06 junho 2014

por que não sou conservador


O que é um conservador? Deixem-me testar a mão com um resposta provocatória e divertida:
-       É um libertário que se vendeu ao lobby dos interesses instalados.
:-)
Reparem, os conservadores, tal como os libertários, reconhecem que há ‹‹uma moralidade mínima que proíbe o homicídio, a agressão, o roubo e a mentira›› – Acton, citado por JPC – mas consideram que ‹‹os valores secundários›› são igualmente importantes para a comunidade.
Infelizmente, a consagração desses tais ‹‹valores secundários›› apenas contribui para destruir os chamados valores primários. Pensemos apenas como o “direito à educação” e o “direito à saúde”, por exemplo, destroem o direito à propriedade, à liberdade e, em última instância, o direito à vida.
As sociedades dos ‹‹valores secundários›› são as sociedades dos interesses instalados e a rendição a esses interesses nunca é benévola. Há os que ficam a ganhar e os que ficam a perder, mesmo que os conservadores invoquem a necessidade de manter a tradição, com o mesmo afinco com que um mafioso pretenda manter a sua atividade sob a capa de “business as usual”. Falta a base moral e diria também racional.
Li com interesse o livro Conservadorismo, do João Pereira Coutinho. Aliás, já o passei à minha mulher que o vai apreciar ainda mais do que eu, pelo estilo colorido e até vincadamente feminino do texto, repleto de introduções laudatórias, adjetivos e definições que eu sei que lhe vão agradar. Por exemplo:
‹‹... o conservadorismo encontra refúgio identitário em “forças interiores”, “temperamentos”, “fés”, espíritos”, instintos”, “inclinações” – e, claro, “disposições”››.
Todas as mulheres vão adorar isto, até porque quase todas são conservadoras. Excepto quando pretendem mudar de namorado, ou de marido, altura em que por razões “reativas e posicionais” podem ser o que o novo parceiro quiser, até consolidarem a nova relação e regressarem ao seu “conservadorismo genético”.
Por fim, gostaria de destacar a minha discordância com o autor sobre a “imperfeição intelectual” do Homo Sapiens. Se o conservadorismo assenta nisto, tem pés de barro.
Imperfeito como? E em relação a quê?
Cada ser humano tem todo os recursos necessários para se realizar. Afirmar que o seu intelecto é imperfeito é o mesmo que afirmar que o seu fígado é imperfeito, porque não tolera um litro de cachaça por dia sem penalizar o portador com uma cirrose.
O nosso intelecto é perfeito para os fins para que foi concebido pelo Criador, mas é obviamente mau a desenhar utopias, a regra e esquadro, e ainda pior quando as pretende impor aos nossos semelhantes. Tal utilização não constitui uma imperfeição mas uma perversão – sejamos claros.
Se os conservadores se preocupassem mais com aquilo a que chamam “moralidade mínima” e apenas revelassem prudência na forma de a garantir no futuro, talvez soubessem valorizar mais a razão e o intelecto, sem se submeterem tanto à “ditadura dos mortos” e aos “interesses instalados”.

2 comentários:

zazie disse...

Por que não sou conservador.

R: O motivo é só um: porque não sei escrever.

":OP

Anónimo disse...

Obrigado Zazie

Joaquim