16 setembro 2013

de tudo

A condição sine qua non para a nossa sobrevivência não é nada a razão, como pretendem a Ayn Rand e o Leonard Peikoff, mas o amor. Não basta que nos encontremos cá fora do ventre materno para termos a sobrevivência assegurada. É necessário uma pessoa, pelo menos, e frequentemente muitas, que nos aceite, que diga um Sim à nossa existência e proveja à nossa sobrevivência. E tudo isto muito antes de a faculdade da razão destar desenvolvida.

A razão primária é a razão da mãe e, portanto, é uma razão feminina,é a capacidade de julgar orientada para resolver o problema essencial da nossa sobrevivência. É uma razão que está ancorada no amor.

Aquilo que a modernidade fez, com o advento do protestantismo, foi desancorar a razão do amor, torná-la independente. A razão moderna deixa de ser parcial e orientada para o bem para se tornar imparcial. Deixa de ser uma faculdade do espírito para passar a ser uma faculdade do intelecto, deixa de ser sentida para passar a ser arguida e demonstrada.

A crítica passa a ser uma das actividades principais da razão, e é esse também o título das principais obras do Kant. A razão passa a ser independente do amor, do bem, de Deus. Não se pode chegar a Deus pela razão - decreta o Kant.

Do que é capaz esta razão independente? De tudo, incluindo os maiores erros e irracionalidades. E neste ponto volto ao Leonard Peikoff e à sua afirmação de que o homem se faz a si próprio, a que me referi num post anterior. Faz?

Fisicamente, todos sabem que o Peikoff não se fez a si próprio - foram os seus pais que o fizeram. E intelectualmente, o Peikoff fez-se a si próprio? Este homem que dedicou a sua vida a divulgar as ideias da Ayn Rand foi feito, deste ponto de vista e principalmente, pela própria Ayn Rand.

Como é que um engraçado destes tem a lata de dizer que o homem se faz a si próprio?

Sem comentários: