13 janeiro 2014

sejam realistas, peçam o impossível

Lembrei-me desta frase do "Maio de 68" a propósito do Papa Francisco ter pedido aos pais das crianças, que acabara de batizar, para transmitirem ‹‹a fé católica››. ‹‹É a herança mais bela que lhes poderão deixar››, disse.
Atendendo a que alguns dos pais das crianças não eram católicos praticantes, como fica demonstrado por estarem casados apenas pelo civil, parece-me que o Papa estava a pedir o impossível. Será realista?

4 comentários:

m disse...
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zazie disse...

Nesse caso vai ter de descasar meio mundo.

Porque estes fizeram um pedido ao Papa. A maioria nem crente é e casa pela Igreja.

Acho muito bem que o Papa tenha dito isso e os tenha casado como exemplo.

Assim com ainda acho melhor que tenha baptizado uma criança de uma mulher solteira. Sem precisar de ir lá o pai.

O que invalida logo a panasquice de ser necessário baptizar crianças da gayzolas com o "casal".

Anónimo disse...

"não apagará a mecha que ainda fumega..."

OCNI

Pedro Cruz disse...

Em última análise, mesmo um não crente ou alguém passando por uma crise poderia «transmitir» a Fé Católica, ou melhor, uma formação católica tendente ao despertar da fé, já que esta não é uma realidade propriamente contagiosa, como se fosse uma doença provocada por um vírus.
Por outro lado, como a vida e as nossas vidas às vezes não são perfeitas - e o papa é o primeiro a sabê-lo - não há, como todos sabemos, absoluta identidade entre a condição de baptizado e a de católico praticante. Nem sequer a de pai católico (razoavelmente praticante) com a de unido pelo matrimónio. Basta conhecermos os casos de uniões de pessoas divorciadas, que geram filhos. Acolhendo-nos a todos com as nossas imperfeições, sem necessariamente pactuar com elas, a Igreja encara a realidade de frente e confia em nós - às vezes -, para que independentemente delas (ou superando-as), façamos o melhor possível. Quando alguém pede o baptismo para um bebé é porque na realidade há uma criança concreta e haverá alguém concreto disposto a exercer esse acto de vontade livre e a assumir (temporariamente) as responsabilidades por essa escolha, i.e., a proporcionar uma educação cristã à criança. Num mundo perfeito - ou numa Igreja legalista - poderíamos olhar para as condições em que a criança nasceu e vive. Ou então poderemos olhar para a criança e até para os seus familiares, cujas opções, de resto, não podem nem devem condicionar a vida e o estado da criança. Acresce que, dentro da lógica do ensinamento cristão, o Espírito Santo tem um papel essencial a desempenhar no Baptismo e na pessoa baptizada. Maior, até, do que o dos pais e/ou dos padrinhos. O papa escolheu - e muito bem - ir ao encontro das pessoas e não tanto da aplicação abstracta de uma putativa norma, extraída da aparente coerência de um edifício lógico imperturbável.
De resto, ignorante me confesso, nem sequer estou a ver a lógica de uma regra que impeça o baptismo de uma criança pelo facto dos seus pais serem ou deixarem de ser isto ou aquilo. É a criança que é baptizada. Se tiverem o poder paternal, aos pais cabe, pelo menos autorizar o sacramento, mas (se consentido) o compromisso da educação e do testemunho pode ser assumido por outra pessoa. Portanto, o título do postal é bonito, mas o papa, embora esteja a ser realista, a meu ver não está a pedir nada de impossível.