26 abril 2013

preços não são valor

"Entretanto, a ideia espúria de que valores são mensuráveis e são realmente medidos na condução de transações econômicas estava tão enraizada, que mesmo economistas eminentes foram vítimas dessa falácia. Até mesmo Friedrich von Wieser e Irving Fisher aceitavam como verdadeira a ideia de que deve haver alguma forma de medir o valor e de que a economia deve ser capaz de indicar e explicar o método pelo qual se poderá fazer esta medição.[6] Os economistas de menor envergadura simplesmente supõem que a moeda serve "de medida de valor"." Mises - a Acção Humana
PS: Diga-se que até Marx criou primeiro o espantalho e depois pretendeu refutá-lo. Podemos ver persistentemente ao longo da história do pensamento económico como falácias produzidas mesmo por autores ditos liberais ou próximos contribuíram para o surgimento de movimentos contrários que refutaram (eventualmente com outras falácias ainda mais graves) os primeiros. Marx também foi a Adam Smith e David Ricardo buscar a teoria do valor pelo trabalho. Monetaristas como Irving Fisher e Milton Friedman tentaram conceber a moeda e preços como índices abstractos de cujo único problema é a inflação e mais nenhum outro (daí a sua defesa do banco central, como orgão pretensamente científico que estuda e preserva os "índices") ... o que conduziu a ignorarem a teoria dos ciclos económicos (que incorpora os efeitos não neutrais intra-estrutura de capital entre bens de consumo e de capital e o equilíbrio entre investimento e poupança).

10 comentários:

Luís Lavoura disse...

a teoria do valor pelo trabalho

Essa teoria é adaptada ao mundo mais antigo no qual Smith ou Marx viveram. Nesse mundo, as coisas produzidas tinham uma procura assegurada, o difícil era produzi-las. Por exemplo, um pedaço de carne teria sempre quem o quisesse comer; o difícil era obtê-lo. Da mesma forma, uma enxada teria sempre quem a quisesse utilizar, o difícil era fabricá-la. Num tal mundo, em que a procura está assegurada mas a produção é difícil, o valor das coisas é, de facto, o trabalho que elas dão a produzir.

No mundo mais moderno em que Mises viveu, as coisas já não têm procura assegurada. Os gostos subjetivos tornam-se cada vez mais relevantes, pelo que a teoria do valor subjetivo torna-se relevante.

Tal como em muitas ideias na economia, o que está em causa não é tanto teorias verdadeiras ou falsas como teorias apropriadas para diferentes realidades.

CN disse...

Luís

A valorização da arte existe desde que o homem existe. Não é a prova que a subjectividade é parte inerente ao homem?

zazie disse...

Não.

A arte não existe desde sempre- enquanto objecto de uma prática de academia, museu e galeria.

Quando começa a aparecer entram factores diferentes, como o mercado e manipulação do valor que não é apenas subjectivo.

Já lhe tinha dito, CN, que a Arte é o melhor exemplo do simulacro do mercado e do valor.

zazie disse...

Não havia "arte na pré-história, nem na antiguidade, nem na Idade Média.
Era outra coisa, sem se fazer para se apreciar enquanto "arte".

Quando passou a ser feita para se apreciar enquanto arte, o valor atribuído foi sendo cada vez menos livre, menos pessoal e menos "subjectivo".

CN disse...

Zazie

o relevante é que a subjectividade do valor e a impossibilidade da usa medição é inerente ao homem e a arte é prova disso.

Em termos práticos um objecto com design com "muita arte" é valorizado por cada pessoa independentemente do custo. E isso aplica-se a tudo.

zazie disse...

Não- o objecto só passa a ter visibilidade se for "criado" por outros meios.

Não existe valorização de tudo em estado puro e de forma individual e subjectiva.

O que existe de mais próximo de constância geral de valor são mesmo os metais preciosos.

Agora se o Mises queria dizer que é impossível criar-se uma medida padrão, é outra coisa.

Eu nem entendi o outro texto porque tem conceitos que não domino.

Medir, mede-se- importa é saber em que sentido se está a falar em "medição".

zazie disse...

Os metais precisos não oscilam por modas nem manipulações de mercado, nem supostos mecenas, nem críticos, nem mesmo sociedades.

Sempre se lhes atribuiu um sentido e importância muito grande.

De sentido de esplendor divino da luz na matéria- como o abade de Suger, a propriedades mágicas e únicas que os distinguiam das imitações e por aí fora, até à escassez.

Mas nunca foi questão absolutamente aleatória como pode ser o papel, o padrão escudo, ou euro, ou dólar e nem sequer como o petróleo.

E é devido a esta característica que nunca será moeda de mercado, em podendo servir muito melhor para entesouramento.

Como o morgadinho da cubata explicou em poucas palavras- ou bem que é imposto como obrigatório e único padrão e forma de moeda, ou, em paralelo com papel, só um idiota ia desperdiçar outro, podendo obter em troca, o mesmo, com uma porcaria de tira de papel.

zazie disse...

Um objecto de design pode ser "valorado" de forma diferente por diversas pessoas, no sentido de gostarem mais, ou menos, ou até nada.

mas se tiver uma assinatura de cotação alta de mercado, até alguém que acha que aquilo é merda, só se não puder é que o não compra.

zazie disse...

Portanto, isso de atribuir valor, depende de para que serve.

E existem muitas maneiras de atribuir valor e de subjectivismo em torno delas.

Sendo que o entesouramento e a garantia de troca é sempre tida em conta, a menos que seja questão de afectividade muito pessoal.

zazie disse...

E agora vou ali ao Douglas Gordon e ao seu Phantom, que também tem muita piada ver por onde ele passa e viaja.

Telaviv, sempre Telaviv.