29 dezembro 2013

dá coragem

"my mother gave birth to twins: myself and fear."

Esta é uma frase do Thomas Hobbes sobre um assunto que já aqui aflorei, e ao qual volto agora.

Ocorreu-me a certa altura que os homens que intelectualmente criaram a modernidade eram homens medrosos, homens tímidos,  como o Hobbes, que o Hobbes defendia aquele Estado grandalhão e todo-poderoso  - o Leviathan - para se proteger dos outros, ele tinha um enorme medo dos outros.

Os criadores da modernidade eram pessoas que tinham medo das outras pessoas.

E foi assim, embalado por esta ideia, que fui à procura do medo em outros nomes grandes da filosofia moderna. O Hobbes admitia-o com todas as letras. Decidi começar por onde devia, o Descartes, depois fui ao Locke, passei pelo Kant, vi também o Hegel e o Nietzsche, sobre o Adam Smith eu já sabia que era um homem muito tímido. Vi também o Rousseau. O David Hume vivia aterrorizado por aquilo que os outros pensavam dele. E fui ao primeiro de todos, Lutero, esse tinha até medo de Deus, o que significa ter medo do mundo e, em primeiro lugar, das pessoas que nele habitam porque é nelas que está Deus, em primeiro lugar.

Havia excepções, claro. Por exemplo, o Marx não me parecia particularmente tímido.

Depois fui procurar a razão para a timidez destes homens. Aquilo que havia de comum entre eles - à excepção do hesitante e medroso Descartes - é que todos tinham renegado a Igreja Católica, que é uma figura de Mulher - a Virgem Maria.

Faltava-lhes Mulher.

E não apenas a Virgem Maria. Na maior parte dos casos, faltava-lhes mesmo mulher de carne e osso.

Um homem sem mulher é, em geral, um medroso, um tímido.

É a mulher que dá coragem ao homem.

Ao mesmo tempo que a reforma protestante e a modernidade despontavam no horizonte, e com elas a cultura do medo,  os portugueses eram intrépidos navegadores e missionários  - intrépidos,  uma palavra que significa não ter medo de nada. E eles não tinham medo de nada não apenas pela sua extrema devoção à Igreja Católica e, por consequência, à figura de Maria, mas também porque eram governados, não tanto por um Príncipe Perfeito, que nem sequer viveu muitos anos, mas sobretudo por uma Princesa Perfeitíssima. Esta mulher não brincava em serviço.

3 comentários:

Anónimo disse...

Quando fala em mulher, fala no sentido de esposa ou no de mãe? Smith tinha uma relação próxima com a mãe, se não me falha a mem´roa.

Anónimo disse...

Fala da mãe, claro, Não passa de um bebé chorão, Desses que acham que as mulheres nõa passam de babysitters,

Pedro Sá disse...

PA fale lá por si, felizmente a grande maioria dos homens não precisa de mulher nenhuma para ter coragem. Nem a grande maioria das mulheres precisa de algum homem para ter coragem também.