monetário é colocar os depósitos à ordem a servir de financiamento aos bancos

Pois, mas todos os bancos fazem isso, e sempre fizeram desde que começou a haver bancos. E a razão é muito simples, dado que há poucos clientes que num determinado dia decidam levantar o dinheiro que têm à ordem, mais vale o banco utilizar esse dinheiro para algo de produtivo, viz. para crédito.

Eu diria que, se o CN está descontente com este sistema, tem uma boa e atraente possibilidade: crie ele próprio um banco (pode chamar-lhe, por exemplo, "Banco Honesto") que prometa aos seus clientes não mexer no dinheiro que têm à ordem, nem emprestar o dinheiro que eles têm a prazo por mais tempo do que o prazo fixado. Verá o que sucede a tal banco: incapaz de oferecer taxas de juro atraentes aos seus depositantes, rapidamente ficará sem dinheiro nenhum...

CN disse...

Que sempre fizeram é oontestável historicamente, que sempre tentaram ser fraudulentos, é verdade.

A moeda , como conceito, nem é um bem de consumo nem de investimento. É um bem de troca. É esse o seu serviço. Precioso, sem ele não existe divisão de trabalho.

É "produtivo" no seu máximo, como meio de troca. Não carece de para alem deste precioso serviço de estar a fazer "algo produtivo". Isso é completa falácia mental.

Acresce que algo chamado depósito não pode constitui financiamento. Ou é uma coisa ou é outra.

E o facto de poder ser criada para conceder crédito é o que constrói a pirâmide de crédito do qual os depósito à ordem se transformam em financiadores de um castelo de cartas que ciclicamente cai.

CN disse...

Não é possível oferecer no mercado um "Banco honesto" sem que possa oferecer uma moeda não-homogénea com moeda fraccionária.

Teria de ser possível emitir moeda diferenciada (omo ouro físico, ou bitcoins), e esta não conter barreiras a constituir meio de troca, liquidar contratos e dívidas, e formar preços.

Anónimo disse...

"Let them fail".

They will fail.

Anónimo disse...

Em suma:

1º Passavamos a chamar Casa Forte (CF)a um 'banco' e este só podia dedicar-se à guarda de dinheiro em forma de notas ou moedas.

2º Passavamos a chamar Instituição de Crédito (IC)a um 'banco' e este só podia emprestar notas e moedas da Casa Forte.

Portanto, temos em 1º o passivo dos actuais bancos e em 2º o activo dos actuais bancos. Uma IC concedia crédito pedindo dinheiro emprestado à CF. Ora, se a CF emprestava dinheiro à IC seria, tambem ela, uma IC. Como menos clientela, ainda assim, corria os mesmos riscos que os actuais bancos.
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Nada impediria que a CF emprestasse dinheiro à IC e esta emprestasse dinheiro à familia do 1º.
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Rb

Anónimo disse...

O que provavelmente o CN quer dizer é que um banco não deveria poder fraccionar mais do que uma vez o dinheiro dado em forma de crédito. Isto é, que a um depósito correspondesse um só crédito.
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Mas na verdade é isso que acontece. O Passivo de um banco (depositos) está totalmente coberto pelos seu Activo (Emprestimos). E ainda sobram 9% de Capitais Próprios para o que der e vier.
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O único problema que pode existir neste sistema, para além obviamente da desonestidade de cada banqueiro, é que os Activos de um banco (Crédito concedido) seja de tão má qualidade que não possa solver o seu Passivo (Depositos).
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Rb

Anónimo disse...

Contudo, a Carteira de Crédito deve ser alvo de boa fiscalização por parte dos supervisores no sentido de evitar que um banco possa usar o dinheiro dos Depósitos para fazer créditos cujo reembolso seja problematico. Como seja um banco ter a possibilidade de emprestar dinheiro a empresas detidas pelo próprio banco e em seu beneficio, como aconteceu com a familia ES.
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Haverá sempre pessoas (banqueiros) a fazer isto e muito mais. Essa não é novidade, nem deve chocar alguém. O que é realmente preocupante é que os reguladores e as empresas de Auditoria não façam o seu trabalho correctamente.
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Rb

CN disse...

Clientes das CF que queiram receber juros, transferem para o IC e depositam a prazo. No final ou renovam ou recebem outra vez na CF.

Ou aplicam em fundos.

CN disse...

A moeda na CF continua a ser moeda. Não tem risco de crédito, pode servir de conta corrente para pagamentos, recebimentos, etc.

Na IC estão aplicações a um qualquer prazo, contra juro e em risco de crédito.

Anónimo disse...

Existe alguma coisa que o impeça de colocar o seu dinheiro numa Casa Forte sem receber juros?
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Não. Não existe. Vc pode pegar no seu dinheiro e coloca-lo à guarda. Há casas para isso. Até um simples aluguer de cofre do banco faz esse efeito.
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Porque é que colocamos num banco?
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Porque nos dá um triplo serviço. De guarda, de valorização em forma de juros, e de emprestimo.
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Rb

Anónimo disse...

Mas se vc quiser guardar simplesmente o seu dinheiro num cofre e mesmo assim ter acesso a serviços de pagamentos por cartão de crédito pode perfeitamente comprar um cartão com pré-carregamento de plafond. Não está muito desenvolvido este produto, mas existe.
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Rb

Anónimo disse...

Se o 'mercado' tiver uma procura grande para este tipo de soluções, CN, pode crer que ela se desenvolve. Se se não desenvolveu é porque não existe procura.
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Rb

Anónimo disse...

A procura que existe está circunstanciada a pessoal muito abastado que quer ter um pé de meia fora de todo e qualquer tipo de risco. E esse gostam de ter o seu dinheiro bem fechado num cofre e juntam-lhe ouro, platina, artes, etc.
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Rb

CN disse...

"Se o 'mercado' tiver uma procura grande para este tipo de soluções, CN, pode crer que ela se desenvolve. Se se não desenvolveu é porque não existe procura."


RB o mercado monetário não é livre, as reservas fraccionarias começaram por ser fraude formal depois passou a ser legalizado, ainda que parte das pessoas nem o perceba e continue a julgar que pelo menos o DO está guarda similar.

Na prática, as reservas fraccionárias são impostas.

Anónimo disse...

CN, o mercado é livre. O Bitcoin é prova disso.
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As reservas fraccionárias foi o que permitiu o desenvolvimento abrupto do nivel de vida das pessoas, na medida em que se aproveita o dinheiro parado para financiar novos projectos.
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Então, se se chega à conclusão que em média 80% do dinheiro não é usado pelos seus proprietários porque raios é que estes não hão-de beneficiar de um juro e porque raios não haveriam as pessoas que tem ideias de negócio poder financia-las com dinheiro alheio?
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Isto é o virtuosismo do Capitalismo. Tambem tem partes más, mas as boas compensam.
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Rb

Anónimo disse...

Mais a mais, matematicamente o 'fraccionamento' não é ilimitado. Por exemplo, para o caso que atrás ilustrei (80% do dinheiro parado) existe a possibilidade teórica máxima de o fraccionar nove vezes.
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Par ficar mais consolado, imagine que o dinheiro posto à disposição da economia neste sistema fraccionado tem um colateral em ouro enterrado na Lua.
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Se imaginar isso, vai ver que se converte imediatamente ao Capitalismo. Exactamente na medida em que o capitalismo assenta no pilar confiança e desenvolve-se na coluna do sonho.
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E portanto, para mim, existem imensos colaterais na Lua e em Marte. O que é preciso é mesmo que haja massa disponivel para financiar projectos e ideias. A única limitação a isto encontra-se na natureza das coisas. Os recursos são finitos e a natureza não aguenta sobre desenvolvimento por causa das poluições e excesso de pessoas. Se se controlar os excessos, através da leis, tudo me parece bem e perfeito.
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Rb

muja disse...

Mais a mais, matematicamente o 'fraccionamento' não é ilimitado. Por exemplo, para o caso que atrás ilustrei (80% do dinheiro parado) existe a possibilidade teórica máxima de o fraccionar nove vezes.

Pois. Teórico.

Mas teorias há muitas.
Além do mais, isso vem do tempo do padrão-ouro.

Hoje, que o dinheiro está indexado simplesmente à dívida - em última análise à dívida do Estado americano à FED, já que as outras moedas estão indexadas ao dólar; quem garante que é essa a razão certa, e não 15, 20 ou 3, 2 ou 1,5?

O problema das reservas fraccionárias é muito simples, e não é (apenas, nem sobretudo) a "fraude" que é criar dinheiro do "nada".

A inflação surge quando há mais dinheiro que valor. Sem o dinheiro estar indexado a nada, como é que se sabe quando se está a criar mais dinheiro que o necessário e, portanto, a criar inflação? E isto sem sequer ter em consideração as más práticas dos bancos, quer na concessão de créditos, quer na aplicação de dinheiro a curto prazo em aplicações a longo prazo.

A inflação é pilhagem em larga escala. Beneficia os verdadeiramente ricos, cujas posses são maioritariamente coisas valiosas e prejudica os pequenos aforradores, que normalmente têm as suas poupanças em dinheiro.

O espantoso é os EUA não estarem ainda afundados numa inflação catastrófica - dada a quantidade absurda de dinheiro criado, visível pela igualmente absurda dívida americana e pela desvalorização a pique desde o fim dos acordos de Bretton Woods (ou mais ainda desde a desvalorização de Roosevelt em 1934).
Alheios a isso não hão-de ser a crise do subprime e derivados - que absorveram muita dessa liquidez, e do que se começa a chamar a 2a bolha de Silicon Valley com investimentos (da ordem das dezenas e centenas de milhões de dólares) e compras de empresas que nem lucro dão - absolutamente estapafúrdios.

muja disse...

E é uma estupidez colocar esta questão em termos de capitalismo vs. não-capitalismo. É mais maniqueísmo de quem não percebe nada e só quer é tribo e participar em conflitos tribais.

O "capitalismo" de hoje é muito diferente do de há 20, 40 ou 80 anos.
Ou melhor, os princípios básicos e sãos das políticas monetárias são os mesmos. O que mudou foi a capacidade que os estados têm de os aplicar.

