O que é um conservador? Deixem-me testar a mão
com um resposta provocatória e divertida:
-
É um libertário que se vendeu ao
lobby dos interesses instalados.
:-)
Reparem, os conservadores, tal como os
libertários, reconhecem que há ‹‹uma moralidade mínima que proíbe o homicídio,
a agressão, o roubo e a mentira›› – Acton, citado por JPC – mas consideram que
‹‹os valores secundários›› são igualmente importantes para a comunidade.
Infelizmente, a consagração desses tais
‹‹valores secundários›› apenas contribui para destruir os chamados valores
primários. Pensemos apenas como o “direito à educação” e o “direito à saúde”,
por exemplo, destroem o direito à propriedade, à liberdade e, em última
instância, o direito à vida.
As sociedades dos ‹‹valores secundários›› são
as sociedades dos interesses instalados e a rendição a esses interesses nunca é
benévola. Há os que ficam a ganhar e os que ficam a perder, mesmo que os
conservadores invoquem a necessidade de manter a tradição, com o mesmo afinco com
que um mafioso pretenda manter a sua atividade sob a capa de “business as
usual”. Falta a base moral e diria também racional.
Li com interesse o livro Conservadorismo, do
João Pereira Coutinho. Aliás, já o passei à minha mulher que o vai apreciar
ainda mais do que eu, pelo estilo colorido e até vincadamente feminino do
texto, repleto de introduções laudatórias, adjetivos e definições que eu sei
que lhe vão agradar. Por exemplo:
‹‹... o conservadorismo encontra refúgio
identitário em “forças interiores”, “temperamentos”, “fés”, “espíritos”,
instintos”, “inclinações” – e, claro, “disposições”››.
Todas as mulheres vão adorar isto, até porque
quase todas são conservadoras. Excepto quando pretendem mudar de namorado, ou
de marido, altura em que por razões “reativas e posicionais” podem ser o que o
novo parceiro quiser, até consolidarem a nova relação e regressarem ao seu “conservadorismo
genético”.
Por fim, gostaria de destacar a minha
discordância com o autor sobre a “imperfeição intelectual” do Homo Sapiens. Se
o conservadorismo assenta nisto, tem pés de barro.
Imperfeito como? E em relação a quê?
Cada ser humano tem todo os recursos
necessários para se realizar. Afirmar que o seu intelecto é imperfeito é o
mesmo que afirmar que o seu fígado é imperfeito, porque não tolera um litro de
cachaça por dia sem penalizar o portador com uma cirrose.
O nosso intelecto é perfeito para os fins para
que foi concebido pelo Criador, mas é obviamente mau a desenhar utopias, a
regra e esquadro, e ainda pior quando as pretende impor aos nossos semelhantes. Tal utilização
não constitui uma imperfeição mas uma perversão – sejamos claros.
Se os conservadores se preocupassem mais com
aquilo a que chamam “moralidade mínima” e apenas revelassem prudência na forma
de a garantir no futuro, talvez soubessem valorizar mais a razão e o intelecto, sem
se submeterem tanto à “ditadura dos mortos” e aos “interesses
instalados”.
2 comentários:
Por que não sou conservador.
R: O motivo é só um: porque não sei escrever.
":OP
Obrigado Zazie
Joaquim
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