10 março 2009

O que é que esconde este homem?


No meu post anterior afirmei que, de acordo com a tradição católica, Deus está no espírito de cada homem, na sua razão. Na realidade é Deus que permite ao homem racionalizar a vida e, assim, manter a civilização de pé. A civilização não seria possível com homens irracionais.
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Antes de passar ao tema deste post - que é o ateísmo - imagino que o leitor português (católico), sempre mais interessado em pessoalizar as questões, do que em seguir um argumento, estará a perguntar-se se eu próprio acredito em Deus. A resposta que tenho para lhe dar é a seguinte: como não acreditar depois de tudo o que escrevi?

O meu tema neste post, porém, é o ateísmo, e o ateísmo do primeiro filósofo que se declarou ateu - David Hume. Expliquei no post anterior que não é válida a maneira como a tradição protestante coloca a questão acerca da existência de Deus. Ela nunca poderá chegar a Deus por essa via; na melhor das hipóteses, chega a um Dedé. Mais, a forma como põe a questão faz pender o veredicto do júri para o lado ateista e, no limite, admite qualquer veredicto, desde o mais vincadamente teista ao mais vincadamente ateista. É o subjectivismo e o relativismo puro, acerca da existência de Deus, como em outras matérias. No limite, a forma protestante de colocar a questão não conduz apenas à rejeição de Deus, conduz à rejeição de tudo, e, por isso, não é surpreendente que o primeiro filósofo niilista - Nietzsche - tenha saído também desta tradição.

O meu primeiro ponto é o seguinte: O que é que caracteriza o ateu? A resposta é óbvia: a de afirmar que não existe nele algo que, na realidade, existe nele - Deus. A característica fundamental do ateu é, portanto, a de ser um homem falso - a de dizer que é uma coisa quando, na realidade, é outra, e exactamente ao contrário. O traço fundamental do do ateu é o de esconder alguma coisa a seu respeito, pois se ele até esconde o Deus que existe nele e lhe ilumina a razão...

Portanto, David Hume, o primeiro filósofo declaradamente ateu, tem de ser um homem falso. Ele esconde alguma coisa, e alguma coisa séria. O seu ateismo radical significa que ele quer passar ao mundo como verdadeira uma ideia que é comprovadamente falsa - a de que Deus não existe. Este homem esconde alguma coisa, e é alguma de muito sério. O que é que será? Será David Hume um ladrão, um homicida, um vigarista? Como é que poderei saber?

A característica predominante do homem falso é ele estar sempre a procurar aparentar aquilo que não é. Ele está constantemente a dar a ideia aos outros que é uma coisa que na realidade não é, a dizer que faz e acontece quando, na realidade, não faz nem acontece nada. As manifestações de aparência são subtis, precisamente para não se tornarem chocantes face à realidade que é exactamente ao contrário, mas são permanentes ao longo da sua vida. O que é que David Hume, ao longo da sua vida pública de filósofo que durou muitos anos, para além do seu ateismo, mais terá querido aparentar de forma recorrente e subtil, mas sempre permanente, e que não tinha correspondência na sua vida real? A resposta é - mulheres.

Eu não conheço nenhum filósofo célebre que seja tão gabarola acerca do seu sucesso com mulheres, como David Hume. E, no entanto, não se conhece uma só que tenha vivido com ele. Dir-se-á que as relações eram do tipo "one night stand" e que Hume resistiu a todas, não se envolvendo com nenhuma. Só um ingénuo pode acreditar nesta hipótese, porque um homem pode resistir a envolver-se com uma mulher, pode resistir à segunda e até à terceira, mas não consegue resistir a todas. Vai haver uma que o apanha. E David Hume nunca foi apanhado.

Olhando a obra de Hume, e estudando a sua filosofia moral, ele foi o filósofo que estabeleceu que a moral não é arbitrada pela razão, mas pelos sentidos. Ele é o primeiro relativista moral moderno. Para ele, a moralidade não se mede pela sua conformidade com a razão, mas pela sua conformidade com os sentidos, e é eminentemente sujectiva: "If you feel good about it, it's moral" ("Se você se sente bem com aquilo que faz, então é moral"). Os sentidos, não a razão, é que são o árbitro da moralidade. E se isto é assim para toda a gente, então há-de ser assim, em primeiro lugar, para o próprio David Hume.

Mas, então, a questão: O que é que existirá na vida de David Hume, que actos, que coisas, que o fazem sentir-se bem e, por isso, ele declara morais, quando, na realidade, vistos à luz da razão, são verdadeiramente imorais? O que é que esconde este homem?

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