12 julho 2014

o vestido da rainha

"Catolicismo é realismo", dizia-me recentemente um Bispo da Igreja Católica depois de conversar longamente comigo. A observação não constituía novidade para mim. Catolicismo é, na realidade, em primeiro lugar, realismo, é conhecer-se a si próprio e aos outros, é conhecer o mundo antes de o procurar mudar.

Ora, não falta quem queira mudar o mundo - e Portugal, em particular - sem primeiro o conhecer. Eu continuo a pensar que o liberalismo é o sistema económico mais eficaz para tirar a humanidade da miséria. O maior exemplo está aí mesmo diante dos olhos - os EUA. Quando um dia a humanidade olhar para trás para este século vai concluir que a grande contribuição dos EUA à Civilização foi a de mostrar ao mundo como tirar, em massa, o homem da miséria.

Porém, o liberalismo é fruto de uma cultura calvinista que encontrou a sua melhor expressão nos EUA. E aquilo que é bom nessa cultura não é necessariamente bom noutra cultura. Outro exemplo: a democracia partidária que há uma década os americanos foram levar para o Iraque, em lugar da prometida libertação, aquilo que fez foi destruir o país. Alguém duvida que o regime político de Saddam Hussein era muito mais adequado à cultura iraquiana que o regime de democracia partidária em que os iraquianos vivem agora?

Não existem regimes políticos nem sistemas económicos universais. Aquilo que funciona numa cultura é frequentemente destrutivo da outra. E o liberalismo acaba de destruir mais uma instituição genuinamente portuguesa - o BES. O Banco da tradição portuguesa é um banco familiar, com um nome de família na marca (Borges, Burnay, Totta, Fonsecas, etc.), um banco que tipicamente é pequeno e servindo uma comunidade local, no máximo nacional .  Ponha-se um banco desta cultura a competir  num sistema financeiro liberalizado à escala global e acaba-se com ele. E é assim que o BES está a acabar - o último banco português com um nome de família na marca.

Tivessem os políticos e os intelectuais portugueses (eu incluído, mas só na categoria de intelectual) procurado conhecer-se e si próprios, e aos seus, e muitas das decisões políticas tomadas nas últimas décadas, e que ultimamente nos conduziram à situação  de falência financeira e das instituições, e muitos erros teriam sido evitados. O liberalismo é destrutivo de Portugal. E o socialismo ainda mais.

O liberalismo e o socialismo têm lugar na cultura portuguesa que, sendo uma cultura católica, não exclui nada. Mas não como sistemas exclusivos. Podem ser praticados aqui e ali, neste ou naquele sector, dependendo das circunstância do tempo e do lugar. Mas não podem impor-se de forma total, porque esta cultura não aceita nada que se imponha de forma total ou exclusiva, que imponha uma coisa com exclusão de todas as outras.

Questão diferente é a de saber onde é que podemos ir beber a sabedoria que nos faz conhecer a nós próprios e à nossa cultura de portugueses. Penso que é à Igreja Católica. Mais, penso que está lá tudo (como não podia deixar de ser na instituição católica por excelência). Num post anterior, depois de estabelecer que os partidos políticos, sendo instituições da cultura protestante, são fracturantes e, portanto, destrutivos,  na cultura católica, também mostrei como é possível catolicizá-los, torná-los amigos da nossa cultura e participantes no bem-comum.  Olhei para o modelo das ordens religiosas dentro a Igreja. Ali está como instituições tão opostas do ponto de vista teológico e filosófico, como, por exemplo, os Jesuítas e o Opus Dei, se tornam irmãs.

Na altura referi que a catolicização dos partidos políticos exigia como condição uma regime político monárquico. É altura de perguntar se a Igreja prefere a Monarquia à República.

Se eu colocar esta questão à hierarquia da Igreja, estou certo que vou obter como resposta, em primeiro lugar, que a Igreja abençoa quer a Monarquia quer a República. Nem podia ser de outro modo. Se existe Monarquia e se existe República no mundo é porque Deus assim quis, e portanto a Igreja não pode deixar de abençoar a ambas. Mas fará a Igreja distinção, estabelecendo uma hierarquia entre Monarquia e República, no sentido de considerar uma mais adequada do que outra para servir o bem comum?

Claro que faz. A própria Igreja se organiza sob a forma de Monarquia - e  de Monarquia Absoluta. E não apenas isso. Através de uma multiplicidade de outros sinais, muitos deles subtis, é claro que a Igreja prefere a Monarquia à República, embora abençoe a ambas.

O sinal mais recente ocorreu na recente vista dos novos Reis de Espanha ao Papa. Segundo o Protocolo da Igreja, ninguém se pode vestir de branco quando visita o Papa. Mas existe uma excepção - na cultura católica existe sempre uma excepção, revelando que, para cada situação, ela tem também sempre um princípio. A excepção é aberta às rainhas católicas, que também se podem vestir de branco.

Desta excepção resultam dois sinais importantes acerca do verdadeiro pensamento da Igreja. A primeira é que a excepção é aberta apenas à mulher (rainha), não ao homem (rei), sinal de que a Igreja defere perante a mulher, considera a mulher mais importante do que o homem. A Igreja Católica, ao contrário das Igrejas protestantes, põe a mulher no pedestal. A própria Igreja é uma figura de Mulher (Maria) e a cultura católica (e portuguesa) é uma cultura feminina.

Depois, a excepção é aberta apenas à mulher do rei, não à mulher do presidente da república, um sinal bem claro da ordem de preferências da Igreja em relação aos dois regimes políticos concorrentes. A Monarquia é o regime político preferido pela Igreja Católica. É também o regime político dos portugueses.



2 comentários:

Anónimo disse...

"E é assim que o BES está a acabar - o último banco português com um nome de família na marca."

Foi esta constatação que o levou a não avançar com o "Banco Arroja"?

MS

Unknown disse...

É o regime preferido dos portugueses? Os republicanos emigraram todos? Ja so ha 50000 portugueses em Portugal?