25 abril 2013

valorar no homem é escolher, não medir

Ou seja, a pretensa "lógica" racionalista miseseana na verdade é apenas humana e humanista, basta lembrar que o enfoque é a pessoa, com as suas preferências subjectivas únicas.

Os verdadeiros racionalistas (no sentido de pretender racionalizar as acções do homem) são os construtores de sistemas matemático-empíricos, que depois agregam em variáveis colectivizadas, como se o homem fosse uma colmeia ou formigueiro ou até um bando de robots-biológicos auto-replicáveis.
"Ora, é preciso que se compreenda que valorar significa preferir a a b. Só existe — do ponto de vista do lógico, epistemológico e praxeológico — uma maneira de preferir.
Não há diferença entre essa situação e o fato de um enamorado preferir uma mulher às demais; ou de um homem preferir um amigo a outras pessoas; ou de um colecionador preferir um quadro entre muitos; ou de um consumidor preferir um pão a um pedaço de bolo.
Preferir significa sempre querer ou desejar a mais que b. Da mesma maneira como não existe padrão de medida para a atração sexual, ou para a amizade e simpatia, ou para o prazer estético, também não existe medida de valor das mercadorias. Se alguém troca um quilo de manteiga por uma camisa, o que podemos dizer desta transação é que — no instante da transação e nas circunstâncias específicas daquele instante — esse alguém prefere uma camisa a um quilo de manteiga.
É claro que cada ato de escolha se caracteriza por certa intensidade psíquica de sentimentos. Existem gradações de intensidade no desejo de atingir um determinado objetivo e esta intensidade é que determina o ganho psíquico que a ação bem-sucedida traz no indivíduo que age. Mas as quantidades psíquicas só podem ser sentidas. São inteiramente pessoais, não sendo possível expressar sua intensidade por meios semânticos, nem transmitir informações a seu respeito a outras pessoas.
Não há nenhum método conhecido para calcular uma unidade de valor. Convém recordar que as duas unidades de um mesmo conjunto homogêneo de bens são valoradas diferentemente. O valor atribuído à enésima unidade é menor do que o atribuído à unidade (n - 1)."
Mises em A Acção Humana (http://mises.org.br/EbookChapter.aspx?id=300)

16 comentários:

BLUESMILE disse...

Valorar é Escolher depois de medir.

CN disse...

Não há medição possível.

marina disse...

há aritmética , sim , como diz a Blue : subtrai-se os custos aos benefícios e logo se vê se o resultado é positivo ou negativo :)

BLUESMILE disse...

Mas isso somos nós as mulheres, que somos racionais.

O CN e o PA é só feeling..

;)

Francisco disse...

Resumo da praxeologia:

- A vontade humana é uma lotaria, não correlacionável com mundo externo nem com outros seres humanos.

- A acção humana é uma função determinística da vontade aleatória.

Luís Lavoura disse...

E por cima de todas estas considerações o CN coloca o ouro que, para ele, é um valor universal e imutável.

CN disse...

Luís

O ouro/prata têm valor como meio de troca dada a estabilidade da sua quantidade (e características físicas) e independência da vontade humana.

Francisco:

O ponto fulcral na praxeologia é precisamente que não se mede valor com preços nem quantidades de "utilidades". É a acepção mais humana que qualquer outra escola de economia que pretende a validade de "medições".

Luís Lavoura disse...

O ouro/prata têm valor como meio de troca

Não. Os homens é que decidem usar o ouro e a prata como meios de troca. Trata-se de uma mera convenção. O valor do ouro e da prata são-lhes conferidos por uma decisão humana - não individual mas sim social - de que as pessoas os vão utilizar como meio de troca.

Ao longo da história sociedades humanas utilizaram diversas outras convenções que conferiram valor como meio de troca a outros diversos materiais ou artefatos. Nunca se tratou de valores objetivos, reais, mas sim de convenções.

Por exemplo, sociedades que vivam longe do mar podem decidir usar conchas como moeda de troca. As conchas adquirem assim um valor aparentemente objetivo, mas que na verdade é meramente convencional.

Luís Lavoura disse...

O problema da praxeologia é que, como teoria liberal que é, tem o defeito de todas as outras teorias liberais - só vê o indivíduo e não vê a sociedade. Faz uma conceção (errada) do indivíduo como soberano independente.
Nessa medida, não consegue ver que muitos dos atos e gostos do indivíduo são meras convenções sociais, é o indivíduo a imitar os outros.

CN disse...

LL

Acho que temos de separar as coisas, a praxeologia é a a teoria da acção humana, das propriedades que esta tem. Como tal é uma ciência não normativa que pretende descobrir leis universais (ex: utilidade marginal decrescente, preferências ordinais e não cardinais, a preferência temporal que resulta no juro originário, etc).