E isso, é certo e sabido que se deve à influência da finança internacional. E nenhuma outra história demonstra isso tão clara e pungentemente como a dos Estado Unidos da América.

Aliás, capitalismo é, em si mesmo e desde logo, uma noção que não serve para nada. Está para o socialismo apenas como a direita está para esquerda.

Significa tudo e o seu contrário.

Anónimo disse...

Matematicamente é matematicamente. Não tem variações. O máximo possivel para o caso apresentado é de 9 vezes. Huerta de Soto explica isto muito bem.

«Sem o dinheiro estar indexado a nada, como é que se sabe quando se está a criar mais dinheiro que o necessário...»
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A Inflação não diz nada. O que me diz alguma coisa é se há aumento de preços ou não.
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A Inflação tem a ver com a massa monetária, os Preços tem a ver com a procura e com a oferta. Em situações normais pode haver correlação entre um e outro.
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O mesmo é dizer que pode ser emitido muito dinheiro e termos um Indice de Preços (IPC) baixo como nos EUA. Se a massa emitida não chegar ao pessoal não gera aumentos de preços. Armadilha de Liquidez.
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Mas em principio, em situações de mercado normais, a emissão de dinheiro gera aumentos de Preços. Precisamente porque o pessoal tem mais dinheiro e a procura de bens e serviços aumenta. Este movimento pode ser contrariado de diversas formas, desde logo aumentando as taxas de juro.
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Uma inflação moderada é bom e aconselhavel. Ninguém investe se percepcionar que os preços dos produtos que vão vender podem ter que baixar de preço. Fica-se num imobilismo que estamos precisamente a presenciar na Europa. É bom de ver, eu não compro um imovel se tiver a sensação de que amanha ele vale menos. O mesmo se aplica a qualquer outro produto.
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Rb

muja disse...

Pá, Rb não complique.

Inflação é pilhagem.

Não sou só eu que o digo. Uma data de presidentes americanos - que por acaso acabaram mortos antes de terminarem os mandatos - o disseram.

Banqueiros, filósofos, etc.

Inflação é pilhagem. É roubo.
Há inflação - aumento de preços - sempre que há mais dinheiro do que valor. Também há por outras razões, mas esta é a que importa porque é a que é altamente nociva e perigosa.

Essas razões que V. refere nunca dão origem a inflações descontroladas. Por isso não interessam nada nem é sequer útil misturá-las.
Por acaso, estou a acabar de ler um livro do Hjalmar Schacht. Se não sabe quem ele é, vá saber. Mas de inflação percebe ele.

Desde os mercantilistas que se sabe que a causa da inflação é excesso de dinheiro. E há excesso de dinheiro.

E o seu matematicamente não é nada. É matemático apenas na medida é que é uma fracção. Mas o valor que ela traduz é tão arbitrário como outro qualquer. Foi a razão que os banqueiros determinaram que lhe permitia enriquecer o máximo com o mínimo risco de se lixarem - mas é o risco do ponto de vista deles que é necessariamente o melhor para o interesse geral de todos. E ainda assim essa razão foi várias vezes abusada para 10, 11 e mais vezes.
E volto a dizer: isso valia no padrão ouro. As coisas mudaram substancialmente entretanto.

muja disse...

*mas é o risco do ponto de vista deles, que *não* é necessariamente o melhor para o interesse geral de todos.

Anónimo disse...

Oh Muja, não é complicação alguma.
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Quando fala em Inflação não baliza a coisa. A inflação pode ir de 1% até ao infinito.
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É bom ter um bocado de inflação para resolver questões pontuais da economia por causa da desvalorização da moeda. A alternativa a este 'roubo' é abduzir rendimento às familias (corte salários, reformas, impostos etc). As duas formas imprimem competitividade à economia face ao exterior, mas recorrendo a alguma inflação a coisa passa sem grandes problemas.
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Rb

Anónimo disse...

Com uma grande vantagem, uma inflação moderada e res+pectiva desvalrização da moeda convoca maior produção nacional e menos consumos de importações. Melhora as exportações e as receitas com o turismo disparam.
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Qdo ler alguém desconte-lhe a nacionalidade de residencia porque é comum defenderem coisas úteis para os países deles que é a realidade que melhor conhecem.
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Rb

muja disse...

Pronto ó Rb, fique na sua.

Fica a referência para quem quiser aprofundar e é isso que interessa.


Carlos Duarte disse...

O problema, e um pouco na senda do CN, é que os depósitos não são depósitos, são empréstimos (no caso das contas à ordem, de muito curto prazo infinitamente renovados). E como todos os empréstimos, à o risco do devedor não pagar.

Deveriam poder existir depósitos "risco zero"? Não vejo porque não. Mas essas contas teriam sempre custos associados (a cobrar ao depositante) porque os bancos não conseguiam rentabilizar o dinheiro que lhes é confiado. Mas pode ser uma boa "tarefa" (por assim dizer) para a CGD.

Carlos Duarte disse...

Perdão, HÁ o risco... estou a precisar de café e muito!