26 novembro 2008

FED: o maior banco comercial do mundo


A Reserva Federal (FED) norte-americana continua a dar passos extraordinários, muito deles inéditos, na sua tentativa de reiniciar o mercado de crédito. Primeiro, criou um programa com vista à aquisição de papel comercial, para financiar directamente a actividade corrente das maiores empresas norte-americanas. Já esta semana, surgiram notícias de que se prepara para remunerar os bancos devedores que, no mercado interbancário, entreguem Obrigações de Tesouro como colateral de novos empréstimos. E, ontem, anunciou uma nova linha de crédito, avaliada em 800 mil milhões de dólares, cujo objectivo é adquirir os activos hipotecários e a dívida das falidas Fannie Mae e Freddie Mac (600 mil milhões) e, mais surpreendentemente, financiar o crédito ao consumo (200 mil milhões). Na prática, todas estas medidas do FED têm dois objectivos: inundar o mercado de dólares, forçando os agentes financeiros à tentação de os gastarem, e segurar os preços do imobiliário.

Esta táctica monetária agora utilizada pelo FED, conhecida pelo termo "Quantitative Easing", é equivalente à redução da taxa de juro, com uma grande diferença: é aquela que se utiliza quando a taxa de juro já não pode descer muito mais. Recorde-se que a taxa de juro nos Estados Unidos está neste momento em 1%. No passado recente, este tipo de política monetária foi também utilizada no Japão, tendo sido eficaz para conter as perdas nos mercados, mas relativamente ineficaz na resolução dos problemas estruturais da economia. Pelo menos, essa é a opinião do actual governador do Banco do Japão, Masaaki Shirakawa, que à Bloomberg afirmou o seguinte: "the policy was very effective in stabilizing financial markets, while at the same time it had limited impact in resolving Japan's economic stagnation of the time because banks wouldn't lend and companies wouldn't borrow".

De resto, esta situação está agora a decorrer nos Estados Unidos. Nas últimas semanas, o FED expandiu o seu balanço em 1,3 triliões de dólares, com vista a canalizar fundos para o sistema interbancário, de modo a resolver os problemas de liquidez junto dos bancos comerciais e estimular a nova concessão de crédito. Contudo, os bancos estão a reter esse dinheiro. Não no sentido de se apropriarem desses montantes para resolverem eventuais problemas de solvência. Mas sim no sentido de que estão receosos dos acrescidos riscos de incumprimento associados ao novo crédito concedido. Essa prudência é observada nos depósitos que os bancos comerciais detêm junto do FED e que neste momento totalizam mais de 600 mil milhões de dólares. Dinheiro que o FED disponibilizou para novos empréstimos, mas que os bancos têm medo de utilizar. Vai daí o FED decidiu substituir-se aos bancos e tornou-se, ele próprio, um banco comercial. O maior do mundo.

Sem comentários: