30 agosto 2011

definitivamente

Pronto. Está comprovado. A cultura popular portuguesa é, de facto, uma cultura fantástica, imensamente permissiva e tolerante. Aceita tudo. Não há outra igual.

Eu tinha acabado de escrever um post relatando um caso de discriminação anti-católica praticada por judeus e protestantes. Em seguida lembrei-me do seguinte: agora, vou escrever outro post para ver se os católicos discriminam contra os judeus (este).

Neste post, afirmei que um judeu (cf. aqui) não pode estar à frente da Secretaria de Estado da Cultura de um país de cultura católica, como é Portugal. As reacções foram as que eu esperava. Primeira, praticamente todas discordantes, como é próprio de um povo de cultura católica. Segunda, a maior parte a pôr a mão por baixo do Secretário de Estado da Cultura e sob os mais variados argumentos (resumindo-se, na prática, a que é um tipo simpático: "Coitado do homem, porque é que não havia de poder ser SEC, se os outros também são?". Terceira - esta eu antecipava por experiência passada -, algumas seriam insultuosas, reflectindo o carácter intelectualmente bronco da cultura popular portuguesa, e eu não tive dificuldade em encontrar imediatamente uma que era exemplar a este respeito.

Já expliquei, em vários posts anteriores, a razão de ser dos dois primeiros tipos de reacções. Falta explicar as do terceiro tipo. Um povo de cultura católica, por esta ser uma cultura universal, há-de ter uma grande capacidade para se pôr na pele das pessoas de outras culturas, para chorar as suas dores e sofrimentos, e rejubilar com as suas alegrias. É por isso que em Portugal - um país que praticamente não tem judeus -, perante uma crítica, existem defensores mais acérrimos dos judeus do que em Israel, defensores mais acérrimos dos tanzanianos do que na Tanzânia, defensores mais acérrimos dos australianos do que na Austrália, para não falar em defensores mais acérrimos dos timorenses do que em Timor. (É claro que estes defensores acérrimos são-no apenas pela palavra, nunca arriscando o corpo pelos ofendidos).

Falta acrescentar um pormenor: a história de discriminação anti-católica que eu tinha contado antes, nem sequer foi lembrada. Um povo de cultura católica não tem memória, os factos, os exemplos e a História não contam para nada.

Finalmente, de volta à questão principal: é ou não importante que um Secretário de Estado da Cultura partilhe a cultura do seu país (no caso de Portugal, a cultura católica)?. Já se viu que em Portugal isso não é importante, como não seria em Itália, em Espanha ou em qualquer país católico da América Latina.

Mas noutros países é importante. Por exemplo, experimente sugerir ao governo de Israel para pôr a Secretário de Estado da Cultura um católico. Mas Israel nem sequer é excepção. Faça a mesma sugestão a um governo inglês, dinamarquês ou sueco, e observe a resposta.

Enfim, diferenças de culturas. A cultura católica - a cultura popular, bem entendendido - é definitivamente a mais tolerante e permissiva. Aceita tudo, engole tudo. Um judeu a Secretário de Estado da Cultura em Portugal ... Francamente, só com um pano encharcado ... (em quem o escolheu para o lugar).

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