24 novembro 2008

porque sou de direita

Qualquer teoria política que se pretenda consequente, ou melhor, que tenha por finalidade conseguir resultados na ordem social, deve partir de pressupostos objectivos e da realidade envolvente. Com o liberalismo, até mesmo com o liberalismo português, as coisas devem ser também assim.

O primeiro esforço a fazer será, portanto, o de tentar compreender porque são as coisas diferentes daquilo que estimaríamos que elas fossem. Certamente que se nos posicionamos política e ideologicamente face ao que se passa num determinado país e numa certa sociedade, é porque estamos em desacordo com o que vemos e aspiraríamos a algo que, no nosso entendimento, poderia ser melhor.

Portugal é um país, desde há muito, com uma clivagem nítida entre esquerda e direita. A esquerda é essencialmente igualitarista, promove o Estado Social, pretende reformas nos costumes, às quais dá o nome singelo de “causas fracturantes”, e é profundamente avessa ao mercado e ao capitalismo, a quem continua a imputar os males do mundo. Por sua vez, a direita, também ela, é defensora do Estado Social, desconfia do mercado, defende a função interventora do estado para corrigir as "deficiências" da liberdade individual, e é conservadora nos costumes e tradicionalmente católica na religião. Em comum, a esquerda e a direita portuguesas são profundamente estatistas.

As razões desta veneração pelo estado, a partir do qual a esquerda e a direita, em Portugal, querem operar todas as transformações políticas, são de vária ordem. Desde o facto do peso do estado ser, em Portugal, desde sempre, muito grande (é bom lembrar que fomos o primeiro estado unitário da Europa), ao facto de sermos uma sociedade débil e economicamente subdesenvolvida e pobre que vê no estado uma garantia para a sua sobrevivência, até à nossa ancestral dependência da cultura política francesa, quase tudo tem vindo secularmente a contribuir para que a direita desconfie do mercado e do laissez-faire, e prefira encostar-se ao estatismo.

Posto isto, porque razão nunca conseguiu o liberalismo penetrar neste caldo de cultura, nem à esquerda, nem à direita, e desfazer o mito do estado e do interesse público? Por uma razão simples: ele apresentou-se, quase sempre, como uma ideologia radicalmente transformadora da nossa sociedade, o que não agradou à direita, que não aprecia (e bem) as rupturas revolucionárias, menos ainda à esquerda, que não está disposta a perder o monopólio da revolução para uma “coisa” com a qual está longe de se identificar. Ou seja, embora lhes possa interessar circunstancialmente, o liberalismo não agrada (e não entra) na esquerda e na direita nacionais. Por culpa inteiramente sua, diga-se.

Desse modo, os liberais portugueses devem, se querem ser influentes, saber situar-se política e ideologicamente, e não assustar quem está eventualmente disposto a escutá-los. Nessa medida, ainda que a designação tenha perdido (e, se calhar, ainda bem) parte substancial do seu significado nos últimos anos, a direita é o lugar apropriodo para o liberalismo. É certo que esta é, cada vez mais, um simples lugar geométrico (provavelmente, foi-o sempre). Mas trata-se, pelo menos, de um ponto de partida. O que poderá ser o ponto de chegada dependerá certamente mais dos liberais do que da direita que temos. Mas não será certamente com voluntarismos e construtivismos ideológicos, menos ainda com “rupturas” existenciais, que a iremos convencer das nossas excelsas qualidades.

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