Acho que estás a falar dos libertários ou liberais.

O que a praxeologia pode dizer é que Se uma comunidade de pessoas pretenda viver voluntariamente sem moeda, por exemplo, tem a consequência de isto e aquilo [ex: incapacidade de calculo].

CN disse...

"Não. Os homens é que decidem usar o ouro e a prata como meios de troca. Trata-se de uma mera convenção. O valor do ouro e da prata são-lhes conferidos por uma decisão humana - não individual mas sim social - de que as pessoas os vão utilizar como meio de troca."

Sim, isso concordo (tirando a parte "mera convenção"). É a maneira correcta de um "austríaco" colocar a questão.

O que quero dizer é que as características objectivas do ouro e prata favorecem a escolha do ouro/prata como meio de troca.

E ter em conta que restricções várias podem fazer com que as pessoas usem outro meio de troca (num campo de prisioneiros, cigarros) mas isso não quer dizer que "tudo" pode ser. o "tudo" deve ser equacionado se existir liberdade de escolha sem restrições. E o que eu insisto, e que neste caso, as características do ouro/prata favorecem o seu uso como meio de troca.

Luís Lavoura disse...

as características objectivas do ouro e prata favorecem a escolha do ouro/prata como meio de troca

Isso não é bem verdade, porque esses metais dependem de convenções subsidiárias. Tem que se convencionar que se vai aceitar as moedas de um certo cunhador como boas. Ou seja, se o CN me pagar com uma moeda que diz ser de ouro, eu posso não acreditar, posso dizer que não sei quem cunhou essa moeda ou que não tenho confiança nessa entidade. Alternativamente, tem que se convencionar aceitar cartões de crédito, etc, e a companhia ou banco que os emite.

Por exemplo, se o CN quiser comprar ouro para poupança, recorre tipicamente a uma instituição que o compra por si, e confia que essa instituição é honesta, que ela realmente compra ouro de lei.

Ou seja, o ouro e a prata têm duas desvantagens: não são fáceis de avaliar imediatamente, nem de dividir infinitamente em partes mais pequenas (nisso distinguem-se da bitcoin).

Historicamente, as últimas inevstigações têm mostrado que, ao contrário daquilo que um libertário gostaria de acreditar, o surgimento do ouro e da prata como meios de troca está estreitamente associado ao surgimento de Estados poderosos, que começaram a emitir moeda e a obrigar os seus súbditos a aceitá-la e a usá-la como meio de pagamento de impostos. Comunidades "livres" de seres humanos jamais usam ouro e prata como meio de troca. Até porque esses metais são escassos e difíceis de obter numa economia não monetarizada; por exemplo, em meios rurais, podia-se utilizar o ouro como reserva de valor, mas jamais ele seria usado como meio de troca comum - geralmente faziam-se pagamentos em géneros, por exemplo, o meu pai arrendava as suas vinhas em troca de um terço das uvas produzidas por elas em cada ano.

zazie disse...

Já tínhamos avançado nesta cena do ouro e dos metais preciosos com valores intrínsecos que nunca foram absolutamente aleatórios.

Como o CN passa por cima dos obstáculos e volta a repetir tudo como se ninguém lhe tivesse desmontado a questão, à qual nunca respondeu, não merece a pena.

zazie disse...

E, nesta questão o LL até tem razão.

CN disse...

Luís

Em 500 a.c. já existiam dezenas de cunhagem de moeda de ouro e prata, vindos da grécia, itália (etruscos), do que é hoje a turquia e ucrânia.

O seu valor era proporcional ao peso, e só assim se pode compreender que serviam para trocas para locais distantes.

Essa questão da pureza e da possibilidade fraude em que é que relevante para o assunto? não estou a ver. Se a cunhagem oferecia mais ou menos confiança é ago inerente a qualquer troca directa também (confiança dos produtos).

Qual o problema em usar ouro certificado na forma de notas e depósitos (e estas são infinitamente divisíveis)? Fraude? Já tivemos esta discussão, porque é o serviço de depósito e custódia mais sujeito a fraude que outros? Não é, pelo contrário dado a estabilidade/simplicidade do serviço.


"Comunidades "livres" de seres humanos jamais usam ouro e prata como meio de troca. "

Esta acepção que já fizeste várias vezes é completamente errada. Eu diria precisamente o contrário.

"Comunidades livres" escolheriam o ouro/prata com grande grau de certeza.


Outra nota: o ouro e prata não é escasso. O preço acomoda qualquer aumento necessário da sua procura.

BLUESMILE disse...

" as características objectivas do ouro e prata favorecem a escolha do ouro/prata como meio de troca."


Quais características objectivas?