25 junho 2009

começar de novo


"Aqueles que primeiro ouviram os discípulos de Jesus proclamar a Boa Nova [da sua Ressurreição] ficaram impressionados tanto por aquilo que viam como por aquilo que ouviam. Viram vidas transformadas - homens e mulheres vulgares, excepto no facto de que pareciam ter encontrado o segredo de viver. Emanavam uma tranquilidade, simplicidade e alegria nunca vistas. Aqui estavam pessoas que tinham sucesso numa empresa na qual todos gostariam de ter sucesso - a da própria vida.

Especificamente, duas qualidades pareciam abundar nelas. A primeira era o respeito mútuo. Uma das primeiras observações acerca dos cristão registada por um observador independente foi "Vejam como estes cristãos se amam mutuamente". Como parte deste respeito mútuo, existia uma ausência total de barreiras sociais entre eles; era "uma comunidade de iguais", como escreveu um estudioso do Novo Testamento. Aqui estavam homens e mulheres que não apenas diziam que todos eram iguais aos olhos de Deus, como viviam de acordo com o que diziam. As barreiras convencionais de raça, género, e estatuto não significavam nada para eles, porque em Cristo não havia nem judeu nem gentio, masculino ou feminino, escravo ou homem livre. Em consequencia, a despeito de diferenças nas funções ou posições sociais, a sua união era caracterizada por um sentimento de genuína igualdade."
(Huston Smith, The World´s Religions, S. Francisco: Harper, 1961, pp. 331-332)

Igualdade entre todos e respeito mútuo. Estes foram os valores sociais que, surpreendentemente para os observadores, emergiram logo após a morte e ressurreição de Cristo. São os valores sociais originais do Cristianismo. Volto agora ao meu post anterior e ao texto que nele é citado para verificar se o seu autor - que eu julgo que é representativo da cultura portuguesa - e que, ainda por cima, aparenta ser católico praticante, os cumpre.

Não passa o teste do respeito mútuo porque trata os outros por bacocos e ignorantes. E muito menos o da igualdade entre todos, porque o Irmão Manuel está claramente acima dos bacocos e dos ignorantes como eu que ousamos entrar no seu território, que é o de ler o livro mais vendido e mais lido no mundo e, por isso, de longe o mais popular - a Bíblia. Um dos grandes mistérios da cultura católica - ainda hoje a maior corrente do Cristianismo - é o de saber como é que ela se pôde tornar tão pouco cristã, na realidade, tão profundamente anti-cristã em alguns aspectos.

"Tirei-vos de cima todos os sentimentos de culpa, porque vos perdoei os pecados. Tirei-vos de cima todo o medo, incluindo o medo supremo - o da morte - porque vos mostrei que eu próprio vivi outra vez depois da morte. Tirei-vos de cima o peso do vosso próprio vosso ego, porque eu próprio me despojei do meu. Comecem uma vida nova e limpa, livres de tudo isso". Esta poderia ser interpretada como a mensagem central do Cristianismo, um projecto de vida - a de um novo começo, livre de todos os pesos que paralisam e atrapalham a vida dos homens. Isto não tem nada que ver com o homem constantemente a ser recordado que é um ignorante e um pecador, intimidado, abusado e submisso, a carregar a cruz às costas pela vida fora, que é a mensagem do catolicismo. A verdadeira mensagem do Cristianismo é uma mensagem de libertação, não de abuso e submissão.
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Foi a Igreja Católica que, ao longo de dois mil anos, mais contribuiu para pôr estas ideias no espírito dos portugueses, muito antes da fundação da nacionalidade (S. Paulo, ele próprio, poderá ter pregado no século I no território que é hoje Portugal). Não é crível que seja ela a retirá-las, porque dificilmente se reformará nestes aspectos, e sobretudo porque hoje exerce uma influência muito menor sobre os espíritos. Vão ser necessárias outras soluções, para que a democracia possa vencer em Portugal. Que a democracia é uma instituição cristã parece não restarem dúvidas desde os primeiro cristãos - todos considerando-se iguais e tratando-se com o maior respeito. Que não é uma instituição católica, nem portuguesa, também me parece claro. A razão é que nem o catolicismo nem os portugueses são suficientemente cristãos, excepto, talvez, no nome.

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